terça-feira, agosto 31, 2010

Nos bastidores de "Mad Men"

Número especialíssimo da Rolling Stone (data: 16 de Setembro), dedicado à televisão, com honras de capa para a mais requintada série televisiva do século XXI: Mad Men. Em pose retro, ma non troppo, fotografada por Robert Trachtenberg, surgem Elisabeth Moss, January Jones, Jon Hamm e Christina Hendricks; lá dentro, duas dezenas de notáveis imagens a preto e branco [exemplos aqui em baixo] assinadas por James Minchin III, documentando os bastidores da produção, em Los Angeles.
Entretanto, lembremos que a RTP2 vai voltar a emitir Mad Men: as duas primeiras temporadas serão repetidas nos dias úteis, a partir de 27 de Setembro (00h30); a terceira estreia a 29 de Outubro (22h40). A quarta temporada arrancou nos EUA no passado dia 25 de Julho.

As canções de Sofia Coppola

As Virgens Suicidas (1999), Lost in Translation (2003) e Maria Antonieta (2006) são esclarecedores sobre a importância que Sofia Coppola atribui às canções dos seus filmes. E o novo Somewhere, com Stephen Dorff e Elle Fanning [foto], programado para o festival de Veneza, não será, por certo, excepção. Entre os temas da sua banda sonora, incluem-se alguns nomes clássicos (The Police, T.Tex, Bryan Ferry), a par de William Storkson (que já colaborara em Lost in Translation) e um demo dos Strokes, I'll Try Anything Once, aqui recordado através de uma montagem dos elementos da banda, em várias idades e na companhia de alguns notáveis — lista completa das canções em baixo.


* Love Like a Sunset Part I - PHOENIX
* Ghandi Fix - WILLIAM STORKSON
* My Hero - FOO FIGHTERS
* So Lonely - THE POLICE
* 1 Thing - AMERIE
* 20th Century Boy - T.REX
* Cool - GWEN STEFANI
* Che si fa - PAOLO JANNACCI
* Teddy Bear - ROMULO
*
Love Theme From Kiss - KISS
*
I'll Try Anything Once - THE STROKES
* Look - SEBASTIAN TELLIER
* Smoke Gets In Your Eyes - BRYAN FERRY
* Massage Music - WILLIAM STORKSON
*
Love Like A Sunset Part II - PHOENIX

Carlos Queiroz nunca existiu?

Em qualquer dos diários desportivos de hoje [primeiras páginas], a notícia da suspensão de Carlos Queiroz por seis meses é um título francamente secundário — isto numa altura em que se avaliam as consequências práticas dessa suspensão [Público], admitindo-se mesmo que o despedimento por justa causa de Queiroz seja apenas uma questão de tempo [Diário de Notícias].
Eis um sintoma claro do imaginário desportivo (?) em que vivemos, aliás, em que nos obrigam a viver. O mais anedótico incidente das equipas de futebol pode ser transformado em drama nacional (entenda-se: de equipas como Benfica, Porto ou Sporting, já que os "pequenos" são escorraçados para a condição de não-notícia). Mas o verdadeiro drama desportivo que se aproxima — quatro jogos da selecção nacional com um seleccionador suspenso — não merece especial evidência. Entretanto, celebremos a nossa vocação para organizarmos o Mundial...

Hollywood homenageia Coppola

Francis Ford Coppola vai ser homenageado pela Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Mas não com um Oscar: o autor de Apocalypse Now [foto de rodagem] vai receber o Prémio Irving G. Thalberg, e isso faz toda a diferença — este texto foi publicado no Diário de Notícias (29 de Agosto), com o título 'Coppola de regresso a Hollywood'.

