terça-feira, outubro 17, 2006

O concerto do ano!

Como é possível fazer tanto com tão pouco? Um violino, um sampler (com pedais), um teclado, um retroprojector (sim, daqueles que usávamos em Biologia para ver as explicações da fotossíntese). Um músico. E uma “cineasta” que, sobre o retroprojector, com nada mais que transparências e pontuais jogos de sombras, fazia “filmes” ao vivo, um a cada nova canção.
Se em Agosto o concerto no Sudoeste tinha já sabido ao que de melhor se tinha visto e ouvido em palco este ano entre nós, Owen Pallett superou-se a si mesmo e deu-nos “o concerto do ano” em noite de casa quase cheia no Clube Lua. É certo que a contaminação da música pelas imagens tem o seu peso na construção de uma noite com tamanha capacidade de sedução. Os desenhos, oportunos ou inesperados, são ilustração inteligente e cativante, ora sugerindo palavras ou formas, ora contando mesmo histórias. Se há denominador comum a Owen e à sua convidada em palco, a palavra criatividade lê-se na primeira linha. Sensibilidade, logo a seguir.
Mas nem só da soberba ideia visual vive este concerto. Por um lado é sempre cativante ver a construção, ao vivo, dos loops e da forma como acabam sobrepostos e integrados na canção que nasce frente aos nossos olhos. Por outro, os novos arranjos que faz questão de apresentar, mostrando que as suas canções são entidades vivas de que o disco foi apenas retrato num instante, impedem o tédio que muitas vezes se instala em tantos outros concertos. Entre os arranjos, depois, discretas ou evidentes citações, como as que fez a ABC Auto-Industry dos OMD, a Gershwin ou duas ostensivas vénias ao conceito de phasing de Steve Reich. Se a isto somarmos uma espantosa versão para An Actors Revenge, dos Destroyer não temos senão motivos para aqui reconhecer o melhor concerto de 2006. Que volte!

Foto Diana Quintela

MAIL