sábado, agosto 19, 2006

Robert Redford celebra 70 anos

A propósito de Robert Redford, é quase inevitável passar por dois equívocos clássicos: o primeiro é o de que a sua condição de vedeta o "dispensou" de qualquer capacidade de representação; o segundo (decorrente do primeiro, como é óbvio) reduz a sua contribuição para o cinema a uma banal "repetição" da imagem de jovem sedutor.
Vale a pena começar por desmentir o segundo equívoco. E a partir de um dado muito objectivo: hoje, 18 de Agosto de 2006, Charles Robert Redford Jr. completa 70 anos, dos quais quase meio século de uma carreira que o levou da televisão ao cinema, da representação à realização, da produção à criação do Instituto Sundance, em 1980, entidade fundamental no desenvolvimento de um conceito vital de produção independente, responsável por um já lendário festival de cinema.
Sobre a arte de representar de Redford, o mínimo que se pode dizer é que ele é um invulgar... minimalista. Surgido numa época de plena afirmação dos modelos do Actors Studio (Robert De Niro, Steve McQueen, Paul Newman, etc.), Redford distingue-se nos seus melhores papéis por uma frieza metódica (apetece dizer: "britânica") que o impõe como um genial cartógrafo das mais discretas vibrações da alma humana. Recordemos, na fase inicial da sua carreira: The Chase/Perseguição Impiedosa (1966), de Arthur Penn, This Property Is Condemned/A Flor à Beira do Pântano (1966), de Sydney Pollack, e sobretudo o genial O Vale do Fugitivo/Tell Them Willie Boy Is Here (1969), um dos grandes westerns terminiais dos anos 60/70 dirigido por Abraham Polonsky.
Daí que seja importante sublinhar também que o trabalho de Redford como realizador está longe de se restringir a um "prolongamento" mais ou menos decorativo do seu sucesso como actor. Desde logo, porque se estreou com um subtil ensaio sobre a decomposição moral e afectiva da matriz clássica da família: Ordinary People/Gente Vulgar (1980). Depois, porque na sua filmografia se inclui um belíssimo requiem por um certo conceito, também ele clássico, da natureza — A River Runs Through It (1992), infelizmente nunca lançado nas salas portuguesas (existe uma edição em DVD com o título Duas Vidas e o Rio) — e ainda aquele que é, muito provavelmente, o filme mais brilhante que já se fez sobre os mecanismos de manipulação afectiva e ideológica que a televisão pode pôr em marcha: Quiz Show (1994).
Actualmente, Redford prepara um novo filme, na tripla condição de actor/realizador/produtor: chamar-se-á Aloft e baseia-se nos estudos de Alan Tennant sobre as condições de vida do falcão peregrino — o lançamento está previsto para 2007.

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