Por razões de curiosidade ou ironia, as notícias sobre os prémios honorários da Academia de Hollywood foram dominadas pelo nome de Jean-Luc Godard. No dia 13 de Novembro, ele vai receber um Oscar (tal como o actor Eli Wallach e o historiador Kevin Brownlow) e a sua condição histórica de enfant terrible do cinema europeu confere-lhe uma marginalidade, afinal ilusória, nesta conjuntura: em boa verdade, Godard foi uma influência nuclear para os cineastas que revolucionaram o cinema americano ao longo das décadas de 60 e 70, a começar por Martin Scorsese, além de que a sua presença no mercado americano (nomeadamente nos circuitos especializados de DVD) tem sido uma constante.
A maior surpresa ou, pelo menos, a mais desconcertante ambiguidade da lista de homenageados da Academia tem a ver com o nome de Francis Ford Coppola. É bem verdade que o autor de O Padrinho (1972), Apocalypse Now (1979) e Rumble Fish (1983) nunca foi uma personalidade estranha à indústria de Hollywood. Aliás, nos Oscars, possui um curriculum invejável, com nada mais nada menos que cinco estatuetas douradas, três das quais obtidas, em 1975, com O Padrinho II (nas categorias de filme, realização e argumento adaptado). Em todo o caso, Coppola não vai receber um Oscar, mas sim o prestigiado Prémio Irving G. Thalberg. E esse é um prémio que distingue, muito especificamente, um produtor.
Mais do que isso: a Academia reserva-se o direito de não o atribuir anualmente, de tal modo que, desde a sua criação há mais de 70 anos (o primeiro, para Darryl F. Zanuck, foi entregue em 1938), apenas foi concedido 37 vezes, distinguido personalidades como Walt Disney (1942), Jack L. Warner (1959) ou Steven Spielberg (1987). A questão que emerge é esta: como avaliar a consagração de Coppola como produtor, sobretudo tendo em conta que, depois de The Rainmaker/O Poder da Justiça (1997), a sua actividade criativa está claramente desligada dos grandes estúdios de Hollywood? Nos últimos anos, através de títulos como Uma Segunda Juventude (2007) e Tetro (2009), tem sido mesmo um militante da produção “alternativa” em video digital, assumindo-se como produtor dos seus filmes e controlando directamente a respectiva distribuição.
Haverá quem veja nesta consagração o reflexo de algum “cinismo” de Hollywood, tentando reintegrar aqueles que, por diversas circunstâncias, foi afastando dos seus centros de decisão. Talvez... afinal de contas, a natureza humana não é estranha às atribulações cinematográficas, mesmo se importa lembrar que a Academia não é (longe disso) uma emanação directa das direcções dos estúdios. Assim, podemos interpretar o gesto da Academia de forma menos acintosa: mesmo escrevendo direito por linhas tortas, ao atribuir o prémio Thalberg a Coppola, Hollywood está a valorizar, implicitamente, alguém que, ao longo das décadas, soube utilizar de forma invulgar os recursos da grande indústria, mas também o minimalismo da produção independente.

Sim, é para dançar...


Uma das boas surpresas do ano nos domínios da pop feita com electrónicas, o álbum Yes and Dance dos Silver Columns acaba de gerar mais um single. Desta vez a escolha recaiu sobre Always On. Aqui fica o teledisco…

Isabella Rossellini em Berlim

Isabella Rossellini vai ser a presidente do júri da edição 2011 da Berlinale. A edição do próximo ano do festival de Berlim decorrerá entre os dias 10 e 20 de Fevereiro. Os restantes membros do júri ainda não foram revelados.

Novas edições:
Wavves, King Of The Beach


Wavves
“King Of The Beach”
Bella Union / Nuevos Medios
4 / 5

O momento mais mediático com assinatura Wavves entre a edição do seu disco anterior e o lançamento do novo King Of The Beach chegou em meados de 2009 quando, em plena actuação no Primavera Sound, em Barcelona, Nathan Williams perde o controlo da situação, agride o baterista, insulta o público e ponto final, concerto terminado… Reconhecendo a necessidade de resolver o que resolvido não estava, a alma dos Wavves começou por arrumar a sua vida. E, seguindo o que poderá ter sido uma lógica algo semelhante, acabaria pelos vistos por arrumar também um pouco mais a sua música… E assim, depois de dois álbuns na melhor tradição lo-fi, abordando a distorção e o ruído com a canção por cenário, eis que se apresenta em 2010 com algo completamente diferente. Juntando dois elementos da antiga banda de Jay Reatard – em concreto o baterista Bill Hayes e o baixista Stephen Pope – gravando num estúdio e contando com a ajuda de um produtor que já trabalhou com os Modest Mouse, apresenta em King Of The Beach um disco que descobre uma luz que outrora não brilhava deste modo na música de Wavves. Tonalidades solarengas - que não serão estranhas ao sublinhar da presença da palavra “praia” no título – escutam heranças de tradições californianas, ocasionalmente em discretos flirts com a memória surf rock dos sessentas, como por exemplo se escuta em Post Acid. Porém, tão determinantes quanto estas marcas de luz estival, entre ao azimutes centrais dos destinos da música em King Of The Beach moram ainda evidentes referências à cultura garage rock, em particular a formas que ganharam notoriedade em inícios dos noventas (então em clima grunge). E assim, num festim entre guitarras, boas canções e uma rara capacidade em sugerir vários destinos (e surpresa) num mesmo alinhamento, mora um daqueles discos que garantem prova de vitalidade às liguagens do rock’n’roll.

Quando os sabores são uma memória

Este texto sobre o livro Fome, de Elise Blackwell, foi publicado numa coluna de sugestões na edição de 21 de Agosto do DN Gente.

