quinta-feira, setembro 30, 2010

Tony Curtis (1925 - 2010)


Foi um dos símbolos mais populares dos galãs americanos que emergiram, em Hollywood, no começo dos anos 50 — Tony Curtis, de seu nome verdadeiro Bernard Schwartz, faleceu na sua casa, na zona de Las Vegas, contava 85 anos.
Se é verdade que o triunfo de Curtis é inseparável de um look mais ou menos distante e sedutor, não é menos verdade que a sua vasta filmografia está recheada de desafios tão inesperados quanto invulgares. Revelado através de um pequeníssimo papel em Dupla Traição (1949), de Robert Siodmack, a primeira fase da sua carreira — até à nomeação para o Oscar de melhor actor, com Os Audaciosos (1958), de Stanley Kramer — inclui títulos marcantes como Winchester 73 (1950), de Anthony Mann, Isto É Paris (1954), de Richard Quine, e Mentira Maldita (1957), de Alexander Mackendrick. Surgem, depois, dois filmes célebres: a obra-prima da comédia Quanto Mais Quente Melhor (1959), com Marilyn Monroe e Jack Lemmon [cartaz], sob a direcção de Billy Wilder, e Spartacus (1960), um dos marcos da "superprodução" da época, dirigido por Stanley Kubrick.
Curtis soube ser ligeiro e divertido, como em A Grande Corrida à Volta do Mundo (1964), de Blake Edwards, mas também enigmático e inquietante, por exemplo no magnífico O Estrangulador de Boston (1968), de Richard Fleischer. Aquele que é, talvez, o seu derradeiro grande papel ocorreu, ironicamente, num filme sobre as ilusões amargas da idade de ouro de Hollywood: foi em O Grande Magnate (1976), última realização de Elia Kazan, adaptando The Last Tycoon, de F. Scott Fitzgerald.

>>> Obituário no USA Today.

Apoteose de Kissin (+ Lutoslawski)


Evgeny Kissin regressou ao Grande Auditório da Fundação Gulbenkian para um concerto apoteótico [dia 29; repetição dia 30] — com a Orquestra Gulbenkian, dirigida por Lawrence Foster, interpretou o Concerto para Piano nº 2, de Fryderyk Chopin, numa espantosa leitura/recriação/reinvenção das suas mais delicadas nuances emocionais. A versatilidade não basta, de facto, para definir a sua prodigiosa performance — é a todo um labor de decifração íntima da obra que assistimos, deslumbrados.
Em todo o caso, seria redutor secundarizar o enquadramento que o próprio concerto, através das peças a cargo da orquestra, conferiu à obra de Chopin: primeiro, com o exuberante Carnaval Romano, de Hector Berlioz; depois, na segunda parte, com uma obra muito mais rara, o vertiginoso e contrastado Concerto par Orquestra, de Witold Lutoslawski (composto em 1950-54). Acima de tudo, vale a pena sublinhar o cuidado estrutural — se quiserem: o sentido de casting — que podemos detectar, desde já, em concertos desta temporada: se Lutoslawski [foto] estabelecia uma directa rima (polaca) com Chopin, ao mesmo tempo os sons de Berlioz e Lutoslawski surgiam como momentos diversos, mas cúmplices, de uma démarche criativa empenhada em testar os limites clássicos da orquestra — ou, se preferirem, os limites da orquestra clássica.
Dito de outro modo: trata-se não apenas de acumular obras ou referências, mas de criar laços estimulantes de continuidade/ruptura na sua própria escuta.

>>> Sobre Witold Lutoslawski.

Tamara Drewe regressa às origens


Um dos efeitos mais bizarros da catalogação obrigatória do cinema (entenda-se: para efeitos de difusão comercial) é o modo como a sua terminologia pode passar ao lado da especificidade dos filmes. Tamara Drewe, por exemplo. Apresentado e lançado em todo o lado como uma comédia — sobre uma residência rural para escritores, subitamente abalada pelo regresso de Tamara (Gemma Arterton), uma "filha da terra" —, o filme encerra uma visão muito contundente, e também muito amarga, do género humano. Nada, aliás, que seja estranho a outros momentos igualmente exemplares da filmografia de Stephen Frears (basta lembrar Ligações Perigosas ou Estranhos de Passagem, respectivamente de 1988 e 2002).
Claro que Tamara Drewe é uma comédia — aliás, recheada de momentos subtis e cortantes de humor. Acontece que, de Chaplin a Woody Allen, a grande comédia nunca foi essa colecção de disparates que o lugar-comum social resume na fórmula do "para rir". Como se o riso nos colocasse numa zona límpida e sem contradições. Bem pelo contrário: o riso é mesmo algo que nos mergulha nas paisagens mais insólitas em que uma coisa pode ser aquilo que é... e também o seu contrário.
Baseado numa novela gráfica de Posy Simmonds [originalmente publicada no jornal The Guardian], Tamara Drewe reflecte, além do mais, a sábia integração dos valores realistas (essenciais na formação de Frears) num esquema de ficção dominado pela ambígua ligeireza do impulso cómico. É um filme sobre os pequenos incidentes do amor e ódio com que os humanos se envolvem. Quase nada... isto é, quase tudo.

quarta-feira, setembro 29, 2010

Arthur Penn (1922 - 2010)


