quarta-feira, outubro 27, 2010

Sem corantes nem conservantes


Numa altura em que pelos festivais vai passando já o novo e garrido Potiche, chega às salas portuguesas o mais minimalista O Refúgio (no original Le Refuge), filme de 2009 de François Ozon. O realizador retoma aqui a face mais austera de um registo de crua narrativa familiar que afirmou em Sob A Areia e teve depois continuação em O Tempo Que Resta. O título aponta a uma casa de campo, junto à praia, onde Mousse, a protagonista (interpretada por Isabelle Carré), descansa durante uma gravidez assombrada desde o início. A morte de Louis (Melvil Poupaud), o pai, por overdose e o pedido da sua aristocrática família para que Mousse fizesse um aborto levam-na para longe. A visita de Paul, o irmão (Louis-Ronan Choisy) do seu ex-namorado, e o próprio filho acabando por representar traços de continuidade de uma realidade que parecia irremediavelmente cortada.

Sem corantes nem conservantes, directo e minimalista no contar, sem filtro, de um drama familiar, O Refúgio vive sobretudo da história que conta e da caracterização simples, mas convincente, das personagens. Filmado em tempo recorde (a actriz protagonsita estava na etapa final da sua gravidez), O Refúgio respira um realismo crú e directo e mostra um Ozon pelos vistos refeito do tropeção que fora Ricky (também de 2009 e, de longe, o seu pior filme).


Imagens do trailer de O refúgio.