domingo, março 27, 2011

Pelo olhar de Carl Dreyer


Um título nem sempre referido com a devida atenção da fase “muda” de Carl Dreyer, Michael (de 1924) tem edição em DVD através do catálogo da Eureka (que apresenta duas transcrições diferentes do filme, com duas bandas sonoras alternativas como opção).

Sem o sentido plástico do assombroso A Paixão de Joana D’Arc (1928), aproximando-se mais dos códigos do teatro e, de certa maneira, podendo ser visto como um antepassado de uma linguagem que ganharia expressão maior no seu último filme, Getrud (1964), Michael é baseado no romance homónimo de Herman Bang (originalmente publicado em 1902) e, mais que uma anterior adaptação ao cinema desse livro (oito anos antes, por Mauritz Stiller), segue respeitosamente a narrativa e perfis psicológicos dos seus protagonistas. De ritmo lento, mas não necessariamente contemplativo, Michael dá conta do relacionamento (nunca explícito, todavia sugerido) entre um “mestre” pintor, de nome Claude Zoret (interpretado por Benjamin Christensen), e Michael (Walter Slezak) que se tornou seu modelo, deu fama aos seus quadros e por quem se apaixonou. A imponente e palaciana casa do “mestre” é cenário para a maioria das sequências de um filme que, apesar dos elegantes cenários, centra a atenção nas figuras e, mais que as suas expressões, nos seus diálogos (naturalmente registados em intertítulos).