Realizador de alguns filmes emblemáticos dos anos 60 made in USA — O Milagre de Ann Sullivan (1962), Mickey One (1964), Perseguição Impiedosa (1965), Bonnie e Clyde (1967) e O Restaurante de Alice (1969) —, Arthur Penn faleceu em Manhattan, no dia 28 de Setembro — na véspera, completara 88 anos.
Em poucos meses, desaparecem, assim, duas das personalidades mais importantes para as grandes transformações temáticas e estéticas do cinema americano da década de 60: a primeira foi Dede Allen, figura central na evolução da montagem; aliás, Penn contou com a colaboração de Allen em vários dos seus filmes, incluindo Bonnie e Clyde e O Pequeno Grande Homem (1970).
Ligado ao teatro, Penn foi também um elemento de destaque de toda uma geração (John Frankenheimer, Sydney Pollack, etc.) cuja formação profissional passou por uma idade muito criativa da ficção televisiva. Componente fundamental dessa geração foi o empenho em voltar a assumir os grandes géneros clássicos, discutindo as suas linguagens e bases ideológicas. A sua primeira longa-metragem, The Left Handed Gun/Vício de Matar (1958) é, nesse aspecto, modelar: um western que revê a mitologia clássica de Billy the Kid, injectando-lhe uma subtil dimensão psicanalítica, inseparável da notável composição de Paul Newman, claramente ligada aos valores de representação do Actors Studio. Aliás, o western seria um género a pontuar regularmente a evolução de Penn, através de títulos como o já citado O Pequeno Grande Homem (uma espécie de reconversão delirante e sarcástica da expansão para Oeste, centrada numa multifacetada interpretação de Dustin Hoffman), ou ainda Duelo no Missouri (1976), com Marlon Brando e Jack Nicholson.
A partir do começo da década de 80, o labor de Penn reduz-se e torna-se irregular, incluindo alguns telefilmes. O seu último grande filme — e, por certo, uma das obras-primas americanas sobre os êxtases e ilusões dos anos 60 — surgiu em 1981: chama-se Quatro Amigos e retrata a passagem à idade adulta de quatro jovens, no ambiente de uma pequena cidade industrial, simbólica de toda uma imensa América, interior e desconhecida.

>>> Este é um video do American Film Institute: Arthur Penn explica como Warren Beatty o convenceu a dirigir Bonnie e Clyde e, depois, como veio a encarar a história dos dois bandidos como um reflexo exemplar da história mais geral de uma América em recessão económica.



>>> Obituário no New York Times.
>>> Sobre Arthur Penn, no Senses of Cinema.
>>> Arthur Penn no Harvard Film Archive.

Desassossego — o filme


A imagem e o seu impossível — nós, eu. Ele.
Duas primeiras e didácticas impressões:
Filme do Desassossego, de João Botelho, é uma espantosa viagem através da escrita de Fernando Pessoa/Bernardo Soares, desenhando a paisagem cinematográfica de uma demanda que nunca se aquieta em nenhum símbolo equivocamente universal, em nenhuma linguagem supostamente neutra — aqui, o império da televisão não tem poder.
Filme do Desassossego é também uma aposta, radical e desconcertante, num esquema de difusão assumido pelo próprio realizador e pela sua produtora, Ar de Filmes. Ou como é preciso desafiar os valores dominantes do mercado, fazendo de um filme um acontecimento — filme português, já agora. Começa hoje, no Centro Cultural de Belém.

Televisão do desassossego

ALMADA NEGREIROS
Retrato de Fernando Pessoa
1954

Grande momento de televisão: a conversa entre Eduardo Lourenço e Paula Moura Pinheiro na edição de 19 de Setembro do programa Câmara Clara — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 de Setembro).

Eduardo Lourenço passou pelo programa Câmara Clara (RTP2). Trouxe a sua imensa sageza, não para impor um discurso normativo (afinal de contas, só alguns comentadores de futebol acreditam que os golos são uma questão de “justiça”), mas para partilhar connosco a passagem incessante do saber e do desconhecimento, da transparência que pressentimos e da resistência com que as palavras, apesar delas ou apesar de nós, nos deixam viver esse pressentimento.
Falou-se de Antero de Quental e do horizonte despojado, abandonado por Deus, que na sua obra se desenhou. Falou-se também de Fernando Pessoa, Bernardo Soares e do assombramento do seu Livro do Desassossego. A propósito, referiu-se o Filme do Desassossego, belíssimo objecto de cinema assinado por João Botelho [estreia hoje, dia 29]. Falou-se, enfim, da dor muito viva de ser português e possuir a energia de continuar a questionar o seu imenso labirinto. A propósito, ainda, evocou-se Schönberg e a muito contemporânea Noite Transfigurada.
Falou-se. Que bom poder falar-se em televisão sem colar palavras tontas para produzir um simulacro de originalidade. Paula Moura Pinheiro teve a serenidade necessária e suficiente para compreender que o labor da fala implica a humildade da escuta. Dito de outro modo: falar com alguém nada tem a ver com a agitação, sempre à beira da histeria, com que muitos entrevistadores televisivos apenas conseguem transmitir a ânsia pueril com que tentam escolher o melhor (?) momento para interromper o entrevistado. Será outra questão (sendo a mesma), mas importa deixar uma dúvida amarga: porque será que as televisões, afundadas em “debates”, raras vezes conseguem transmitir este gosto radical pela fala que circula e produz sentidos?
A lição, ética e televisiva, de Eduardo Lourenço [foto] passa pela recusa de qualquer efeito de “especialização”. A autoridade do seu discurso não provém de nenhuma ditadura do sentido (“o resultado foi justo ou injusto?”), ancorada num qualquer discurso de “especialista”. É uma autoridade que decorre da simples disponibilidade de pensar. No que isso implica de solidão. E também na partilha que pode gerar. Foi um desassossego.

