segunda-feira, novembro 29, 2010

Novas edições:
Kanye West,
My Beautiful Dark Twisted Fantasy


Kanye West
"My Beautiful Dark Twisted Fantasy"

Roc-A-Fella / Univrsal
5 / 5

Ainda é cedo para grandes comparações. E fazer opinião sobre tamanho conjunto de acontecimentos em regime de contra-relógio pode ser mesmo injusto para uma eventual visão mais bem sedimentada que o disco possa entretanto vir a definir… Mas siga, que a lógica é assim há anos e escreve-se preferencialmente sobre os discos logo quando são editados. Não se faça excepção. E parece, pelo menos evidente, que não se termina um primeiro contacto com My Beautiful Dark Twisted Fantasy como quando se sal do cinema e diz “é o melhor filme que vi”, repetindo a dose com um outro filme, daí 15 dias… Há já certezas claras, uma delas a de que aqui temos um dos melhores discos que o universo do hip hop nos colocou pela frente nos últimos anos. Adjectivos carregados de entusiasmo não têm faltado para descrever o disco e alguns são mesmo justificados. Trata-se de uma obra de grande fôlego, de alma épica (eventualmente com traços de megalomania, mas bem resolvidos por uma produção bem arrumada). O quinto álbum de Kanye West pode ser o corolário do que a sua obra até aqui havia sugerido. Talvez não seja ainda a obra “total” na acepção wagneriana do termo, mas trata-se de uma visão que transcende códigos de género para assimilar espaços e experiências num todo absolutamente coerente e consequente. O hip hop é aqui como uma estrutura óssea. Suporta o corpo, garante a sua solidez e estrutura os movimentos. Mas há músculo e outros tecidos em volta. Da pop irresistível de All The Lights (onde, depois de uma introdução ao piano com Elton John, encontramos colaborações vocais de Rhianna a Elly Jackson, dos La Roux, passando por Fergie e Alicia Keys), e um ao sinfonismo de alma soul de Dark Fantasy, escutando interessantes fundos texturais em olhares mais próximos das linguagens do hip hop em So Appaled, com pérolas maiores em composições de pura excelência como Runaway, Blame Game ou Lost In The World (com Bon Iver, recuperando neste tema o auto-tune que tanto deu que falar no álbum anterior). E pelo meio há samples de Mike Oldfield, de Manu Dibango, Aphex Twin, os Turtles ou King Crimson… Chega-se ao fim com vontade de regressar ao início e a certeza de se ter escutado um disco que vai ficar na história. Resta saber como a história o recordará. A nós resta-nos saber dar-lhe tempo.