terça-feira, maio 27, 2008

Há, mas são verdes... (1)

Enquanto a sonda Phoenix visita Marte, o Sound + Vision vai recordar, ao longo das próximas semanas, alguns livros, filmes e discos nos quais o planeta vermelho e as formas de vida que a ficção nele criou são protagonistas. Começamos com um livro que toma Marte (e os marcianos) apenas como ponto de partida para a história da transformação de um ser humano e, depois, da Humanidade em geral. Trata-se de Um Estranho Numa Terra Estranha (no original A Stranger In A Strange Land), de Robert A. Heinlein. Originalmente publicado em 1962, numa versão severamente editada (retirando conteúdos considerados excessivos para os códigos da época, repostos no texto integral, editado apenas depois da morte do escritor), o livro relata a história de Valentine Michael Smith, um ser humano criado por marcianos que regressa à Terra e acaba por transformar as mentalidades e hábitos dos que o rodeiam. Vários subtextos cruzam a história, desde as jogadas políticas de quem procura chamar a si a posse de terrenos marcianos à criação de uma religião centrada em pressupostos completamente distintos dos que conhecemos nas diversas “fés” que conhecemos na Terra actual. A contracultura de 60 tomou o livro como quase um manifesto, pela forma como o texto veiculava reflexões invulgares para a época sobre temáticas como a liberdade individual e sexual, o desafio à afirmação da personalidade de cada um, num quadro crítico sobre os modelos de poder vigentes. Nos anos 60 uma seita foi inclusivamente criada sob inspiração no livro, tendo-se o autor imediatamente demarcado dela. A ficção pode reflectir sobre a realidade, mas não se deve tomar pelo real...
PS. O título do post traduz a inevitável resposta do astronauta quando, chegado da Terra, lhe perguntam se há marcianos em Marte...