terça-feira, setembro 28, 2010

Gloria Stuart (1910 - 2010)


Foi a velha senhora de Titanic (1997), interpretando as cenas de evocação da personagem de Rose (Kate Winslet no resto do filme). Conseguiu uma nomeação para o Oscar de melhor actriz secundária e também uma fama que, de facto, nunca tivera ao longo de uma carreira de mais de seis décadas — Gloria Stuart, de seu nome verdadeiro Gloria Frances Stewart, faleceu no dia 26 de Setembro, na sua casa, em Los Angeles, contava 100 anos.
Figura emblemática da vaga feminina de Hollywood no arranque do cinema sonoro, teve o seu primeiro papel de destaque como namorada de Claude Rains, em O Homem Invisível (1933), de James Whale [pequeno clip em baixo]. Passou pelo musical, por exemplo em Gold Diggers of 1935 (1935), de Busby Berkeley, pelo drama em O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões (1936), de John Ford, ou ainda pela aventura em Os Três Mosqueteiros (1939), de Alan Dwan.
Empenhada na defesa dos direitos dos actores, foi, em 1933, uma das fundadoras do Screen Actors Guild. No final dos anos 40, a sua carreira parecia ter chegado ao fim. Esteve, de facto, várias décadas sem filmar, regressando em 1982, em O Meu Ano Favorito, contracenando com Peter O'Toole, sob a direcção de Richard Benjamin. Os seus dois filmes finais foram dirigidos por Wim Wenders: The Million Dollar Hotel (2000) e Terra da Abundância (2004).

>>> Obituário no Los Angeles Times.

segunda-feira, setembro 27, 2010

A cinefilia de Manuel Cintra Ferreira

Programador da Cinemateca Portuguesa e crítico de cinema, Manuel Cintra Ferreira é o patrono de um invulgar e sedutor ciclo de clássicos (na Cinemateca, a partir do dia 1) — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 de Setembro).

Manuel Cintra Ferreira [foto à esquerda], o mais antigo programador em actividade da Cinemateca Portuguesa (crítico do semanário Expresso), acaba de ter um singular gesto de amor pela casa em que trabalha: ofereceu, para a respectiva colecção, duas cópias de dois dos seus filmes de eleição. São eles The Searchers/A Desaparecida (1956), de John Ford, e The Thief of Bagdad/O Ladrão de Bagdad (1940), de Michael Powell, Ludwig Berger e Tim Whelan.
Retribuindo o gesto, a Cinemateca apresenta as novas cópias num pequeno ciclo a que deu o nome sugestivo de “Presentes de Manuel Cintra Ferreira” (primeira sessão com o filme de Ford, 1 de Outubro, 19h00). Nele se darão a ver mais nove filmes que podem resumir a relação pessoal de Cintra com a história e a mitologia do cinema. Entre os eleitos, vale a pena destacar uma raridade de Budd Boetticher (The Bullfighter and the Lady/Homens na Arena, 1951) e um clássico de Totò (Guardie e Ladri/Policia e Ladrão, 1951).
Numa altura em que a especificidade da crítica de cinema se encontra tão menosprezada (na blogosfera, nascem críticos como cogumelos e o insulto impera como “prova de verdade”), vale a pena manifestar uma cumplicidade militante com a cinefilia de Cintra Ferreira. Não por mero gosto da homenagem. Nem apenas porque recordo com prazer os trabalhos em que colaborámos, nos anos 80/90, no Expresso. Muito menos por qualquer coincidência universal de visões, leituras ou interpretações: conhecemos bem esse preconceito estúpido que define “a crítica” como um bando de intelectuais que se rege por um discurso único e unívoco.
Trata-se apenas de enaltecer a dimensão mais genuína dessa cinefilia: não a de “adorar” o cinema como uma colecção de efeitos especiais fabricados para produzir clips televisivos mais ou menos vistosos, mas sim de ver (e viver) os filmes como uma paisagem inerente à própria condição humana.
Na mitologia pessoal do Cintra, um filme como A Desaparecida corresponde, creio eu, a uma espécie de cristalização mágica das componentes dessa paisagem. O seu humanismo afigura-se tanto mais importante quanto a ideologia televisiva trabalha todos os dias para que o desprezemos. Vivemos, aliás, num tempo em que se tenta discutir a questão da “identidade” através de filmes com personagens e situações que se reduzem a cromos televisivos (em sentido literal ou irónico).
O que encontramos no cinema de Ford [foto à direita], tal como em Boetticher ou Totò (Raoul Walsh ou Jacques Tourneur, para citarmos mais dois autores representados no ciclo), é essa intensidade única de algo que circula pelos corpos e pelas imagens, celebrando a pluralidade infinita do factor humano. Raízes de tudo isso? As mais prosaicas. Vale a pena lembrar o que John Ford disse quando, tentando indagar das suas motivações ideológicas, alguém lhe perguntou como chegara a Hollywood. Respondeu ele: “De comboio”.