Entre finais de 1941 e Janeiro de 1944 a cidade de Leninegrado (actual São Petersburgo) viveu sob o cerco do exército alemão. Desde então são conhecidos os relatos do quoti-diano dramático de uma cidade onde ao frio dos sucessivos Invernos se juntou a fome mas onde a vontade de resistir não deixou entrar em cena a palavra rendição. De resto, se há exemplo notável entre as grandes histórias de resistência durante a II Guerra Mundial veio da Leninegrado cercada quando, a 9 de Agosto de 1942, e através de altifalantes espalhados pela cidade, se fez a estreia local da assombrosa Sinfonia n.º 7 de Shostakovich (que ainda viveu algum tempo sob o cerco), dedicada à cidade. O cerco a Leninegrado é agora evocado numa outra obra. Assinado pela norte-americana Elise Blackwell, Fome foi originalmente publicado em 2003, e surge agora em tradução de Safaa Dib para a Livros de Areia. Tomando um agrónomo de um instituto estatal de Leninegrado por narrador, avançamos por relatos daqueles dias ao longo dos quais confrontamos tempos de privação - nos quais se usa serradura para completar a farinha que falta no pão e se fazem sopas dos mais incríveis ingredientes - com memórias que guarda jantares nos dias de abundância que antecederam o cerco ou de missões de estudo a outras latitudes, numa delas descrevendo a melhor manga que alguma vez provou. Um pequeno livro de leitura tão saborosa quanto as iguarias que por vezes o protagonista recorda.

O castelo (que é museu)


Chama-se Malmöhus, fica a alguns quarteirões do centro da cidade e merece uma visita. Nasceu como uma fortaleza e hoje alberga o principal museu local. As fundações mais antigas da estrutura datam do século XV, porém as paredes mais remotas da construção actual têm origem numa segunda fase de construção, já no século XVI. À fortaleza antiga foi entretanto ligado um edifício novo, da sua reunião surgindo o espaço que hoje acolhe o museu.

O Malmö Museer é invulgarmente versátil na variedade de exposições que apresenta (inclusivamente na sua colecção permanente). Há uma zona dedicada às ciências naturais, uma outra atenta à história da arte local (pintura, escultura e artes decorativas, com atenção para a produção contemporânea), um espaço sobre a história da região e do seu povoamento, um outro centrado na fotografia, a tudo isto juntando-se ainda o espaço do próprio castelo, com algumas das salas mobiladas tal e qual estariam nos dias em que desempenhava funções na defesa da cidade.


Nesta sequência de imagens passamos por alguns dos espaços do museu, começando no átrio que nos conduz aos pisos superiores (e às exposições sobre história da arte, antropologia e arqueologia e ainda às salas de exposições temporárias. A segunda imagem mostra uma escultura numa das escadarias do museu. A terceira revela uma das salas mobiladas do velho castelo.

Um grande momento de televisão


O número de abertura da cerimónia de entrega dos Emmys deste ano é um belo exemplo de como somar referências e fazer um grande momento de televisão. Com a lógica (e alguns actores) da série Glee como mote, o número junta ainda figuras como Jimmy Fallon, Tina Fey, Jorge Garcia (da série Lost), Jon Hamm (de Mad Men), a veterana Kate Gosselin e ainda Tim Gunn, num corropio que acaba em palco, ao som de uma versão do clássico Born To Run, de Bruce Springsteen. Não era má ideia que os responsáveis pela cerimónia dos Oscares olhassem para estes minutos de televisão para repensar o que tem falhado nas últimas galas da mais mediática cerimónia do mundo do showbiz.

Stockhausen em nova gravação

O “clássico” Mantra, de Karlheinz Stockhausen, acaba de conhecer nova edição em disco, numa nova gravação. Contando com os pianistas Jana Pestova e Pascal Meyer e com as electrónicas de Jan Pannis, esta nova gravação de Mantra tem edição pela Naxos.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Cee Lo Green, com todas as letras

Cee Lo Green tem-se distinguido nas paisagens cruzadas do hip hop, R&B e soul, estando o seu nome associado a colaborações várias com nomes como Gnarls Barkley, Lauryn Hill ou Timbaland. A capa do seu novo single economiza nas letras, mas não o respectivo teledisco: um verdadeiro livro aberto, com um ritmo irresistível. Em baixo, recorda-se Sign o' the Times (1986), de Prince, para provar que a história é feita de repetições — e outros tantos desvios.



Pedro Costa — New York, New York

O cartaz é uma pequena maravilha [click para ver maior] — Pedro Costa vai estar em Nova Iorque, com Ne Change Rien (o seu filme "musical" com Jeanne Balibar), integrado na programação de um acontecimento alternativo, por excelência: o festival All Tomorrow's Parties.
A edição de 2010 do ATP decorre de 3 a 5 de Setembro, no Kutshers Country Club, Monticello, apresentando uma programação predominantemente musical, com Jim Jarmusch a assumir as funções de comissário do evento — Iggy Pop and The Stooges, Sonic Youth e Tortoise são algumas das bandas anunciadas. A Criterion Collection surge associada na selecção de filmes: Ne Change Rien está agendado para o dia 3, sendo a projecção seguida de um debate com Costa e Jarmusch.

