terça-feira, agosto 07, 2007

Em conversa: Human League (1)

Iniciamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Phil Oakey, vocalista dos Human League. A sua versão editada surgiu no passado sábado no DN.

Qual o segredo que mantém uma banda por quase 30 anos?
Talvez o facto de sermos únicos. Não no sentido de sermos geniais, mas por não termos concorrência. A maior parte das bandas são um pouco parecidas com outras bandas. E nós tentámos sempre ser diferentes. Há bandas que soam a Ramones, a Motorhead, a Kraftwerk… Nós temos uma identidade.

A nostalgia explica as plateias que ainda hoje reúnem à vossa frente?
Creio que a base que justifica o nosso público é a nostalgia, sim… Apenas porque estamos aí, e a tocar na rádio, há mais de 25 anos. Temos quase 30 anos como banda, mas as pessoas só nos descobriram em 1981. Mas também tivémos muita sorte de ter participado na criação de um novo som. Antes de nós não havia nada igual…

Antes de vós a pop fazia-se esencialmente com guitarras. O que vos levou a imaginar que a pop seria também possível só com sintetizadores?
Em primeiro lugar éramos admiradores da música pop. Gostávamos de algum rock progresivo, como os Van der Graaf Generador. E um de nós, o Martin Ware, confessou que gostava dos Slade. Então resolvemos não ser pretenciosos, não ser arty. Não íamos fazer música de vanguarda. Íamos fazer pop. Adorávamos Donna Summer e os Abba. Eu trabalhava como porteiro e tinha acesso livre a telefones. E havia uma linha para a qual podíamos ligar e ouvir álbuns pop inteiros. Cada vez que saía um disco novo dos Abba ouvia-o inteiro. Cada um era melhor que o anterior! Além dos discos, houve a influência do filme A Laranja Mecânica, que também nos marcou bastante.

Quando o grupo começou, o trabalho com os sintetizadores era já uma certeza para os Human League?
Essa era a ideia dos músicos que criaram o grupo percursor dos Human League, que se chamava The Future [e que mais tarde saíram para formar os Heaven 17, mais concretamente Ian Wright e Martin Ware]. Eu também só queria trabalhar com sintetizadores. Ainda hoje sinto que só me sinto bem a lidar com sintetizadores, até porque não domino nenhum outro instrumento. Perco-me... Se um músico entra em estúdio para tocar guitarra é porque eu não posso dar o meu contributo nesse momento. Nem sei mesmo ver, se algo soa mal, o que é que está errado. É um mistério para mim.

Antes de vós, Gary Numan teve um, número um com Are Friends Electric? Esperavam que a pop feita com electrónica alcançasse o êxito que de facto veio a ter?
Todos o sabíamos. A única questão em aberto era ver quem seria o primeiro. Creio que começámos bem, com bons concertos e um par de álbuns interessantes, mas no início havia gente a fazer música mais comercial e, devo dizer, bem melhor que a nossa. Veja-se o Electricity dos Orchesltral Manouevers in the Dark… Pensávamos que íamos falhar…

Os Human League são uma banda da grande familia pós-punk britânica. Porque foi esse período tão creativo?
Foi muito creativo sim. E uma das razões foi o facto de termos tentado afastar de nós uma ideia de elitismo. Mas para mim o período mais creativo de sempre foi o do disco. O nascimento do disco, a sua capacidade para optar por sintetizadores, cordas ou mesmo xilofones… Não havia limites! E acima de tudo havia sempre um protagonismo na abordagem à voz.
(continua amanhã)