Camané: o fado, aqui e agora


Para onde vai o fado?
Segue uma via de infinitas variações sobre a tradição, em particular no que ela implica de protagonismo técnico e narrativo da voz?
Ou diverge para caminhos em que se transfiguram as hierarquias, também elas tradicionais, entre voz e instrumentos, conferindo um peso diferente às guitarras e, em particular, ao baixo?
* * * * *
São interrogações que continuam a encontrar em Camané um incontornável actor — a sua voz constitui, por certo, um dos tesouros dramáticos da música portuguesa contemporânea. O novo álbum de Camané, Do Amor e dos Dias [que se pode ouvir no seu site oficial], aí está para nos embrenharmos no paradoxal labirinto do fado, aqui e agora. Este é o teledisco, ironicamente pop, jogando habilmente com a animação, de A Guerra das Rosas.

Filme argentino vence Queer Lisboa

Esta é uma imagem do filme argentino, coproduzido com Espanha e França, O Último Verão de Boyita, de Julia Solomonoff, vencedor da 14ª edição do Queer Lisboa. Já com lançamento assegurado nas salas portuguesas, a cargo da distribuidora Bosque Secreto, o filme foi ainda distinguido com o prémio de melhor interpretação feminina, atribuído conjuntamente ao seu trio de actrizes, Guadalupe Alonso, Mirella Pascoal e Nicolas Treise — palmarés completo no site oficial do Queer Lisboa.

Susan, 25 anos

... e já passou um quarto de século. Na dinâmica da década de 80, Desesperadamente Procurando Susana, de Susan Seidelman, ficou como um filme carregado de simbolismo: o seu retrato de uma Nova Iorque a tentar superar a crise financeira (hélas!, dos anos 70) cruzava-se com a emergência de um novo look feminino, exemplarmente condensado nos contrastes das personagens assumidas por Madonna e Rosanna Arquette.
A súbita transformação de Madonna numa estrela planetária — com o álbum Like a Virgin (lançado em Novembro de 1984, durante a rodagem do filme) — fez com que, muitas vezes, Desesperadamente Procurando Susana fosse confundido com uma peça instrumental de uma banal "estratégia" de carreira. Para além de passar ao lado da notável composição de Madonna (o filme é, aliás, uma peça exemplar de unidade e consistência interpretativa), tal ponto de vista menoriza o trabalho de Seidelman no interior de um cinema americano, aliás novaiorquino, que voltava a apostar num romanesco enraizado na peculiar energia das ruas e dos cenários realistas.
É isso mesmo que a realizadora recorda numa magnífica entrevista a Dave Itzkoff, do New York Times, assinalando os primeiros 25 anos de Desesperadamente Procurando Susana; tudo aconteceu, afinal, como ela diz, antes de Madonna ser "Madonna" — o título: 'Once more into the groove'.

domingo, setembro 26, 2010

Catherine Walker (1945 - 2010)


Figura central na história da moda britânica, sobretudo nas décadas de 1980/90, Catherine Walker faleceu no dia 23 de Setembro, aos 65 anos, vitimada por cancro do pulmão. De origem francesa, estudou filosofia, acabando por ser uma designer de moda autodidacta — escolheu essa carreira quando ficou viúva, aos 31 anos, com duas filhas. Abriu a sua loja em 1977, na Sydney Street, em Londres. Muito da sua popularidade ficou a dever-se ao facto de, em 1981, a Princesa Diana (1961-1997) a ter escolhido como uma das principais criadoras do seu guarda-roupa. Figura sempre discreta nos rituais públicos, senhora de um estilo sóbrio e clássico, especializada em vestidos de noiva, Walker apresentava habitualmente duas colecções por ano — no seu site oficial [de onde são retiradas as imagens], podemos encontrar uma galeria de exemplos do seu trabalho.


>>> Obituário em The Guardian.

Former Ghosts: neo-romantismo


Podemos repetir a velha máxima poética da sensação que se estranha e, depois, se entranha: os Former Ghosts movem-se em terrenos de assombrada intimidade — há quem já tenha citado os Joy Division e, em boa verdade, a evocação está longe de chocar —, criando canções de um renovado e insólito "romantismo electrónico" que não receia surgir, incauto e transparente, fora de qualquer calendário de tendências ou modas.
Resultam da colaboração de três especialistas vindos de outros projectos: Freddy Rubert (This Song Is a Mess But So Am I), compositor da maior parte dos temas, Jamie Stewart (Xiu Xiu) e Nika Roza (que se apresenta em palco como Zola Jesus). Depois de Fleurs (2009), anunciam um segundo álbum, New Love, para Novembro. Vale a pena descobri-los no respectivo site oficial, no  MySpace, na página da editora londrina Upset the Rhythm, ou ainda no blog de Freddy Rupert. Este é o magnífico teledisco, neo-feminista (?), do tema New Orleans — foi uma estreia do Pitchfork.


Da história à ficção "telenovelesca"


A memória histórica reduzida ao pitoresco da "reconstituição"; a simplificação moralista dos conflitos dramáticos; enfim, um "naturalismo" alheado de qualquer discussão sobre a especificidade cinematográfica. Dito de outro modo: Assalto ao Santo Maria é um filme que confirma que a linguagem de algum cinema vive dominada pelos mais banais valores televisivos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 de Setembro), com o título 'O cinema rendido à televisão'.

