sexta-feira, agosto 29, 2008

Violência dos blogs (8)

DAVID CRONENBERG Naked Lunch (1991)

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Um dos efeitos mais bizarros da (equívoca) democratização dos blogs é a (ainda mais equívoca) proximidade. Nasceu, assim, o bloguista que julga que está no mesmo plano de qualquer um dos seus interlocutores — e isso, para ele, não só é evidente, como se lhe afigura incontestável.
Claro que há uma dimensão caricata em tudo isto. Podemos resumi-la através da figura do autor anónimo que se acha naturalmente vocacionado para tratar por "tu" seja quem for que esteja do outro lado. Aliás, a caricatura redobra quando se reage a isso e o mesmíssimo autor se revolta porque alguém o quer obrigar a tratar os outros com o "respeito" devido aos "doutores"... Enfim, tudo descamba rapidamente para o ridículo e o patético.
Obviamente, não se está a discutir o mero formalismo do tratamento — até porque nenhum tratamento traduz, por si só, uma qualquer forma de respeito ou solidariedade (sabemos como muitos "V. Exa." são intencionalmente aplicados para transportar um implícito insulto). Trata-se, isso sim, de perguntar: como lidamos com as diferenças do outro?
De facto, a democracia comunicacional não é o súbito milagre de estarmos todos no mesmo plano. É mesmo algo inverso: é algo que nos permite perceber que, apesar de estarmos sempre em planos diferentes (por formação, experiência e sensibilidade), talvez seja possível edificar uma plataforma onde, pelo menos, possamos contemplar as nossas diferenças com mais nitidez. Na esfera dos blogs, os escravos da ideologia dominante vêem/escrevem a diferença do outro como uma ameaça à sua diferença — há um medo de pensar que grita que o outro, pensando diferente, só pode pensar mal.
Na violência dos blogs, a diferença do outro ("tu", "você", "Sr.", seja o que for) é sempre intolerável. Mais do que isso: importa massacrá-la através das mais torpes palavras de difamação. Em nome de quê? Em nome da respeitabilidade de quem decide insultar... Serão impensáveis estes modos grosseiros de estar na Internet? Talvez, mas são reais, ou melhor, existem como uma genuína e monstruosa realidade virtual.