terça-feira, junho 30, 2009

Crónicas da Tailândia (5/10)

Continuamos a apresentar a série de dez crónicas publicadas no DN no âmbito de uma viagem à Tailândia que antecipa as comemorações dos 500 anos do primeiro encontro entre portugueses e tailandeses. Este texto foi publicado no DN a 18 de Junho com o título "Heranças de uma velha capital".

Noventa quilómetros a Norte de Banguecoque, já em plena planície central tailandesa, encontramos a velha capital do reino de Sião. Foi ali, em Ayutthaya, que o primeiro encontro do povo siamês com os portugueses aconteceu em 1511, abrindo portas para o rápido estabelecimento de uma comunidade permanente que ali se instalou, com vida florescente até ao ataque birmanês que, em 1767 destruíu a cidade e a reduziu às ruínas que ainda hoje podemos ver.
Nas margens do rio há vestígios dessa presença portuguesa, os mais visíveis nas fundações de uma igreja dominicana, hoje musealizada, ao lado da qual estão preservados corpos de membros da comunidade que ali fazia o seu quotidiano. Mesmo ao lado, numa casa à beira rio com um barco arrumado sob os pilares que a sustentam e elevam do chão, vive André. De porte elegante e sorriso permanente, tem 75 anos, foi em tempos pescador e vive casado há já 55 anos com Maria. Tem nove filhos, mostrando a sua casa uma multidão de fotos de família entre os santos de sua devoção. André explica, em thai, que é um dos poucos descendentes de portugueses que permaneceram em Ayutthaya depois do ataque birmanês e da posterior mudança da capital para o que hoje é Banguecoque. Cristão, vai todos os domingos à missa a uma igreja ali perto, construída pelos franceses no século XVII. Das três igrejas portuguesas da velha cidade restam hoje as ruínas da dominicana, estando as das outras duas (uma jesuíta e uma franciscana) por reencontrar. Da primeira, escavações no local esperado revelaram o que parece ser um templo budista. Da segunda, agricultores encontaram recentemente (numa propriedade hoje privada) ossos onde se crê estarem enterradas as suas fundações. O desafio é reconhecido pelos arqueólogos. Resta assegurar o financiamento para continuar os trabalhos.