Ciclicamente, algum cinema português reflecte as mais pueris ilusões de grandiosidade. Não falo de ousadia temática ou risco estético. Falo apenas da mais dramática ausência de pragmatismo de produção. Ou seja: da ilusão de visar um modelo de espectáculo para o qual, independentemente da dedicação e do talento dos envolvidos, não se possuem meios materiais adequados.
Infelizmente, Assalto ao Santa Maria, de Francisco Manso, é mais um exemplo de tais ilusões: trata-se de evocar a “Operação Dulcineia”, liderada por Henrique Galvão, tentando “reconstituir” o desvio do paquete Santa Maria com meios de uma pequenez confrangedora, para mais limitados por uma visão da história e dos seus protagonistas que nunca se liberta das convenções mais banais do mais banal dos telefilmes.
É bem verdade que a história do cinema ensina que não existe nenhuma proporção directa entre a dimensão dos meios e a excelência dos resultados. Afinal de contas, a apocalíptica cena de batalha do genial Badaladas da Meia-Noite (1965), de Orson Welles, terá sido rodada com menos de duas dezenas de cavalos... Resta saber se basta evocar o salazarismo como um jogo de marionetas entre revolucionários “puros” e reaccionários “impuros”. E também se a injecção de um romance “telenovelesco” é uma boa estratégia de ficção para lidar com a complexidade da nossa história política e militar.
Há em Assalto ao Santa Maria a evidente boa vontade de querer revalorizar a nossa memória colectiva. Mas como garantir tal projecto sem um ponto de vista consistente e, acima de tudo, aplicando o cinema como uma derivação passiva da mais rudimentar televisão?

sábado, setembro 25, 2010

Raúl Ruiz premiado em San Sebastian

Produção portuguesa de Paulo Branco, Mistérios de Lisboa valeu ao seu realizador, o chileno Raúl Ruiz [foto], uma Concha de Prata (melhor realização) na 58ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebastian. A Concha de Ouro (melhor filme) do certame foi para o título britânico Neds, de Peter Mullan.
Magnífica transposição da prosa de Camilo Castelo Branco, jogando de forma irónica e perversa com o conceito de folhetim (duração total superior a 4 horas), Mistérios de Lisboa inicia, assim, aquela que poderá ser uma carreira importante no circuito internacional dos festivais — a estreia nas salas portuguesas está marcada para 21 de Outubro.

>>> Site oficial de Misérios de Lisboa.

Betty Boo, 1990


Chamou atenções numa parceria com os Beatmasters em finais dos oitentas. Mas teve nos singles extraídos do seu álbum de estreia, Boomania (1990) os seus momentos mais bem sucedidos. Recordamos hoje precisamente um dos singles do álbum que então nos apresentava Betty Boo. Where Are You Baby foi o segundo single extraído do álbum Boomania e, há precisamente 20 anos, dava que falar. Aqui fica o teledisco, com tempero sci-fi vintage.

O teledisco pode ser visto aqui.

Queer Lisboa 14, dia 9


O Queer Lisboa 14 apresenta hoje, como filme de encerramento, a longa-metragem argentina Plan B, de Marco Berger. O filme passa na Sala 1 do Cinema São Jorge depois da Gala de Encerramento, que tem lugar pelas 21.00 horas.


À tarde, a secção Queer Pop apresenta uma sessão integralmente preenchida por telediscos de Lady Gaga. Trata-se de um panorama que propõe um olhar quase integral pela sua videografia, pela qual passam já nomes de realizadores como Jonas Akerlund ou Steve Klein. É às 18.00 na Sala 2, com entrada livre (mediante disponibilidade de lugares na sala).

A programação completa para o dia de hoje no festival pode ser consultada aqui.

Quatro minutos

Discografia Kraftwerk - 6
'Autobahn' (single), 1974


Apresentada na sua versão original no álbum editado em 1974, Autobahn revelava-se como uma composição que, estendendo-se por 22 minutos, sugeria uma abordagem diferente da ideia de canção. Celebração de uma ideia de identidade alemã através da evocação da sua rede de auto-estradas, Autobahn aquiriu rapidamente um estatuto de peça visionária. Porém, foi a versão edidada a apenas quatro minutos que, editada em single, lhes deu o seu primeiro êxito global e assim levou o nome do grupo a uma mais vasta plateia de ouvintes. O single retomava a linguagem da capa do álbum, esprteitando todavia a auto-estrada do interior de um automóvel e acrescentando uma discreta imagem dos músicos. No lado B era incluído o tema Morgenspaziergang. O single atingiu o nº 9 na Alemanha, o 11º lugar no Reino Unido e o 25º nos EUA.

sexta-feira, setembro 24, 2010

Notícias de Manila


É um filme que se descobre quase como um relatório noticioso sobre o labirinto dos bairros mais pobres da cidade de Manila: Lola [blog francês] filma o confronto dramático de duas avós unidas/separadas pelo crime do neto de uma delas (que matou o neto da outra). Superando alguma retórica dramática de outros dos seus filmes, incluindo Kinatay (agora também lançado entre nós, em DVD), Brillante Mendoza faz um filme seco, implacável e directo que, além do mais, ajuda a repor as Filipinas no mapa internacional dos circuitos cinematográficos. Coproduzido com a França, Lola foi lançado, precisamente no mercado francês, com este trailer.