O filme dos 20 biliões de dólares

É bem certo que, hoje em dia, com a sua fixação pueril nos milhões da produção e das receitas, a maioria dos discursos críticos (?) sobre cinema mais parece um relatório empresarial para ser discutido em assembleia de administração. Mas, desta vez, é mesmo assim: como diz a publicidade de Inside Job, este é "o filme que custou 20 biliões de dólares a produzir" — que é como quem diz: uma evocação dramática (e dramaticamente pedagógica), sobre a crise que, em 2008, abalou Wall Street e... o planeta inteiro. Com realização de Charles Ferguson e narração de Matt Damon, apresentado em sessão especial do último Festival de Cannes, vai ser lançado nos EUA ao longo de Setembro/Outubro e tem este trailer.

Alain Corneau (1943 - 2010)

Alain Corneau teve o momento mais alto da sua carreira em 1991, graças a Todas as Manhãs do Mundo, filme escrito por Pascal Quignard, sobre Marin Marais, célebre compositor do barroco francês — Corneau faleceu a 30 de Agosto, vítima de cancro, contava 67 anos.
Começou, nos anos 70, como assistente de Costa-Gavras. Os seus primeiros filmes seriam num registo policial, nomeadamente Police Python 357 (1976), Série Noire (1979) e A Escolha das Armas (1981). Noturno Indiano (1989), baseado no romance de Antonio Tabucchi, assinala uma viragem de estilo que Todas as Manhãs do Mundo viria a confirmar, valendo-lhe dois Césares: melhor filme de 1991 e melhor realização. Em 2007, refizera Le Deuxième Souffle, um clássico de Jean-Pierre Melville. O seu derradeiro filme, Crime d'Amour, com Ludivine Sagnier e Kristin Scott Thomas, estreara-se a 18 de Agosto nas salas francesas.

>>> Obituário no jornal Le Monde.

Na era digital


É um dos grandes discos de 2010 e dele foi recentemente extraído mais um single. Falamos de Maya, o terceiro álbum de M.I.A.. Aqui fica hoje o teledisco que acompanha XXXO.


'Mad Men' brilha nos prémios Emmy

A série televisiva Mad Men foi uma vez mais uma das grandes vencedoras dos prémios Emmy, arrecadando (pela terceira vez) o galardão para Melhor Série Dramática e o prémio de Melhor Argumento. Glee, que partia, com 19 nomeações, ganhou nas categorias de Melhor Actriz Secundária (Jane Lynch) e Realização em comédia. Dexter venceu na categoria de Realização para séries dramáticas. The Pacific foi eleita como a Melhor Minissérie.

Podem consultar toda a premiação aqui

Novas edições:
Eels, Tomorrow Morning


Eels
“Tomorrow Morning”

E Works / Nuevos Medios
4 / 5

O segundo álbum que 2010 vê nascer com assinatura Eels é o terceiro disco que Mark Oliver Everett (que é como quem diz, ‘E’) compôs em sequência sob uma lógica que quase ajusta à noção de disco “conceptual”. Na verdade cada um destes últimos três títulos apresenta uma identidade demarcada, desde o olhar interessado da noção de desejo em Hombre Lobo (2009) ao desencanto, sobretudo desenhado em canções acústicas, que habitavam End Times (já deste ano), disco que reflectia ainda a dor por uma separação. Contudo, num contraste evidente com as trovas de mágoa e solidão que habitavam o alinhamento deste último disco, o novo Tomorrow Morning revela um espírito que reencontrou a luz, lembrando o ‘E’ mais festivo e optimista que lembramos de álbuns como Dasies Of The Galaxy ou Blinking Lights and Other Revelations. Ecléctico nas ferramentas convocadas às canções (em alguns instantes com mais electrónicas que o habitual), Tomorrow Morning escuta reencontros com ecos da própria obra de Eels, o irresistível Spectacular Girl evocando tons que caracterizavam algumas das canções-chave do alinhamento de Beautiful Freak (o álbum de estreia, em 1996), o mais contido I’m A Hummingbird parecendo, por outro lado, estabelecer uma ponte com Little Bird, do outro disco editado este ano. Há vários instantes instrumentais, um deles na recta final de This Is Where It Gets Good, outra das canções que garantem a luminosidade que se revela a característica que une (e, lá está, garante o “conceito”) o disco. Diz a “regra” que a dor gera a grande arte. Em Tomorrow Morning ‘E’ sublinha que o reencontrar da felicidade também pode representar uma boa fonte de inspiração.

