quinta-feira, outubro 08, 2009

Irving Penn (1917 - 2009)

IRVING PENN
Achados de rua
1999

O americano Irving Penn, um dos gigantes da história da fotografia, morreu a 7 de Outubro na sua casa de Manhattan — contava 92 anos. Há poucas semanas, no Museu J. Paul Getty, de Los Angeles, tinha sido inaugurada uma exposição de 252 retratos de sua autoria, obtidos em 1950/51, intitulada Small Trades.
Nascido em Plainfield, New Jersey, a 16 de Junho de 1917, Penn teve uma carreira que, ao longo das décadas, permaneceu indissociável da revista Vogue. Foi aí que, no pós-guerra (em boa verdade, a partir do ano de 1943), desenvolveu um estilo eminentemente pessoal que, além do mais, veio questionar todas as regras da fotografia de moda — e da própria moda. A par de Richard Avedon (1923-2004), Penn foi um dos que arriscou colocar os modelos em poses menos austeras, fotografando-os em cenários tendencialmente "neutros", por vezes uma simples parede de cor discreta e uniforme. Mais do que isso, ousou dispensar os grandes aparatos de iluminação da clássica fotografia de moda (e também das imagens das estrelas de Hollywood), revalorizando a luz natural e a sensualidade dos seus efeitos na pele humana.
Não por acaso, a evolução da carreira de Penn [na foto, provavelmente nos anos 60] foi integrando uma prática sistemática do retrato, por vezes de nus, também ela profundamente liberal e desconcertante. Assim, no seu imenso portfolio, com a mesma envolvente nobreza iconográfica, encontramos nomes míticos das artes e do espectáculo (Pablo Picasso, Martha Graham, Igor Stravinsky, Marlene Dietrich, Tennessee Williams, etc., etc.), a par de figuras mais ou menos anónimas e esquecidas pela história (desde os indígenas da Nova Guiné até varredores das ruas de Londres).
A paixão pelo concreto — dos corpos e de todas as matérias — levou-o a praticar regularmente a natureza morta, quase sempre combinando, em arranjos hiper-elaborados, materiais "mortos" (peças de metal, máquinas, etc.) com frutos e elementos vegetais. Para a Vogue, assinou espantosas fotografias de entidades da vida prática — legumes e diversos condimentos gastronómicos, bâtons, caixas de cremes de maquillage, etc. — que tratava como verdadeiras e monumentais peças escultóricas.
Por certo a partir de tais pressuspostos, a partir do começo da década de 70 começou a recolher nas ruas pontas de cigarros para as fotografar no seu estúdio, apresentando-as depois em retratos gigantes, desafiando todas as proporções humanas — essa série constitui uma das mais eloquentes expressões de uma atitude eminentemente pop em que a reconversão formal dos detritos celebra uma visão funcional e descomplexada da arte, ao mesmo tempo valorizando o seu papel político de intervenção contra os efeitos correntes do consumo. No limite, Penn chegou a fazer naturezas mortas com cigarros [foto que abre este post].
Não deixa de ser interessante sublinhar que o site oficial de Irving Penn se limita a propor uma lista dos seus livros e mais algumas publicações relacionadas com o seu trabalho. Dir-se-ia é uma maneira de reconhecer o valor informativo da Internet, mas resistindo à acumulação babélica de imagens. Em boa verdade, nos seus muitos gestos revolucionários, Penn foi um primitivo que acreditou na fotografia como uma tarefa ciclópica, não de "reprodução" do mundo, antes de metódico confronto com o desejo que os objectos e os seres inscrevem nos nossos olhos.

IRVING PENN
Kate Moss
1996
>>> Obituário em The New York Times.
>>> Irving Penn na revista
The New Yorker.
>>> Irving Penn no
Masters of Photography.
>>> Irving Penn no
Photography Now.
>>> Sobre Irving Penn, Vogue USA:
"The Mighty Penn".