domingo, dezembro 30, 2007

O melhor de 2007: Os discos

Começamos hoje a publicação das listas do que de melhor se ouviu e viu em 2007. Os discos, para já. Amanhã, o cinema.

N.G.:

Um ano intenso e cheio de grandes discos. No plano pop/rock internacional 2007 foi rico em grandes acontecimentos, sobretudo junto de figuras com algum tempo de carreira, umas já visíveis, outras agora finalmente reveladas ou reconhecidas (casos de John Vanderslice, Okkervil River, as duas “revelações”, que não o são, do ano). Bons regressos (Joni Mitchell a dar o dito por não dito e Duran Duran com o seu melhor álbum desde 1982). PJ Harvey ao piano. Thurston Moore a solo. White Stripes a manter firme um estatuto que, sabemos definitivamente, não se vai transformar em festa de estádio. Surpresa electrónica com o minimalismo elegante de Pantha du Prince. Confirmação pop de Patrick Wolf e dos The Shins. Pop de sonho com as Au Revoir Simone e Blond Redhead. Pop caleidoscópica dos Of Montreal. Rufus brilhante, ora nas suas canções, ora nas que Judy Garland cantou em 1961 no Carnegie Hall. Na clássica, destaque para a continuação da revelação da obra do ucraniano Valentin Silvestrov, através do catálogo da ECM. E para uma colaboração entre Philip Glass e Leonard Cohen, Na música portuguesa, novamente em evidência Bernardo Sassetti, com a música de Dúvida, peça recentemente reposta no Maria Matos (ver lista nacional mais abaixo).
Disco do ano? Person Pitch, de Panda Bear. Uma abordagem nova e entusiasmante à arte de fazer canções. Sons do mundo real, dos espaços em volta, entram no mundo de fantasias manipuladas por máquinas, sobre as quais a voz optimista de Noah Lennox entoa melodias que lhe mereceram comparações ao tom solarengo dos Beach Boys de 60. Curiosamente, o sol que ilumina estas canções é o de Lisboa, e poucos discos como este sabem mostrar o som do presente numa cidade cada vez mais aberta ao mundo.

1. Panda Bear “Person Pitch”
2. The Shins “Wincing The Night Away”
3. Blonde Redhead “23”
4. Au Revoir Simone “The Bird Of Music”
5. Philip Glass + Leonard Cohen “Book Of Longing”
6. Of Montreal “Hissing Fauna, Are You The Destroyer?”
7. The Good The Bad and The Queen “The Good The Bad and The Queen”
8. Okkervil River “The Stage Names”
9. John Vanderslice “Emmerald City”
10. Valentin Silvestrov “Bagatellen und Serenaden”

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Nacional: Um ano bizarro para a música feita em Portugal. Foi a que mais se vendeu. Mas, como nunca, a quantidade não se projecta na qualidade da oferta. E, aí, apesar de não ter sido o descalabro de 2006, o ano foi ainda aquém do que se viu em tempos passados. Há sinais interessantes de movimentações novas, em português, para possível edição em 2008. De 2007 fica contudo apenas uma mão cheia de álbuns que cumprem, poucos os que surpreendem, menos ainda os que ficarão registados na história, Destaque, aqui, para apenas Bernardo Sassetti, David Fonseca e para os melhores discos, até aqui, dos Micro Áudio Waves e Warygunn. E, claro, para uma sólida homenagem a Adriano Correia de Oliveira que mostra que, com bom casting, um tributo pode resultar.

1. Benardo Sassetti “Dúvida”
2. David Fonseca “Dreams In Colour”
3. Micro Áudio Waves “Odd Size Baggage”
4. Wraygunn “Shangri-La”
5. Vários “Adriano Aqui e Agora”
6. Vários “Fados: Banda Sonora Original”
7. Vários “Lisboa”
8. Clã “Cintura”
9. Pontos Negros “Pontos Negros (EP)”
10. U-Clic “Console Pupils”

J.L.:

Não ouvi todos os discos que queria ouvir... E entre os que nunca pensei ouvir, sobretudo os que em absoluto desconheço, estarão, por certo, maravilhas que me escapam — faço o aviso, confesso, apenas porque odeio o mito da totalidade e também porque não me consigo dar bem com os caçadores dos títulos que “faltam” ou, pior do que isso, com os “cientistas” dos gostos.
Dito isto, acredito que desse lado está uma maioria de ouvintes/leitores/bloguistas que, mesmo não se reconhecendo nesta lista, não se deram mal com as músicas de 2007. Foi possível descobrir, afinal, que entre a revisitação do passado (Rufus, Patti, etc.) e as sínteses do futuro (The Brazilian Girls, pourquoi pas?) há uma multidão de sons que falam às nossas alegrias e medos, com delicadeza, rigor e serena compulsão poética. Mister H.H. está em primeiro, não por qualquer conflito “competitivo”, mas porque o seu álbum de canções de Joni Mitchell me parece uma espécie de cruzamento utópico do melhor da música contemporânea: sem modernismos rebeldes nem divagações maneiristas — apenas porque tudo lá cabe, do romanesco da canção clássica às deambulações do jazz, sem nunca se esgotar numa mera antologia de referências. Já agora, Amy Winehouse pertence à mesma família: oxalá saiba sobreviver, mesmo sendo alvo da estupidez tablóide.

1. Herbie Hancock “River”
2. Amy Winehouse “Back To Black”
3. Rufus Wainwright “Rufus Does Judy at Carnegie Hall”
4. PJ Harvey “White Chalk”
5. Patti Smith “Twelve”
6. Bruce Springsteen “Magic”
7. Björk “Volta”
8. Okkervil River “The Stage Names”
9. The Noisettes “What’s The Time, Mr Wolf?”
10. Brazilian Girls “Talk To La Bomb”