Pelas ruas de Malmö


A apenas 35 minutos de Copenhaga (de comboio), Malmö é a terceira maior cidade sueca (e a mais a Sul do país). Fundada no século XIII como porto e também primeira linha de defesa para Lund (alguns quilómetros a Norte). Fortificada desde cedo, a cidade foi alvo de disputa entre dinamarqueses e suecos, passando a integrar território sueco no século XVII. O porto é ainda um dos maiores centros da economia da cidade que, na periferia, alberga ainda várias indústrias. A vida cultural da cidade passa por vários equipamentos (entre os quais um teatro de ópera), inclui um festival anual de cinema e um outro de gastronomia e eventos de rua.
Num primeiro conjunto de olhares sobre Malmö vemos as suas ruas, as casas revelando algumas características reconhecidamente suecas. As três imagens mostram ruas e detalhes em volta de uma pequena praça no centro da cidade.

Em conversa: Perfume Genius (1)


Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Mike Hadreas, que acaba de lançar Learning, um primeiro álbum como Perfume Genius. A entrevista serviu de base ao texto ‘As confissões de uma alma solitária’ publicado na edição de 7 de Agosto do DN Gente.

As canções em Lerning dão-nos um retrato do mundo de um solitário. Até que ponto traduzem a realidade ou alguma ficção?
Na altura em que escrevi aquelas canções vivia de facto uma vida isolada. Mesmo quando estava rodeado por mais pessoas, mas essa é uma sensação interior.

E isso foi quando?
Escrevi muitas destas cannções há cerca de um ano e meio.

Tem 28 anos, ou seja, não eram sinais daquela depressão feita de angústias e solidão que muitos passam no final da adolescência...
Bom, espero que não!!!

E porque resolve um solitário falar ao mundo?
Não sei se era minha a intenção de o fazer numa grande escala. Isso de certeza que não era! Comecei por mostrar as canções aos meus amigos e a coisa cresceu depois daí em diante... Originalmente escrevi-as para mim... Escrevi sobre coisas bem pessoais. Ao escrever aquilo mantinha-me solitário e irreal. Era como uma terapia... Mas isto sem ser melodramático.

Sente que ultrapassou uma certa linha de conforto (ou de desconforto, depende de cada caso) que existe quando se partilha algo que era só nosso com o resto do mundo?
À distância acho que na verdade sou mesmo assim e escrevi coisas simples e muito pessoais. E por isso penso que tudo aquilo carrega uma mensagem... Não estava tentar afectar aqueles que me iam eventualmente ouvir para que cada um depois pudesse carpir as suas versões pessoais de tudo aquilo. Mas entendo que haja quem o procure fazer... E por isso não envolve nunca uma noção de conforto, porque nesse patamar já não é sobre mim mas sobre os outros...

As canções são assim como intrusos através dos quais os outros entram agora na sua vida?
Sim, de certa maneira...

Mas expõe-se neste disco... Foi fácil? E há depois diferenças entre expormo-nos quando gravamos um disco e, depois, quando se apresentam as mesmas canções num palco?
Uma coisa é expormo-nos numa canção e outra é a exploração que possa vir depois. Mas não sei... Quando estou a actuar tenho um pouco a situação sobre controle. Assim como acabo por tê-lo quando me fazem perguntas sobre tudo... Identifico-me com esta ideia de uma música confessional. E é-me mais fácil falar das coisas na canção que em conversa. Não porque seja algo muito profundo, mas sou mesmo assim... Mas enfim, isto é o quero fazer. E qualquer desconforto que isso possa causar, no fundo tenho de aprender a viver com ele. Tenho de o ultrapassar. E fazer isto é importante para mim.
(continua)

Philarmonie em alta definição.

A Philarmonie, em Berlim, junta-se este ano a outras grandes salas - como o Met, de Nova Iorque, Convent Garden, em Londres e o Scala, de Milão - cuja programação pode ser vista em salas de outras cidades do mundo através de transmissões de som e imagem em alta definição. Ao todo serão 60 as salas de cinema que vão assistir este ano a transmissões em directo de concertos na mítica sala berlinense. Recorde-se que, na temporada 2010/2011, a Gulbenkian vai apresentar, em transmissões de alta definição, a temporada de ópera do Met, de Nova Iorque.

domingo, agosto 29, 2010

Irène (Tunc) por Alain Cavalier

Reescrever o nome de quem perdemos é uma fatalidade, quer dizer, tem o sabor da ficção — este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 de Agosto), com o título 'Um grande filme intimista feito com uma pequena câmara digital'.