Eddie Fisher (1928 - 2010)


A maioria das notícias da morte de Eddie Fisher destacam os seus três primeiros casamentos, com Debbie Reynolds, Elizabeth Taylor e Connie Stevens, e em particular os desenlaces mais ou menos escandalosos dos dois primeiros (foi ainda casado com Terry Richard e Betty Lin). É bem verdade que ele foi uma personagem de eleição da imprensa das celebridades; seja como for, essa visão "cor de rosa" está muito longe de fazer justiça à sua condição de ícone genuinamente pop da era pré-rock'n'roll.
Através de canções como Thinking of You, Any Time, Oh, My Pa-pa, I'm Yours, Tell Me Why [em baixo: registo do seu show televisivo, na NBC, em 1953] e Wish You Were Here, Fisher impôs-se como ídolo dos adolescentes da década de 50, cruzando as marcas de um romantismo clássico com os sinais discretos, muitas vezes irónicos, de novos comportamentos e valores. Embora nunca tenha construído uma verdadeira carreira cinematográfica, teve um importante papel dramático em Butterfield 8 (1960), de Daniel Mann, contracenando com a então sua mulher, Elizabeth Taylor (por este filme consagrada com o Oscar de melhor actriz).
Natural de Filadélfia, Eddie Fisher nasceu a 10 de Agosto de 1928; faleceu a 22 de Setembro, em Berkeley, Califórnia, na sequência de uma intervenção cirúrgica.

Miami... mas na Austrália


Chamam-se Miami Horror, mas na verdade são uma banda de pop electrónica australiana. Editaram este ano o seu álbum de estreia, Illumination, em cujo alinhamento podemos encontrar Echoplex. Aqui fica o teledisco.

E agora sai nos EUA...

São quase 550 páginas dedicadas a uma figura central na história da música popular do século XX. Falamos de Morrissey (naturalmente também dos The Smiths), e em concreto do livro Mozipedia que, com o subtítulo The Encyclopaedia of Morrissey and the Smiths, revela o mais completo relato escrito sobre a vida e obra do músico (e da banda) alguma vez publicado em livro. Assinado por Simon Goddard teve primeira edição no Reino Unido em 2009 e tem agora lançamento nos EUA.

Novas edições:
The Doors,
Songs From The Motion Picture
When You’re Strange


The Doors
“Songs From The Motion Picture When You’re Strange”

Rhino / Edel
3 / 5

O documentário, assinado por Tom DiCillo foi uma relativa desilusão, na verdade não juntando um efectivo olhar novo sobre a história de Jim Morrison e dos Doors. Agora chega a banda sonora de When You’re Strange. Tal como o filme, o disco tem o mérito de saber arrumar a história que nos conta. E basta consultar o booklet (ou mesmo a contracapa) para ficar a conhecer por que caminhos (áudio, desta vez), vamos caminhar. O disco é um pouco como o retrato feito de sons de alguns dos momentos que vimos no filme, desde os poemas (de Jim Morrison, com a excepção de Doors Of Perception de William Blake) na voz de Johnny Deep aos momentos históricos vividos frente às câmaras (como a passagem pelo Ed Sullivan Show em 1967, uma outra num programa televisivo dinamarquês em 1968 ou instantes de actuações ao vivo ora na Ilha de Wight ora em Nova Iorque, ambas em 1970). Pelo meio encontramos uma série de canções marcantes da obra dos Doors como Crystal Ship, Hello I Love You, Touch Me ou L.A. Woman. Não mais que um complemento directo do filme, a banda sonora de When You’re Strange está longe de ser uma antologia para iniciados, parecendo mais destinada a morar entre as discotecas dos mais incontornáveis admiradores dos Doors.

Discos para ver (e ler)


Os apreciadores de livros sobre capas de discos vão poder contar com mais um título nas lojas a partir de Outubro. Touchable Sound: A Collection Of 7-inch Records From the USA é um olhar sobre os últimos 25 anos de produção discográfica nas áreas do rock alternativo, segundo uma selecção de Brian Roettinger, Mike Treff e Diego Hadis.

Queer Lisboa 14, dia 8


O Queer Lisboa apresenta hoje, pelas 22.00, no Cinema São Jorge, o filme Children Of God, de Karemm Mortimer, uma história com a ilha de Eleuthera (Bahamas) por cenário e com uma narrativa assombrada por manifestações de homofobia.

A programação completa para o dia de hoje no festival pode ser consultada aqui.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Laetitia Sadier a solo


Francesa, 42 anos, Laetitia Sadier é um nome inseparável da história dos Stereolab e, depois, de mais duas bandas post-rock: Monade e McCarthy. Agora, surge numa experiência a solo, The Trip, tanto mais pessoal e intimista quanto o seu ponto de partida é o suicídio de Noelle Sadier, irmã mais nova de Laetitia. Este é One Million Year Trip, o pungente tema de abertura do álbum, aqui registado num espectáculo em Santiago do Chile.

"Hereafter", o novo Clint Eastwood


Está quase a chegar aos ecrãs americanos a novíssima realização de Clint Eastwood: Hereafter, uma teia de três histórias envolvendo personagens de algum modo afectadas pela morte — um trabalhador de uma fábrica (Matt Damon) conhecido pela sua capacidade de "comunicar" com os mortos; uma jornalista da televisão francesa (Cécile de France) que sobrevive a um tsunamni; e dois jovens irmãos ingleses (Frankie and George McLaren), um dos quais morre num acidente. É mais um protagonista para a época dos Oscars, voltando a reunir uma série de habitués de Eastwood, incluindo Tom Stern (fotografia) e Joel Cox (montagem). O argumento tem assinatura de Peter Morgan, escritor e dramaturgo inglês que já escreveu, entre outros, os scripts de A Rainha (2006) e Frost/Nixon (2008). O filme esteve inicialmente, para opção, nos estúdios DreamWorks (o que justifica que o nome de Steven Spielberg surja como produtor executivo), acabando por ser produzido pela Warner Bros. Este é o trailer.


>>> Site oficial de Hereafter.

