domingo, janeiro 30, 2011

"Biutiful": contos da grande metrópole


Há palavras que transportam uma avalancha de sentidos. Biutiful, por exemplo, que serve de título ao mais recente filme do mexicano Alejandro González Iñárritu. Dela se desprende a ironia infantil (aliás, justificada por uma cena do filme) que, mais do que nos remeter para o inglês beautiful, nos instala numa espécie de linguagem universal que todos falamos e a ninguém pertence. Ora, justamente, Biutiful é um filme sobre a pertença: quem sou? Que lugar é este onde arrisco dizer eu?
A personagem interpretada por Javier Bardem surge, assim, como símbolo incauto da vida urbana, de uma só vez gerado e anulado pela imensa metrópole onde o encontramos à deriva. Podemos considerar que, noutros momentos (penso, por exemplo, em Babel, 2006), Iñárritu terá gerido melhor esse equilíbrio instável entre a crueza realista e o apelo simbólico. Em todo o caso, Biutiful é um filme sobre um drama muito contemporâneo: a dificuldade de traçarmos um mapa, geográfico e afectivo, da nossa própria identidade. Em boa verdade, a personagem de Bardem somos todos nós. Isto é, ninguém.