domingo, fevereiro 18, 2007

Uma cultura de restos

Encontrei esta informação em dois blogues: o de Francisco Rui Cádima (irreal tv) e o do Projecto Mediascópio, da Universidade do Minho (Jornalismo & Comunicação). Por sua vez, ambos remetiam para análises recentemente divulgadas pela MediaMonitor, a partir de dados coligidos pela Marktest.
É muito simples descortinar as tendências dominantes que aqui se sistematizam. Cada área de programação é resumida em função da oferta e da procura, ou seja, da percentagem de programas nessa área e da respectiva "procura"/audiências. Tendo em conta que a esmagadora maioria da "ficção" (25,4%) são telenovelas e seus derivados, que o "divertimento" (14,5%) é dominado por sinistros reality shows e penosos concursos, enfim, que a "publicidade" (16,4%) representa quase um sexto dos tempos de emissão, há uma dedução muito simples a extrair: cerca de metade (ou mais...) das nossas televisões está ocupada por produtos que reduzem os espectadores a um infantilismo militante. Daí uma velha verdade, cuja actualidade se mantém: avaliar as "opções" dos espectadores de televisão pelos números das audiências é uma maneira simplista — e, quase sempre, demagógica — de escamotear o facto de... não haver opções!
Do meu ponto de vista, importa discutir a própria terminologia da parcela mais curta, a chamada "arte e cultura". De facto, tudo o resto também é cultural — as opções dominantes na área da ficção, do divertimento e da publicidade (e da própria informação, hélas!) definem e consagram uma cultura da preguiça mental, da banalização humana e da desresponsabilização individual. Em todo o caso, mesmo não lidando de momento com essa fundamental questão filosófica e política, importa fixar o resto dos restos: 0,3% para a área de "arte e cultura" é uma vergonha mediática. E que a procura seja 0,0% é algo que importa considerar na sua mais crua objectividade: não se pode procurar — nem encontrar — o que não está lá.