Prisvideo distribui DVDs da Sony

Pequena revolução no mercado português do DVD: os títulos da Sony Pictures Home Entertainment vão passar a ser distribuídos pela Prisvideo, empresa de São João da Madeira ligada à Ecofilmes (distribuição em sala).
Para se ter uma ideia do valor potencial do catálogo da Sony, basta citar alguns dos respectivos títulos em fase de lançamento ou relançamento em DVD: A Sangue Frio (1967), de Richard Brooks, Drácula (1992), de Francis Ford Coppola, ou Karate Kid (2010), de Harald Zwart. Além do mais, independentemente de negociações pontuais, este exclusivo dará à Prisvideo acesso às produções Sony (mesmo quando não seja a Ecofilmes a lançá-las nas salas). Por exemplo, neste final de ano, a Sony anuncia, entre outros, The Social Network, o filme de David Fincher sobre o Facebook, Burlesque, musical com Cher e Christina Aguilera, e The Tourist, com Angelina Jolie e Johnny Depp. Na prática, esta nova situação confirma a metódica consolidação da Prisvideo/Ecofilmes nos circuitos da produção internacional de raiz norte-americana.

A Travessia do Mar Vermelho (em versão científica)

Moisés, aliás Charlton Heston, conseguiu assim a proeza de separar as águas do Mar Vermelho, garantindo a passagem dos israelitas, escapando ao jugo do Faraó do Egipto — é uma imagem emblemática, universalmente conhecida, do clássico de Hollywood Os Dez Mandamentos (1956), de Cecil B. de Mille. Episódio bíblico narrado no Livro do Êxodo, a Travessia do Mar Vermelho foi recriada ao longo dos séculos, nomeadamente na pintura [em baixo, o exemplo magistral de Poussin].
Agora, a ciência achou por bem dar o seu contributo. Que é como quem diz: cientistas americanos do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), da Universidade do Colorado, apresentaram um trabalho teórico sobre o modo como o vento poderá ter gerado o fenómeno de divisão das águas (embora num local diferente daquele que a Bíblia refere).
A notícia está nos meios de informação de todo o mundo [exemplo: BBC], ironicamente não desencadeando grandes inquietações. De facto, assistimos assim a mais um episódio típico do "cientismo" dos nossos dias, empobrecendo de igual modo crentes e não crentes.
Não está em causa que a investigação científica contemporânea possa aplicar os mais sofisticados recursos para compreender os mais complexos fenómenos naturais. Acontece, porém, que a "verdade" asséptica dos relatórios científicos tende a ocupar o espaço tradicionalmente pertença de um dos maiores legados da história da humanidade. A saber: o património de histórias que gerações e gerações transmitiram entre si, ao longo de séculos e séculos.
Mais concretamente: será que vamos começar a dispensar os livros, preferindo as investigações científicas capazes de os "substituir"? Será que alguém anda a estudar o modo como a madeira se pode converter em carne humana, evitando assim que percamos tempo a ler o Pinóquio?

NICOLAS POUSSIN (1594-1665)
Travessia do Mar Vermelho

Em tons de azul


Mais de um ano e meio depois, os Animal Collective ainda nos dão notícias com o álbum Merryweather Post Pavillion como banda sonora. Desta vez apresentam um teledisco para Bluish, uma das melhores canções do disco. Um teledisco em tons de azul, como o título sugere. A realização é de Jason Oliver Goodman.

Um inédito entre velhos êxitos

Os Pet Shop Boys anunciaram já no seu site oficial o alinhamento de Ultimate, a nova antologia que editam em Novembro. O disco junta singles das diversas etapas da obra do duo, juntando um inédito. Together, composto e produzido em parceria com Tim Powell (que em tempos integrou a equipa Xenomania), será editado no formato de single. O restante alinhamento de Ultimate inclui: West End Girls, Suburbia, It's a Sin, What have I done to deserve this?, Always on my mind, Heart, Domino Dancing, Left to my own devices, Being boring, Where the streets have no name (I can't take my eyes off you), Go West, Before, Se a vida é (That's the way life is), New York City boy, Home and dry, Miracles, I'm with stupid e Love etc.

Novas edições:
Black Mountain, Wilderness At Heart


Black Mountain
“Wilderness at Heart”

Jagjagwar / Popstock
3 / 5

Os canadianos Black Mountain continuam entregues a uma já reconhecida paixão pelos ecos de músicas que fizeram história na alvorada dos setentas. E em Wilderness At Heart, o seu terceiro álbum, tomam os momentos de invenção de um futuro eléctrico e “pesado” que se desenhavam entre 1969 e 70 como ponto de partida para um disco onde as marcas do passado voltam a desempenhar um protagonismo na sua linguagem. Há cerca de dois anos, In The Future já havia mostrado semelhante agenda, com elementos do rock clássico dos setentas a definir o corpo das canções. Em Wilderness At Heart tomam os instantes de revelação e afirmação de uns Led Zeppelin em início de carreira como ponto de partida, ora através de reinvenções de elementos proto-metal, ora seguindo caminhos de palcidez definida pelo dedilhar de cordas de guitarras acústicas em baladas onde a presença de discretas cenografias definidas pelas teclas expressa depois uma identidade de tempo que rouba a forma final das canções ao que, de outro modo, poderiam ser exercícios de mera revisitação. De resto, é nesta mais eleborada arte final, que se saboreia em arranjos mais ricos em acontecimentos, que se escutam os sinais que faziam falta a um grupo que, assim sendo, não acaba perdido entre um baú de memórias, nele procurando agora pistas para inventar uma música que, mesmo abrindo evidentes janelas para com o passado que se cita, parece agora começar a estar mais ciente do facto de viver no presente.

