sábado, agosto 11, 2007

Em conversa: Human League (4)

Terminamos hoje a publicação de uma entrevista com Phil Oakey, vocalista dos Human League. Hoje fala-nos de memórias na primeira pessoa e revela que entrou no grupo porque era... alto. Avança ainda notícias sobre um novo álbum de originais. As perguntas e respostas foram registadas há perto de duas semanaa, antes do concertro lisboeta do grupo. Algumas surgiram, em forma editada, no DN de dia 4 de Agosto.

Teve outros empregos depois do sucesso com os Human League?
Não. Tenho aprendido este ofício de fazer música, sem outras distracções, há já mais de 20 anos.

Mas teve outros empregos antes…
Fui porteiro de um hospital. E de um teatro… E trabalhei numa livraria universitária.

E como é que a música o roubou a esses empregos?
Conhecia o Martin Ware e o Ian Marsh, que tinham um grupo. Desentenderam-se com um outro tipo que trabalhava com eles. E juntei-me a eles. Creio que me chamaram porque era alto… Acho que foi a única razão…

Já tinha aquele penteado bizarro que depois fez escola?
Já o tinha antes. Já o tinha quando trabalhava no hospital e no teatro. Era mais comprido de um lado que do outro.

E como é que a música o cativou?
Aí a “culpa” é dos Roxy Music e do David Bowie! Eles mudaram as nossas vidas! E por causa deles quisemos ser diferentes. Por isso os Human League sempre foram uma alternativa. Há muitas bandas iguais. Além disso rejeitamos o rock. Somos mais teatro que rock. Preferimos ser mais Laranja Mecânica que Motorhead…

O vosso palco ideal seria o Korowa Milk Bar?
Sim, mas menos sexista.

Já compunha canções antes de se juntar aos Human League?
Não, de modo algum... De resto, nessa altura estava casado e a minha mulher dizia que eu não sabia cantar! Foi com graças ao Martin e do Ian [hoje nos Heaven 17] que consegui aprender a fazer música. Quando pequei na letra do Being Bolied, por exemplo, não consegui encontrar o ritmo à primeira. Os amigos ajudaram-me muito.

Que canção dos Human League gostaria de ver reconhecida daqui a 100 anos?
Diria que a melhor que compus foi o Mirror Man. Estou a falar da letra. Tentei fazer uma coisa ao jeito da parceria Holland Dozier Holland.

Não se cansa de ter de cantar, recorrentemente, canções como Don’t You Want Me e Together In Electric Dreams?
Nem por isso, porque sei que tenho a sorte de o poder fazer. Sou um tipo normal, e foi um privilégio ter podido fazer esta vida. Por isso não me aborreço.

Neste momento está a trabalhar no novo álbum. O que nos pode avançar?
Tenho estado a trabalhar com um novo percussionista. Pensamos ter as maquetes terminadas quando a digressão chegar ao fim, o que deverá acontecer em Dezembro. Já temos publisher... Depois terei de escrever as letras... Mas as canções são as que soam mais a Human League que as que fizemos de há muito para cá...

E o que é soar a Human League?
O fundo deve ser inteiramente sintético. A única gravação possível com um microfone é a voz. Usamos gravação digital, mas estamos a trabalhar com sintetizadores analógicos. Queremos pequenas imprecisões... Rejeitamos a perfeição dos instrumentos digitais.

Porque são os Human League vistos hoje como referência?
Creio que tivemos a sorte de estar no lugar certo na altura certa. Apenas isso. Mas não somos melhores que os Kraftwerk nem que os Pet Shop Boys. Somos apenas um degrau no processo.

Como sobreviveram numa indústria que exige a novidade e a visibilidade permanentes?
Felizmente nunca saímos da nossa cidade: Sheffield. Nunca entrámos na cena das festas de Londres. Ainda vivemos perto dos pais da Suzan e Joanne. Nunca perdemos o contacto com a familia. E sempre fomos um pouco cínicos e suspeitámos sempre de toda a gente. Muita gente em bandas pop é ingénua. Nunca o fomos. Se um tipo nos entra porta dentro, de fato e gravata, a dizer que nos vai fazer ganhar um milhão, dizemos-lhe “boa sorte”! Só acreditamos se o provar… Se nos desafiarem para irmos a um programa de televisão com regras bizarras não vamos. De resto, boicotámos até presentas em alguns programas.

Como por exemplo?
O Solid Gold, na América. Era o único de música programa transmitido à escala nacional, nos EUA, quando lá fomos pela primeira vez [em 1981]. Tinham sempre dançarinos… Dissémos-lhes que não trabalhávamos com dançarinos. Tinhamos a Suzanne e a Joanne e não queríamos que os espectadores confundissem que era com quem não era da banda. Disseram que não podiam tirar os dançarinos. Os profissionais de televisão são sempre arrogantes… E nós cancelámos a presença no programa. Responderam-nos que a decisão nos ia custar o sucesso na América. Mas três semanas depois éramos número um.

Essa foi uma boa decisão. Mas há outras que lamente?
Deveríamos ter trabalhado mais…

Como assim…
Deveríamos ter feito mais discos. E guardado o dinheiro num banco. Fazemos isto porque gostamos de música. Mas as nossas vidas evoluem, temos de comprar uma casa para viver... E a mobília...