sexta-feira, agosto 29, 2008

A primeira sinfonia de Obama

Não é por acaso que palavras como “histórico” ou “sinfonia” foram imediatamente aplicadas pelos comentadores da CNN, logo que Barack Obama terminou o seu espantoso discurso de aceitação de nomeação democrata para as presidenciais norte-americanas. Foi quase uma hora de palavra, com uma cadência que soube dosear ritmos e assuntos, como numa boa (longa) canção que se escuta e fica no ouvido sem esforço. Mas desta vez os refrões “change” e “yes we can”, que levantaram um coro de entusiastas durante as primárias deram lugar a uma exposição clara de um programa, sem meias tintas mesmo nas questões sociais menos unânimes. Obama não poupou ainda críticas à actual administração e mostrou, agressiva mas educadamente, à campanha de McCain (que descreveu como mais quatro anos do mesmo) que tem resposta sóbria e clara para as questões levantadas, da seriedade dos grandes temas da economia, saúde, educação, defesa e política externa às “acusações” recentemente levantadas pelos republicanos, umas falando de elitismo, outras do universo das celebridades... Obama virou magistralmente o jogo. Elitsmo, de facto, não mora ali. E, como deixou claro, as suas “celebridades” são as da família e do americano comum, a quem inteligentemente dedicou a candidatura. “Não é sobre mim, mas sobre todos vocês”, rematou... Pragmatismo, portanto, em vez de retórica. Inclusivo, ninguém ficando de fora... Foi um grande exemplo de capacidade de comunicação, frente a uma plateia de 84 mil lugares num estádio em Denver, no Colorado... Tinha o entusiasmo magnético de um acontecimento rock’n’roll. A inequívoca seriedade de um momento político. Mas a capacidade de falar claro, directo, sem recursos de estilo. Olhando em frente e não para trás... O modelo do político do século XXI tem já em Barack Obama um primeiro paradigma. O mais atípico e inesperado, talvez. Mas claramente uma força “real” de uma mudança que, como frisou, não chega de Washington... Chega a Washington. Pelo menos deixou claro que tem vontade e garra para lá chegar...