segunda-feira, dezembro 31, 2007

O melhor de 2007: os filmes

É a vez de recordarmos o espaço do cinema em 2007 — com algumas referências alternativas" (festivais, DVD, etc.), mas ainda privilegiando os títulos estreados nas salas.

J.L.:

Temos filmes. O morte do cinema é uma notícia francamente exagerada... Mas não temos mercado, ou melhor, temos agentes de mercado que, de um modo geral, dependem de uma lógica de difusão — selecção + promoção — que quase se esgota nos modos de vender blockbusters (e que possa haver blockbusters que sejam obras-primas não altera minimamente o problema). Daí duas consequências muito reveladoras, ambas profundamente nefastas, e nefastas, antes de tudo o mais, no plano comercial: primeiro, a arbitrariedade do calendário, com constantes marcações/desmarcações de estreias e também com tempos de exibição curtíssimos para a maioria dos filmes; depois, a "transferência" para a área do DVD de alguns lançamentos que poderiam ter lugar de destaque no circuito das salas (apenas um exemplo recente: a edição, directamente em DVD, de Away from Her/Longe Dela, de Sarah Polley, filme que vai acumulando prémios e nomeações, em especial para Julie Christie, e que, por certo, irá surgir na corrida para os Oscars). Dito isto, transfere-se para 2008 a pergunta simbólica: o cinema do futuro vai ser "mais" ou "menos" digital? Podemos responder apenas que será outra coisa que não a formatação televisiva.

1. Inland Empire, de David Lynch
2. Zodiac, de David Fincher
3. O Caimão, de Nanni Moretti
4. Zidane, Um Retrato do Século XXI, de Douglas Gordon e Philippe Parreno
5. O Bom Alemão, de Steven Soderbergh
6. Peões em Jogo, de Robert Redford
7. Promessas Perigosas, de David Cronenberg
8. Paranoid Park, de Gus Van Sant
9. Belle Toujours, de Manoel de Oliveira
10. Pecados Íntimos, de Todd Field

N.G.:


Fui menos ao cinema que em 2006. Fui, contudo, mais a festivais que no ano anterior. E aí, de facto, algumas grandes descobertas, do soberbo documentário sobre Scott Walker (que vi em Berlim), ainda à espera de saber se poderá ser visto por estas bandas, à revelação de Cam Archer que, depois de Larry Clark, é o segundo realizador a quem Gus Van Sant “apadrinha” (como produtor executivo) a sua primeira obra. A ficção científica conheceu um dos seus melhores filmes em anos com Sunshine – Missão Solar, de Danny Boyle. Fincher deu novo corpo e dimensão à era do digital no espantoso Zodiac. Os dois lados de um conflito, por Clint Eastwood, em Bandeiras dos Nossos Pais e Cartas de Iwo Jima, mostraram uma forma diferente de filmar a guerra. Florian Henckel von Donnersmarck levou a As Vidas dos Outros o terror silencioso dos dias de vigilância na velha Alemanha que se dizia “democrática”. Gus Van Sant regressa ao seu melhor em Paranoid Park. Gregg Araki, em primeira experiência de produção com melhores meios, fez de Mysterious Skin (que só este ano chegou a Portugal) um assombroso conto dos nossos dias. Todavia, nesse impulso de retratar a sociedade em que vivemos é imbatível o sublime Pecados Íntimos, de Todd Field. Assim como o é o espantoso Shortbus, reflexão (algo entre o cinema e as técnicas de construção das artes performatrivas) sobre a sexualização do quotidiano em que vivemos. Control, o biopic de Anton Corbijn sobre Ian Curtis mostrou sóbrio foco na figura, contando a sua história e não a do mito. Fados, de Carlos Saura, ensaiou visões ousadas e desafiantes ao fado, sublinhando um ano de particular exposição fora de portas para algumas das suas vozes. E, a fechar, o melhor de todos... As Canções de Amor, de Christophe Honoré. Ou, como compreender a força da cena “Kim Wilde” do anterior Em Paris e daí, juntando a herança do musical de Demy aos códigos nova vaga que já ensaiara, propor um musical que sabe transportar para um contexto actual todas essas genéticas preciosas do cinema francês. As canções de Alex Beaupain, naturalmente, a servir como suculentas cerejas pop sobre um bolo de excepção.

1. As Canções de Amor, de Christophe Honoré
2. Pecados Íntimos, de Todd Field
3. Shortbus, de John Cameron Mitchell
4. Control, de Anton Corbijn
5. Paranoid Park, de Gus Van Sant
6. Wild Tigers I Have Known, de Cam Archer
7. Zodiac, de David Fincher
8. Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood
9. As Vidas dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck
10. Fados, de Carlos Saura