domingo, junho 29, 2008

Um talento precoce?

Em 2002, quando editou o seu primeiro romance, o norte-americano Nick McDonell tinha apenas 17 anos. Doze (no original Twelve) revelava histórias de violência e consumo de drogas vividas entre adolescentes nova iorquinos, filhos de famílias endinheiradas. Doze foi um sucesso editorial nos Estados Unidos e conheceu depois tradução e lançamento em mais de vinte países. Fizeram-se comparações a Brett Easton Ellis. E elogios ao ritmo e intensidade da narrativa. Nick McDonell era um "novo talento". Restava saber se era hype, fenómeno de um livro só. Ou se em Doze tinha encontrado primeiro capítulo de uma carreira na escrita...

O Terceiro Irmão surgiu em 2005, três anos depois de Doze. Tal como no primeiro romance, o livro sugere traços de afinidade do autor para com os cenários que acolhem a narrativa e os ambientes que recebem as personagens que cria. Construído por pequenos capítulos, definindo o rumo dos acontecimentos pela soma ordenada de fragmentos de acções, pensamentos ou memórias, O Terceiro Irmão divide palcos essencialmente entre Banguecoque (na Tailândia) e Nova Iorque. A vivência asiática, que em parte pode ser fruto de um estágio do autor na Time Asia durante o seu segundo ano em Harvard, define a primeira parte da história. O protagonista Mike é, não muito longe da experiência pessoal Nick McDonell, um jovem jornalista, de 19 anos, a cumprir um estágio em Hong Kong e estudante universitário. Enviado para acompanhar um sénior num trabalho em Banguecoque vê-se imerso num submundo que o força a repensar o seu universo pessoal. A segunda parte do livro transporta-nos para o caos da baixa de Manhattan no dia 11 de Setembro de 2001. O horror do ataque às Torres Gémeas partilha as preocupações do protagonista com os fantasmas que atormentam o irmão mais velho, Lyle, um dos quais não sendo mais que um "terceiro irmão" que, na verdade, não existe. Mas tal como o World Trade Center, a família de Mike é, no fim do dia, um destroço...

Contra o entusiasmo que acolheu Doze, o segundo romance de Nick McDonell dividiu opiniões. Os elogios de uns contrastam com as palavras mais cautelosas de outros. De facto, se a estrutura fragmentada da escrita e a evolução da narrativa em curtos capítulos revelam um gosto pela definição de um ritmo cativante de leitura em tudo fiel à lógica dos tempos em que vivemos, por outro O Terceiro Irmão acaba por transpirar um caso de mais olhos que barriga. A ligação entre as três partes é frágil. E dosear de protagonismos entre figuras e cenários da acção acaba por retirar algum peso ao “terceiro irmão” que dá título ao livro. Mais uma vez vale a pena reflectir sobre se um comportamento precoce é necessariamente indicador de talento futuro. E sobre as consequências do sucesso demasiado rápido.
PS. Versão editada e acrescentada de um texto publicado no DN a 16 de Junho