O mínimo que se pode dizer do filme Irène, de Alain Cavalier, é que se trata de um invulgar objecto cinematográfico. Desde logo, porque o realizador o filmou, ele próprio, com uma pequena câmara digital, idêntica a tantas outras que, hoje em dia, são utilizadas pelos amadores de todo o mundo. Depois, porque nos apresenta uma memória pessoalíssima, centrada na personagem verídica que o título nomeia.
Irène Tunc [foto] foi uma figura muito popular na França dos anos 50. A sua beleza enigmática trouxe-lhe, em 1954, aos 19 anos, o título de Miss França. Rapidamente se tornou uma presença regular em produções cinematográficas de França e Itália. E se é verdade que nunca adquiriu um estatuto de estrela, sendo normalmente solicitada para pequenos papéis secundários, o certo é que acabou por ser dirigida por alguns mestres, incluindo Sacha Guitry (Si Paris Nous Était Conté, 1956), Jean-Pierre Melville (Amor Proibido, 1961) e Alain Resnais (Je t’aime, Je t’aime, 1968). Casou-se com Alain Cavalier em 1965, vindo a participar no seu filme A Chamada (1968), protagonizado por Catherine Deneuve e Michel Piccoli.
A vida de Irène Tunc terminou abruptamente a 16 de Janeiro de 1972, num acidente de automóvel na zona de Versalhes (o seu derradeiro papel seria, um ano antes, em As Duas Inglesas e o Continente, de François Truffaut). Cavalier evoca-a no seu filme, não exactamente para traçar um retrato biográfico (nem sequer para atender a algumas especulações que, na época, admitiam a possibilidade de um gesto suicida): Irène é, afinal, um relato intimista que tem como ponto de partida os diários do próprio cineasta, com datas de 1970, 1971 e 1972, quase exclusivamente dedicados à sua vida conjugal e, em particular, à tristeza insuperável que ele encontrava na sua mulher.
Alain Cavalier [foto] foi um compagnon de route dos autores da Nova Vaga, tanto mais que a sua primeira longa-metragem, Duelo na Ilha (1962), surgiu em momento de eufórica afirmação desse movimento que estava a revolucionar o cinema, dentro e fora das fronteiras francesas. O certo é que a sua evolução o encaminhou para uma crescente solidão criativa, apenas interrompida pelo sucesso de Thérèse (1986). Em todo o caso, não deixa de ser interessante referir que Irène (estreado na secção “Un Certain Regard” do Festival de Cannes de 2009) acaba por ilustrar um princípio fundador da Nova Vaga: mais do que um retrato do mundo exterior, o filme é entendido como reflexo privilegiado de uma vivência interior, dramática, por vezes convulsiva, que o realizador exprime na primeira pessoa.
As pequenas câmaras digitais, utilizadas por Cavalier em vários filmes da última década, são sintomáticas de um gosto de experimentação de novas técnicas, também ele indissociável da herança da Nova Vaga. São, afinal, uma maneira de produzir filmes incomparavelmente mais baratos que qualquer grande produção dependente da acumulação de efeitos especiais. Para Cavalier, essa é também uma forma de sublinhar o seu intransigente individualismo.

A política segundo Marcelo Rebelo de Sousa

GERHARD RICHTER
Sem título [óleo sobre fotografia]
1996


Será que, em televisão, a política se esgota na percepção anedótica dos seus protagonistas?... A questão é, indissociavelmente, mediática e social. Este apontamento integrava uma crónica publicada no Diário de Notícias (27 de Agosto).

No domingo [22 de Agosto], Marcelo Rebelo de Sousa (TVI) analisou o diálogo PS/PSD, considerando que “o PSD tem razão mas não tem toda a razão, porque não pode dizer que houve violação de um acordo”. Isto porque “com José Sócrates, palavras leva-as o vento”. E acrescentou que “com ele tem que ser tudo escritinho e o PSD não esteve para isso, caiu no logro e foi embarretado por Sócrates no primeiro momento, agora já abriu os olhinhos” (palavras transcritas do site da TVI24).
O fundamento deste método, em boa verdade transversal a todos os canais de televisão, é o modo como satisfaz um terrível paradigma ideológico do nosso tempo, todos os dias ilustrado e ampliado pelo “liberalismo” da Internet: a filosofia política cede a sua nobreza à descrição fulanizada do exercício do poder. Ou ainda: o pensamento político tende a ser diluído numa percepção anedótica dos seus protagonistas.
Considerar Marcelo Rebelo de Sousa [foto] “culpado” deste estado de coisas seria simplificar, e muito, a história portuguesa do comentário político em televisão (que inclui, entre outros, o próprio José Sócrates). O que está em causa é de outra natureza: a política é-nos apresentada como uma feira barulhenta onde se distinguem sempre os que tiverem mais “olhinhos” ou souberem lançar alguma frase sonante de dez segundos que os telejornais, solícitos, irão repetir até à exaustão. Nada disso explica, por si só, a abstenção de vários milhões de portugueses nos mais recentes actos eleitorais. Mas para tentar compreender tal alheamento, valia a pena não dispensar uma reflexão empenhada sobre os efeitos quotidianos deste tipo de discursos.

