quinta-feira, março 27, 2008

Em conversa: Mão Morta (3/3)

Concluímos hoje a publicação de uma entrevista (em três partes) com Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta. Este texto integral aqui publicado serviu de base a um artigo publicado na edição de 24 de Março do DN. A foto (tal como as dos posts anteriores, do espectáculo Maldoror) foi cedida pela Cobra Discos.

Maldoror, o disco está a ser vendido apenas nos espectáculos e no site da Cobra Discos...
É uma maneira diferente de editar. E uma maneira de controlar custos. A maneira como os preços dos discos em Portugal disparam é uma coisa incompreensível. Compro a maior parte dos discos em França, a metade do preço do que se vê cá. E os franceses ganham mais que cá se ganha. Há coisas que não se compreendem. Nós baixamos o preço, para que os discos possam ser vendidos a um preço razoável, mas depois vendem-se ao preço dos outros! Como é possível? Estamos a tentar fazer esse controle para que se possa dizer que os discos de Mão Morta custam apenas o preço que é justo pagar. Não há necessidade de fazer dos discos dos Mão Morta um objecto de ouro que não são. Temos de encontrar esquemas que façam com que os preços não subam. Para este Maldoror o esquema tem a ver com isso. Não há intermediários e somos nós quem controla o preço final. Mais tarde, se porventura houver sobras e o disco for para lojas, que haja pelo menos, também um controlo.

Terem uma editora vossa [a Cobra] a trabalhar a vossa própria música, é um valor acrescentado?
Para nós é. Dá-nos um controlo do que vendemos, de como vendemos. Dá-nos uma perspectiva de todo o circuito de comercialização que, de outra maneira, não teríamos.

E os Mão Morta passaram por todo o tipo de editoras, das multinacionais às independentes...
Exactamente. Mas não há nada como fazer esta quase auto-edição para termos uma noção mais real do que é todo o mundo da comercialização da música.

Quem tem hoje os direitos sobre a memória da música dos Mão Morta?
Depende. As coisas da BMG são da BMG e as da NorteSul são da NorteSul... O que era da Ama Romanta comprámos. E o que era da Área Total também foi comprado. E o resto pertence-nos a nós. O que é Cobra também é nossa. Só não temos direitos fonográficos sobre os quatro discos que editámos na BMG [Vénus em Chamas e Mão Morta Revisitada] e NorteSul [Há Já Muito Tempo Que Nesta Latrina o Ar Se Tornou Irrespirável e Primavera de Destroços].

Conseguem ter o grosso da vossa discografia nas vossas mãos. Pensam trabalhar esse fundo de catálogo?
Sim, estamos a pensar reeditá-los todos, a começar pelo Mutantes S.21. Essa será a prioridade em termos de reedição. Mas preferimos editar coisas novas a reeditar coisas antigas. De maneira que a coisa tem sido sempre adiada. Mas essa reedição, se não houver nada extra-Mão Morta, será agora a prioridade depois do Maldoror.

Vão reeditar o álbum também em vinil, para usar a BD que acompanhava o LP?
Temos várias hipóteses em cima da mesa e nada decidido ainda. Uma das hipóteses é o dois em um. Ou seja, reeditar em CD, mas com a BD. A ideia sempre foi, na Cobra, de fazer edições cuidadas. Estamos a pensar em abandonar o formato de digipack para fazer agora estes formatos como o do Maldoror. Formatos mais artesanais, que dão mais trabalho. Porque somos nós que colamos, que metemos os discos nas capas... Mas tem outro sabor.