segunda-feira, junho 25, 2007

Discos da semana, 25 de Junho

Inicialmente lançada em 1996 pelo clube de fãs francês do grupo, a compilação The In Sound From Way Out! revelava um dos mais deslumbrantes olhares alternativos pela música dos Beastie Boys. Ao juntar num só disco versões instrumentais de Check Your Head e Ill Communication, completando alinhamento com alguns inéditos, o disco revelava elegância e ecletismo na cenografia por vezes secundarizada da obra do trio nova-iorquino. Para muitos (e aqui incluo-me na lista) esse ainda hoje é o melhor disco dos Beastie Boys. Daí que, durante anos, a ideia de um disco de instrumentais dos Beastie Boys fosse sonho desejado. Não há muito tempo, numa ocasião em estúdio, registaram um instrumental. Gostaram. A coisa ganhou fôlego e, de repente, tinham um álbum em mãos. Um álbum contudo diferente, porque feito de uma relação com instrumentos “clássicos” (ou seja, tocados pelos próprios músicos) e não nascido de jogos de corte e colagem. Contudo, The Mix Up é quase uma desilusão. Parece mais maquete de uma valente jam session, com os músicos claramente entregues ao prazer de tocar mas sobre a qual não parece haver depois a necessária dose de reflexão (e posterior acção). O disco pode querer significar uma fuga ao processo habitual de construção musical do grupo, camada pensada sobre camada, intenção sobre intenção, manipulação sobre manipulação. Pelo contrário, tudo aqui aponta para uma lógica de esboço de ideias e acção directa, a música mostrada como surgiu, coligindo os instrumentais algumas das referências que parecem naturais ao grupo, funk, psicadelismo, rock, travo jazzy, beats, numa aparente sessão tranquila que mais parece coisa de dia de folga que fruto de árduo trabalho... Interessante, claro, mas em nada surpreendente, muito menos genial.
Beastie Boys
“The Mix Up”
Capitol / EMI
3/5
Para ouvir: MySpace


Manda o preconceito que, perante disco feito por DJs, será mais que certa a apresentação de um ou mais caminhos dentro daquele grande universo (mais feito de destinos práticos que de atitudes estéticas) a que vulgarmente se chama a música de dança. Manda? Errado! Eis-nos perante uma prova em contrário (mas que, não deixa de, a momentos, convocar quem o entender à dança). Os Maps Of Africa são Harvey Basset (também conhecido como DJ Harvey) e Thomas Bullock (ou seja, metade dos Rub’n’Tug). E ao contrário de recentes outras manifestações de desafio por músicos vindos destas bandas, não trazem para um álbum, claramente de reflexão sobre rotas e destinos pop/rock, as condimentações punk, pós-punk e kraut em voga. Map Of Africa é um mundo intrigante e, convenhamos, de geografia bizarra. Com origem britânica, o duo encontrou casa no estado de Nova Iorque e aí criou uma viagem sugerida que passa pela assimilação das genéticas do funk, pragmatismos dub e, sobretudo, mergulhos de reencontro com heranças primordiais do rock (e talvez nesse sentido se explique a noção de África, como mãe genética de todos nós). O disco é uma amálgama de ideias e visões, que partem da convocação de velhos ícones de 70 (dos Pink Floyd aos Black Sabnbath), procurando deles fazer brotar uma música que seja veículo para a reinvenção dessas sugestões num contexto actual, onde as guitarras ditam a lei mas as máquinas estão também presentes. Por vezes, como em Get Outta Bed, aproximam-se dos LCD Soundystem (com quem já colaboraram). Em Plastic Surgery quase antecipam o que poderão ser uns Franz Ferdinand de tempero electrónico. Mas, na essência, vivem aqui uma aventura de descoberta. Para já, contudo, mais de interessantes ensaios que de grandes e definitivos achados. Map Of Africa
“Map Of Africa”

