terça-feira, setembro 29, 2009

Eleições 2009: "Maria vai com as outras..."

Vincent van Gogh
Camponesa
1885

Eram 20h23 de domingo, dia 27, quando, na RTP1, Marcelo Rebelo de Sousa resumiu as previsões eleitorais através de um novo conceito: o de que as sondagens dos últimos dias geram um efeito de clonagem (a palavra é minha) e que, por isso, os eleitores tendem a favorecer quem vai à frente, adoptando uma atitude de “Maria vai com as outras” (as palavras são do comentador). Num ápice, Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu duas coisas tristes: primeiro, desvalorizar o trabalho das televisões que, apesar do populismo das programações, tentam compreender os movimentos sociais; segundo, legitimar a suposição de que muitos eleitores portugueses são imaturos.
Que contraponto tivemos para contrariar esta ligeireza? Em boa verdade, não foi fácil orientarmo-nos. Por um lado, as televisões investiram na criação de aparatos visuais que, para além do “conteúdo”, sugerissem uma “forma” mais ou menos sofisticada e futurista. Por outro lado, importa perguntar se essa agitação das imagens (e dos sons) gera pertinência informativa e precisão analítica. De facto, a profusão de números e gráficos favoreceu, por vezes, um barroquismo desmobilizador: quando uma imagem se limita a ostentar uma lógica de acumulação, o desejo de olhar vai-se anulando.
Aliás, voltando às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, importa dizer em sua defesa que ele se limita a encarnar um modelo de comunicação (?) que se tornou dominante: o de que é preciso dizer num brevíssimo instante aquilo que, eventualmente, levou horas a pensar ou uma vida inteira a encontrar. Por mim, como espectador, gostava de não ver profissionais talentosos a correr atrás de políticos, “exigindo-lhes” que digam numa fracção de segundo aquilo que, afinal, não têm gosto em dizer.