sexta-feira, janeiro 01, 2010

Para descobrir Rebecca Miller

Rebecca Miller, a realizadora de As Vidas Privadas de Pippa Lee [estreado entre nós no último dia de 2009], é filha de uma das personalidades maiores da literatura e do teatro made in USA do século XX: Arthur Miller (a mãe, Inge Morath, foi também uma notável fotógrafa). O certo é que nem mesmo essa condição serviu para que o seu filme tivesse um lançamento que equivalesse, pelo menos, a um décimo do investimento de marketing com que são regularmente tratadas coisas absolutamete anódinas, quer em termos artísticos, quer industriais...
Escusado será dizer que não é a origem familiar (de Rebecca Miller ou seja quem for) que está em causa. O que está em causa é que um filme como As Vidas Privadas de Pippa Lee, fortemente apoiado no trabalho dos actores, já não consegue merecer os favores do mercado, mesmo quando, como é o caso, esses actores têm nomes como Robin Wright Penn, Julianne Moore, Winona Ryder, Monica Bellucci ou Keanu Reeves.
Aliás, a questão dos actores é ainda escassa para caracterizar o problema. O que está em jogo é que este cinema de raiz melodramática, estruturado a partir de uma escrita de notável subtileza (Miller é também a argumentista), passou a ser tratado como "coisa" industrialmente secundária e comercialmente irrelevante (o que, entenda-se, está muito longe de ser um problema meramente português).
Digamos, por isso, da maneira mais linear: As Vidas Privadas de Pippa Lee é o fascinante retrato de uma mulher que luta por encontrar alguma harmonia entre infância, adolescência e idade adulta, quer dizer, entre as histórias, isto é, as vidas a que se refere o título. Pensando no património clássico de Hollywood, isto quer dizer também que a herança de Elia Kazan está bem viva. E para que não nos falte o aconchego de alguma simbologia, lembremos que uma das actrizes do filme, Zoe Kazan, é neta do autor de Esplendor na Relva.