quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Futebol sem público

Fim de tarde, princípio de noite do dia 27 de Fevereiro de 2008. Vendo algumas imagens televisivas dos jogos de futebol dos quartos de final da Taça de Portugal, aliás confirmadas por informações difundidas nas rádios, era fácil detectar um ponto comum a todos eles: a extrema escassez de espectadores nas bancadas (por vezes alguns pouquíssimos milhares em estádios com lotação superior a 50 mil lugares).
Irónico, sem dúvida. Muitos cidadãos do nosso país, alguns com responsabilidades mediáticas, gostam de proclamar, por exemplo, que "ninguém" vai ver filmes portugueses e outras manifestações artísticas... Entretanto, nunca se fala das limitações financeiras da produção do cinema português (literalmente miserável face aos milhões que o futebol movimenta). Nada se diz do quase nulo investimento na sua difusão e promoção (enquanto o futebol é objecto de divulgação maciça, diária, quase instante a instante). Ironia ainda maior se nos lembrarmos que os jogos citados envolviam três equipas "grandes" e, dessas três, apenas uma teve direito a transmissão televisiva: ao contrário do que acontece, por exemplo, em Inglaterra, não há uma cultura desportiva consistente que garanta uma popularidade global do futebol — apenas fenómenos de concentração de espectadores em alguns jogos.
Nada tenho contra o futebol e a sua magia enquanto jogo. Sou, aliás, um consumidor regular e interessado do futebol televisivo. Em situações como a desta quarta-feira, apenas acho que falta imaginação colectiva aos... cineastas portugueses! Sendo a sua actividade tão vulgarmente massacrada por muitos lugares-comuns, uns equívocos, outros simplesmente mentirosos, por que não dizem alguma coisa sobre estado de coisas? Era, pelo menos, uma maneira de deslocar o debate e introduzir algumas ideias frescas.
(Como se isto não bastasse, a jornada de quarta-feira foi, em termos puramente futebolísticos, um imenso e deprimente desastre...)