quarta-feira, agosto 08, 2007

Em conversa: Human League (2)

Continuamos hoje a publicar uma entrevista com Philip Oakey. As perguntas e respostas do post de hoje correspondem a uma entrevista publicada no DNmais em 2002. Fala-se, hoje, dos primeiros dias dos Human League, em finais dos anos 70, antes do sucesso que só chegou em 1981 com Dare! A foto que ilustra o post é imagem promocional usada nessa altura e mostra a formação original do grupo.

Que impacte tiveram em vós os pioneiros electrónicos de 70?
Foram referências fundamentais. Não escutávamos muito os Tangerine Dream... Não conhecíamos então os Can que, para ser honesto, só agora estou a aprender a conhecer... Já os Kraftwerk tiveram outro impacte, até porque nos mostraram, claramente, o que podíamos fazer. Havia também outros nomes que nos influenciaram então, como o Jean Michel Jarre, o Daniel Miller e também o Georgio Moroder... De resto, I Feel Love, de Moroder, foi uma peça fundamental para nós. Queríamos ser uma espécie de novos Donna Summer(s)...

Mas com um clima mais sinistro...
Era verdade, talvez por sermos rapazes do Norte de Inglaterra que tinham visto muitos filmes de ficção científica.

É isso que define o "ambiente" de Sheffield, de onde vêm?
Sem dúvida.

Como justifica o facto de Sheffield nos ter dado tantas bandas electrónicas na alvorada de 80?
Nunca obtive uma explicação definitiva para esse facto. Éramos uma cidade muito continental... O único lugar onde vou e sinto haver afinidades com Sheffield é a cidade de Colónia, na Alemanha.Na altura não sofremos a taxa de desemprego de outras cidades inglesas, e podíamos comprar os instrumentos que nem eram astronomicamente caros. Tínhamos de fazer horas extraordinárias para os pagar, é certo, mas isso ainda não mudou... Sheffield era, também, uma cidade consideravelmente arty. A cidade adorava os Roxy Music e David Bowie...

Não havia, também, uma certa dinâmica punk nas entrelinhas dos primeiros registos dos Human League?
Nunca teríamos conseguido fazer nada se não tivesse acontecido o fenómeno punk. Mudou a forma de encarar a música e o ser-se músico. Gostávamos muito dos Clash, que eram também muito populares em Sheffield. Mostraram-nos que não tínhamos de ser exemplares nem geniais. Podíamos apenas procurar expressar-nos.

Apesar do clima menos luminoso dos primeiros discos, pontualmente apareciam nos vossos discos frestas de calor pop, como o Empire State Human . Essa semente já lá estava...
Era a tal procura de sentido na herança de Giorgio Moroder. Ele foi, de resto, a grande inspiração para essa canção.

Mas algo muda de Travelogue para Dare... E o som ilumina-se.
A equipa envolvida tem muito a ver com o que mudou. Em primeiro lugar há logo que destacar a presença das vozes femininas, que aligeiraram muito a intensidade do som. A luz em vez da sombra...Tínhamos de seguir naquele sentido. Tínhamos uma dívida enorme, na ordem das 50 mil libras, com a editora. Ou fazíamos um disco que nos ajudasse e à nossa carreira, ou acabava tudo e voltávamos a trabalhar em hospitais. Era o momento de avançar...

As "meninas", assim como os penteados, trouxeram também um toque glam ao grupo...
Aí era uma reacção de oposição de época à estética visual do punk e, de certa forma, uma herança dos Roxy Music e de David Bowie. De certa forma assumimos frontalmente uma pose de estrelato, política que muitos grupos rejeitavam em absoluto. Veja-se o caso dos Pink Floyd, que vendiam milhões de discos... Não era essa a nossa posição. Éramos uma banda muito visual. Gostávamos de cinema e de trabalhar com imagens em geral.De resto, fizemos nós mesmos as capas dos nossos primeiros discos
(continua amanhã)