sábado, agosto 28, 2010

Poemas em palco (3)

I'VE GOT YOU UNDER MY SKIN
Frank Sinatra
Letra e música: Cole Porter

É uma canção que se cola à imagem de Frank Sinatra desde 1946, quando ele a interpreta pela primeira vez na rádio, vindo a surgir, dez anos mais tarde, no álbum Songs for Swingin' Lovers! [capa]. O génio de Cole Porter conferiu-lhe um intimismo radical, dir-se-ia fisiológico — under my skin —, devidamente sustentado pelo arranjo de Nelson Riddle (que ele dizia inspirado no Bolero, de Maurice Ravel). Tudo isso redobra de forma paradoxal nesta performance: foi a 13 de Outubro de 1974, no Madison Square Garden, Nova Iorque, naquele que é um dos concertos mais lendários de toda a história da música popular.



I've got you under my skin
I've got you deep in the heart of me
So deep in my heart, that you´re really a part of me
I've got you under my skin

I've tried so not to give in
I've said to myself this affair never will go so well
But why should I try to resist, when baby will I know so well
I've got you under my skin

I'd sacrifice anything come what might
For the sake of having you near
In spite of a warning voice that comes in the night
And repeats, repeats in my ear:
Don't you know, you fool, you never can win?
Use your mentality, wake up to reality
But each time I do, just the thought of you
Makes me stop before I begin
'cause I've got you under my skin

O Nacional da Madeira também joga... ou não?

Será que, para as televisões, há clubes de primeira e de segunda?... A questão, entenda-se, tem a ver com clubes, mas não tem nada de clubista — é uma questão jornalística. Este apontamento integrava uma crónica publicada no Diário de Notícias (27 de Agosto).

Primeiro, abateu-se uma maldição televisiva sobre a Académica. Esta semana, foi a vez do Nacional da Madeira. Se alguém anda à procura de desaparecer das notícias, pode aplicar um método infalível: basta ganhar ao Benfica! Esperava eu ouvir vozes a dar o devido destaque a um facto que só tem enriquecido o futebol português. A saber: o incremento de qualidade das equipas “médias”. Mas não: a informação não se faz com o que acontece, mas com o que “devia” ter acontecido.

Chanel por Scorsese

O lançamento do novo perfume da marca Chanel — Bleu de Chanel — tem como rosto um actor francês em ascensão: Gaspard Ulliel (que vimos, por exemplo, em Os Fugitivos, Um Longo Domingo de Noivado e Hannibal - A Origem do Mal). E tem também um clip promocional de luxo, com assinatura de Martin Scorsese.

Clássicos de Verão (3)


A ideia nasceu numa noite de Verão em Detroit… Mikey Stevenson escreveu uma primeira letra, pensando numa balada. Ao escutá-la Marvin Gaye sentiu uma outra vida para a a canção, com um ritmo de dança. Entregue pouco depois a Martha Reeves, que a adaptou a um arranjo vocal seu, Dancing In The Street chegou às lojas de discos em finais de Julho de 1964, em gravação poe Martha and the Vandellas, para se transformar num dos grandes êxitos desse verão e, ao mesmo tempo, numa canção de referência na história da Motown Records. Vinte e um anos depois, integrando o programa do mega-concerto Live Aid, uma nova versão, assinada por David Bowie e Mick Jagger, devolveu Dancing In The Street à linha da frente das atenções, afirmando-se novamente como um hino de verão, desta vez para o ano de 1985. Aqui fica, contudo, a memória da versão original.



Imagens de uma actuação de Martha Reeves and The Vandellas, ao som de Dancing In The Street, no Ed Sullivan Show, em 1965.

sexta-feira, agosto 27, 2010

Novo álbum dos Blitzen Trapper

Blitzen Trapper — colectivo de Portland, Oregon, liderado por Eric Earley (composição/guitarra/voz) — está de volta com mais uma bela colecção de canções em que a aspereza rock vai a par de um gosto "alternativo" com raízes nas margens do country: chama-se Destroyer of the Void e pode ser escutado no site oficial da banda. Este é um registo do tema Sadie, nos estúdios da rádio WFUV.

Uma canção para o verão (3.19)


Duas experiências de diálogo entre a pop e o raggamuffin fizeram a agenda de trabalhos dos Scritti Politti em 1991. A primeira ganhou forma neste She’s a Woman, colaboração com Shabba Ranks, que na verdade é uma versão de uma canção dos Beatles originalmente editada no lado B do single I Feel Fine, em 1964.