Whatever We Want / Flur
3/5
Para ouvir: MySpace


O filão "pós-pós-punk" continua bem activo. O que não quer necessariamente significar que esteja de boa saúde e a dar-nos discos que justifiquem o entusiasmo que mereceram nos últimos anos. Antes pelo contrário... Apesar da evidente colagem aos norte-americanos Interpol, os Editors, nascidos de um colectivo de universitários em Birmingham, fizeram do seu álbum de estreia (The Back Room, em 2005) um dos mais convincentes herdeiros de um rock sombrio, de afinidades com a memória gótica, entre os parceiros de geração. Munich, Blood ou All Sparks viraram hinos, que conquistaram sobretudo depois de tocados ao vivo. O sucessor, era, como não podia deixar de ser, aguardado em alguns círculos com alguma ansiedade. Porém, e como tantos outros "segundos álbuns" desta geração "pós-pós-punk", acabam agora irremediavelmente atolados nas armadilhas do que começaram a ver como referências. Nas novas canções mostram-se incapazes (ou sem vontade) de ultrapassar as marcas de época de um rock sombrio, de geração de 80, que estimularam o primeiro disco. Citaram bem à primeira vez. Mas não parecem capazes de avançar para o passo seguinte sem se repetir. De novo, de resto, juntam apenas às canções uma irritante avidez por uma grandiosidade sinfonista inconsequente, por vezes resvalando mesmo nas armadilhas (ou decalques) de insuportáveis mimetismos aos Coldplay. A voz, ainda segura e claramente dramática de Tom Smith, é agora afogada entre camadas de som e mais som, e por aí adiante, escondendo as canções por detrás de tanta roupa que quase lhes perdemos a noção da forma. Agora é que vai ser um êxito!
Editors
“An End Has A Start”
Pias / Edel
2/5
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Natural de Houston (Texas), Jana Hunter foi, com Blank Unstaring Heirs Of Doom (2005), a responsável pela estreia em disco da independente Gnomonsong (de Devendra Banhart e Andy Cabic). A sua vida musica já a levou a pisar palcos com várias bandas (presentemente milita nos Jracula) e a gravar com diversas figuras (entre as quais Chris Bishop, da “família” Elephant 6). Para o seu segundo álbum Jana dá um evidente passo em frente, afastando-se claramente do som quase ingénuo do álbum de estreia. There’s No Home revela uma outra ambição e capacidade de concretização. O disco alterna entre a revelação de pequenos mundos interiores, e a discreta exposição de uma nova luz. O alinhamento abre com um convite à meditação em Palms, daí partindo Jana Hunter (e amigos convocados a estúdio) à descoberta de canções directas, frequentemente abaixo da fasquia dos três minutos de duração. Jana Hunter mostra aqui como é possível a coexistência de uma música com evidências de genéticas rurais, ou seja, de simplicidade evidente nas formas, com uma poética por vezes elaborada, desafiante, ocasionalmente no limiar de uma certa abstracção. Aplicar-lhe o rótulo freak folk é descrição hoje redutora para uma personalidade artística que aqui encontramos em claro processo de evolução (e consequente busca da expressão ideal para uma personalidade de traços já evidentes). There’s No Home é sinal claro de busca por um lugar seu, que dispensa hoje o artifício e busca, acima de tudo, um novo sentido de verdade. Um nome e uma voz a ter sob observação.
Jana Hunter
“There’s No Home”

Gnomonsong / Sabotage
3/5
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O primeiro disco de Marc Almond depois do aparatoso acidente que quase lhe tirou a vida em 2004 devolve-o a terreno seguro em duas frentes. Ou seja, Stardom Road é um disco apenas feito de versões, a todas elas aplicada a incontornável operação de maquilhagem que as acaba por transformar a todas em... torch songs! Não é de facto a primeira vez que Almond entrega a totalidade do alinhamento de um álbum seu a canções de terceiros. Fê-lo em 1989 em Jacques, reinventando à sua maneira uma mão cheia de clássicos de Brel. Da chanson vieram as sugestões e pistas para Absynthe, em 1993. E da Rússia, as inesperadas canções que registou no menos inspirado Heart On Snow (2003). Desta vez a receita é simples e muito sua: clássicos bizarros ou esquecidos da tradição pop, escolhidas num intervalo entre 1959 (o ano em que nasceu) e finais de 70 (quando formou com Dave Ball os Soft Cell). Os resultados são contudo irregulares. Bobby Darin pode ter sido um dos seus ícones de inspiração para este projecto, mas as leituras de Dream Lover e The Curtain Falls são pouco entusiasmantes. Ainda em campeonato crooner, Stranger In The Night é constrangedor... Mais convincente é o dueto com Sarah Cracknell em I Close My Eyes And Count To Ten (de Dusty Springfield) ou a reinvenção sinfonista de London Boy (do álbum de 1967 de Bowie). Intensa e dramática é, depois, a colaboração com Antony Hegarthy na recriação de The Ballad Of The Sad Young Men, de Shirley Bassey. Marc Almond sempre teve particular gosto pela recriação de canções de terceiros. Tainted Love (ainda com os Soft Cell), Something’s Gotten Hold Of My Heart ou The Days Of Pearly Spencer são hoje mais célebres na sua voz que nos originais. Stardom Road, contudo, raras vezes está ao nível do seu melhor.
Marc Almond
“Stardom Road”

Sequel / Edel
2/5
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Também esta semana:
Philip Glass, Sebadoh, The Bravery (ed local), U2 (DVD), Pedro Abrunhosa

Brevemente:
2 de Julho: Chemical Brothers, Jorge Palma, Crowded House, Blondie (reedição), Depeche Mode (reedição), Frank Black, Clinic, Ryan Adams, Komputer, Happy Mondays, PolyPhonic Spree, Datarock
9 de Julho: Interpol, Philip Glass (archive edition), Buffalo Tom, Smashing Pumpkins

Julho: O. Golijov, David Bowie (DVD)

Estas datas podem ser alteradas pelas editoras a todo o momento