quinta-feira, dezembro 13, 2007

Em conversa: Okkervil River (2)

Andy Warhol usava frequentemente a citação. Na vossa música também o fazem. Citam Sloop John B dos Beach Boys, ou uma série de canções pop em Plus Ones...
Na verdade, Warhol foi uma influência enorme na concepção deste álbum, no pensar daquilo que eu queria que este disco fosse. Atrai-me muito aquela ideia da Nova Iorque de meados de 60, com pessoas meio loucas a entrar e sair da Factory, toda a gente a tomar speed, a dormir uns com os outros e a fazer arte meio louca... Pesoas belas, estranhas... Essa atmosfera interessou-me. Mas falando em concreto das citações que há no disco reconheço que, aí, é o melómano quem fala, tentando comunicar a quem o ouve o quão gosta destas músicas que ouviu ao longo dos anos.

O vosso nome pode ser visto como uma citação [a um conto de Tatyana Tolstaya]?
Hesitaria ao dar essa resposta por definitiva... Há quem pense que sim... Há quem diga que somos uma banda literária. Mas isso pareceria pretencioso. Gosto de ler, contudo...

Muitas vidas de escritores dão grandes livros. O mesmo é possível, para um músico, através de um disco?
Sim, sem dúvida. Tudo o que nos acontece pode ser expresso numa canção, num texto ou numa pintura. Seja um retrato realista do que aconteceu, de facto, seja por uma via mais indirecta. As experiências pelas quais passamos fazem parte de processos de aprendizagem. E por isso abam naturalmente reflectidas nas obras de arte.

Como decide se usa a realidade ou a ficção com possíveis pontos de partida para a criação?
Não sei bem como acontece...

É intuitivo?
Não sei explicar... O que acontece é que sinto que junto palavras às melodias. E não sei como...

Parte de pontos de ideias concretas quando escreve canções ou acaba surpreendido pelas palavras que aparecem?
É mais a segunda hipótese. Sinto que há ideias que me surgem do nada... E então reconheço que são peças que posso juntar numa canção. Não falo de ideias que queira expressar, temas ou mesmo palavras. É mais uma espécie de sensação de algo, que parece trazer algo escondido.

Surpreende-se com as suas próprias ideias?
Sim, bastante. Nunca sei onde começo. Nunca sei, antes da ideia surgir, o que vai acontecer na canção. E as canções mudam muito, à medida que as componho.

Comparando The Stage Names com discos anteriores, em particular Black Sheep Boy, verificamos que este é um disco mais próximo de uma ideia de montra de retratos do dia a dia...
Sim. O universo de Black Sheep Boy era do domínio da fantasia. Um mundo sombrio de fantasia. O Stage Names tem mais a ver com espaços do dia a dia...

Fala, por exemplo, e em concreto, da geração de músicos criados no ‘American Idol’...
De facto... Há muitas personagens neste disco. Vejo-as como personagens de ficção... Imagino-as até num melodrama. Penso sobretudo num filme de Douglas Sirk. Parte da sua melancolia e dor, que são visivelmente de ficção, tem muito a ver com o sentido de realismo das emoções de que se fala. Há uma dor genuína.
(conclui amanhã)