Podem ver o vídeo aqui

Sufjan Stevens (agora o álbum)

Sufjan Stevens vai editar um novo álbum ainda este ano. Com o título The Age Of Adz, o álbum tem data de edição agendada para o dia 12 de Outubro. A noticia é avançada pela Pitchfork poucos dias depois de revelado o lançamento do EP All Delighted People que para já está apenas disponível em edição digital.

Há verão na capa (9)


Nome de referência no universo do surf rock, Dick Dale (acompanhado pelos Del-Tones) teve neste Surfer’s Choice a sua estreia em álbum em 1962. O disco levou esta música a um público mais vasto que o culto até então atento ao movimento tornou-se numa das peças centrais do surf rock.

Pelo reino da Dinamarca (6)


Nova série de olhares pelas ruas de Copenhaga. Estas três imagens concentrando as atenções em volta da Gronnegade, uma pequena rua essencialmente comercial a poucos quarteirões da movimentada Ostergade, que concentra algumas das principais lojas da cidade.

Para evocar River Phoenix (5)


Mais uma referência à obra de River Phoenix na semana em que teria completado os 40 anos caso fosse vivo. O último filme que concluíu foi, em 1993, The Thing Called Love, realizado por Peter Bogdanovich. O filme tem Nashville como cenário central da acção e a sua cena musical, interpretando River Phoenix um músico que corre o circuito de bares. Além de desempenhar o papel protagonista no filme, River Phoenix cantou e chegou a compor alguns temas, um deles acabando mesmo por ser usado na banda sonora do filme.

quinta-feira, agosto 26, 2010

Do you know what it feels like for a girl?

A familiaridade — casa, família e rituais — tem sido o emblema da campanha para o Inverno 2011 de Dolce & Gabbana. Em todo o caso, percebemos agora que o projecto do fotógrafo Steven Klein (com o contributo da sua empenhada actriz) envolvia mais, não menosprezando sequer a possibilidade de reconfigurar as fronteiras do feminino, inclusive nas suas manifestações mais tradicionalistas. A legenda ideal para tão imaculada imagem seria anormalmente longa, mas valeria a pena arriscar:

Girls can wear jeans
And cut their hair short
Wear shirts and boots
'Cause it's OK to be a boy
But for a boy to look like a girl is degrading
'Cause you think that being a girl is degrading
But secretly you'd love to know what it's like
Wouldn't you
What it feels like for a girl

"Never Let Me Go" x 3

É, sem dúvida, um dos títulos mais aguardados na temporada dos Oscars que se aproxima: Never Let Me Go, o magnífico romance de Kazuo Ishiguro, um conto sobre uma juventude enredada na sua cruel utopia, filmado por Mark Romanek. Para já, o mínimo que podemos reconhecer é a discreta sofisticação da sua campanha promocional. Agora, surgiram estes três cartazes: uma identificação dos protagonistas — Andrew Garfield, Carey Mulligan e Keira Knightley — para ser contemplada em fragmentos incompletos ou como peças de uma mensagem em forma de puzzle [sugere-se um click para ver maior]. Sobre o filme, vale a pena ir até ao site da Fox Searchlight.

Uma canção para o verão (3.18)


Numa altura em que escutamos as canções do novo álbum, uma memória recente do anterior disco de M.I.A. Aqui fica o teledisco que acompanhou então o lançamento de Jimmy, que ainda hoje é irresistível presença em qualquer noite de saída para dançar.


M.I.A.
‘Jimmy’ (2007)

Arvo Pärt, agora em 'best of'

A EMI Classics assinala os 75 anos de Arvo Pärt com a edição de uma antologia que recolhe gravações de algumas das suas obras de referência. Com o título The Best Of Arvo Pärt, o duplo CD inclui, entre outras, gravações de obras como Tabula Rasa, Fratres, Spiegel Im Spiegel ou a Missa Syllabica.

Há verão na capa (8)


Mais uma capa em clima de Verão. Editado em 1990, Love To Hate You foi o segundo single extraído do álbum Chorus, um dos mais marcantes (e bem sucedidos) de toda a obra dos Erasure.

Três olhares por Copenhaga


Três olhares por Copenhaga fora das imagens de “postal”. No primeiro, um autocarro passa frente a uma parede na estreita Stormgade, situada precisamente nas traseiras do National Museet.


Nesta segunda imagem, um outro ângulo para a estátua de Hans Christian Andersen, na esquina entre a Radhus Pladsen e a avenida com o nome do escritor que é uma das artérias centrais (e mais movimentadas) de Copenhaga.


A fechar, um olhar para a nova Ópera de Copenhaga, com a entrada em campo de um dos “autocarros” sobre água. Na verdade estes barcos, que fazem um serviço permanente entre os canais, são tão essenciais ao sistema de transportes da cidade como os autocarros em tantas outras cidades.