Em conversa: OMD (4)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manouvres In The Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.

Imaginam um futuro para os OMD com mais discos?
Estamos muito felizes por ter tido a hipótese de fazer este disco. Nunca pensámos que faríamos um novo disco da mesma forma que há cinco anos não imaginaríamos que regressaríamos a um palco... Há 15 anos estávamos terrivelmente fora de moda. Foi na altura do brit pop, uma reinvenção dos anos 60... E nesses dias uma banda com sintetizadores estava fora de moda. Agora estamos na moda. É cool soar como os OMD. Eu parei em 1996 não porque quisesse parar, mas porque não sabia mais o que fazer. Sentia que estava como se estivesse a dar cabeçadas na parede. Foi bom fazer este disco e já temos ideias para um outro. O excitante é que nos sentimos como se tivessemos 19 anos de novo. Estamos a fazer este disco como os que fizemos quando tinhamos 19 anos. Ou seja, para nós! E não queremos saber o que os outros pensam. Queriamos apenas ter uma conversa connosco. Um pouco como acontecera com os nossos quatro primeiros álbuns. Ninguém nos podia dizer então o que fazer e não queriamos saber se se vendia ou não.

E o que mudou depois desses quatro primeiros álbuns?
Tomámos a consciência de que tinhamos um emprego, que havia contas para pagar, o Paul estava casado... E tinhamos de fazer discos que resultassem comercialmente. Consciente e inconscientemente estávamos mais a jogar pelo seguro.


Foi dificil escolher um single para ser o cartão de visita de History Of Modern?
Muito! Havia várias possibilidades, mas no fim demos a escolha aos programadores de rádio. O single [If You Want It] não quer dizer que aquela seja a melhor canção do álbum. Tem um papel a cumprir, sobretudo nesta altura em que não estamos no radar das pessoas. É para que se chege à rádio e assim se saiba que há um novo álbum de OMD. Que estamos vivos... Os fãs gostam do lado mais bizarro dos OMD. Mas o single não é uma bandeira! É apenas uma canção para ser tocada na rádio. É para as pessoas que não vão ao nosso site! Para que saibam que há um disco novo.

A canção Sister Mary Says tem 30 anos. Ou seja, entre novas composições encontramos ecos da vossa própria história.
Há apenas algumas canções antigas. O Sister Mary Says tem uma melodia de 1981 e uma letra de 1994... O Green, tem uma voz gravada há 16 anos... Mas a canção só funcionou quando o Paul lhe meteu as mãos e a reprogramou completamente. A maior parte do disco foi feito nos últimos anos.

Queer Lisboa 14, dia 7


O sétimo dia do Queer Lisboa 14 apresenta o filme Open, de Jake Yuzna, que este ano venceu o Prémio do Júri nod Teddy Awards, na Berlinale. O filme passa às 22.00 horas na Sala 1 do Cinema São Jorge.

A programação completa para o dia de hoje no festival pode ser consultada aqui.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Gregory Crewdson e os fantasmas da Cinecittà

Parece uma cidade fantasma. Cidade sagrada, entenda-se. E por isso o fotógrafo terá chamado "Sanctuary" à sua colecção de imagens: Gregory Crewdson, artista de um realismo sempre atraído por uma ambígua teatralidade, fotografou a Cinecittà há cerca de dois anos, durante uma viagem a Roma, descobrindo como o lugar mítico do cinema europeu (e americano!) está a ficar reduzido a uma paisagem apocalíptica.
Através da serena contemplação de cenários abandonados, as fotografias de Crewdson confrontam-nos, em última instância, com o carácter implacável de uma decadência (económica e artística) que, com o triunfo comercial da televisão, relegou o cinema para a condição de museu decadente. É uma ferida italiana cuja dor ecoa por toda a Europa.

>>> Gagosian Gallery (Nova Iorque): exposição "Sanctuary".
>>> "Sanctuary": artigo na
Vanity Fair.
>>> artnet: sobre
Gregory Crewdson.
>>> Site oficial da Cinecittà.

A IMAGEM: Elliott Erwitt, 1989

ELLIOTT ERWITT
Paris, 1989

A IMAGEM: Francisco Goya, c. 1819

FRANCISCO GOYA
O Cão
c. 1819

Novo filme do realizador de "A Ressaca"

Zach Galifianakis, um dos actores principais de A Ressaca, está de volta sob a direcção do respectivo realizador, Todd Philips. Desta vez, Robert Downey Jr. é o parceiro de Galifianakis, formando uma inesperada e sedutora dupla. Espera-se, sobretudo, que o valor sintomático de A Ressaca, alheando-se da vaga de humor "adolescente" e sem preconceitos de recuperar modelos clássicos da comédia de Hollywood, se renove em Due Date — estreia portuguesa, com o título A Tempo e Horas, marcada para 2 de Dezembro; para já, ficamos com o delicioso trailer.

Um novo olhar


Depois de Born Free e XXXO, M.I.A. apresenta mais um teledisco criado a partir de uma canção do seu mais recente álbum Maya. Tomando como ponto de partida a canção Story To Be Told, o teledisco é uma experiência idealizada em ambiente que podemos relacionar com a Internet. De resto, foi criado um site para o disponibilizar. Aqui ficam as imagens.