segunda-feira, julho 24, 2006

Discos da semana, 24 de Julho

Sufjan Stevens “The Avalanche”
Sobras serão sempre… sobras. E este é um disco de sobras. De caixote de lixo de primeira, é verdade. Mas, e sempre, sobras… Há um ano, o segundo volume do ambicioso projecto de retratar em música os 50 estados dos EUA, um álbum por cada estado, revelava definitivamente em Sufjan Stevens um visionário compositor capaz tanto do diálogo entre a voz e o dedilhar de cordas e a construção monumental de pequenas sinfonias. Illinois foi, na verdade, um dos melhores discos que escutámos em 2005. Todavia, em vez de assumir que férias são férias, ou de regressar ao trabalho para retratar novo estado, ou novo disco exterior a este projecto megalómano, Sufjan Stevens optou por editar, em disco, os outtakes de Illinois, ou seja, as sobras… A audição de The Avalanche revela, sem dúvidas, que Sufjan Stevens escolheu as melhores canções que tinha para o alinhamento oficial de Illinois. E, agora, limita-se a gerir o que acabou de fora, alinhamento no qual ainda encontramos alguns momentos magníficos mas no qual não mora nem a coerência conceptual nem mesmo a excelência de conjunto de Illinois. Ouve-se, mas em nada chega aos calcanhares do disco do ano passado..

New York Dolls “One Day It Will Please Us To Remember Even This”
Mais de 30 anos depois de terem editado um álbum de estreia que ficou registado como peça fulcral na história da música popular, alavanca fundamental para a revolução punk que vinha a caminho, is que regressam os New York Dolls com One Day It Will Please Us To Remember Even This, disco de título denuncia a auto-ironia esperada num grupo liderado por músicos que sabem dos anos de vida que já somam e do facto de raras serem as reuniões esteticamente pertinentes. E o que são estes New York Dolls de 2006? São os sobreviventes Sylvain Sylvain e David Johanssen, que resolveram manter a banda viva depois da reunião solicitada há dois anos pelo velho fã Morrissey para actuação no festival Meltdown. O álbum revela-os como naturais herdeiros directos do seu próprio passado, exactamente as mesmas referências convocadas para fazer sólidas canções rock’n’roll de travo clássico. Girl groups dos anos 60, rock’n’roll dos anos 50, viço e energia, formas já ensaiadas e usadas. A voz de David Johanssen não esconde que passaram mais de 30 anos sobre os dias em que berrava Personality Crisis, mas o ânimo pop mantém-se firme, nos mesmos azimutes, talvez com notas mais bem tocadas, produção mais precisa, os ecos dos blues mais presentes e um sentido vintage usado em favor de um coeso conjunto de canções. E com Michael Stipe em dueto em Dancing On The Lip Of A Volcano. Como no último Rolling Stones, aqui vemos veteranos no perfeito domínio dos seus talentos.

Comsat Angels “Waiting For A Miracle”, “Sleep No More”, “Fiction”
Os Comsat Angels foram uma das excepções à regra mais mediazada que fazia crer que todo o pós-punk de Sheffield se manifestava através das electrónicas (casos notáveis nos Human League, Cabaret Voltaire ou Heaven 17). Apesar de integrarem sintetizadores na sua música, o seu som era essencialmente traçado pelas guitarras e baixo, ambientes habitualmente sombrios, sob textura atmosférica e de moldura minimalista nas suas primeiras gravações. Não tiveram nunca o carisma ou mesmo as capacidades visionárias de contemporâneos seus como os The Sound, Chameleons, Felt, Echo & The Bunnymen, Associates, Teardrop Explodes, U2 ou The Cure. Nem mesmo gozaram da adesão da crítica. Mas hoje, em tempo de reavaliação desse passado de muitos feitos e acontecimentos registados entre 1978 e 84, ressurgem como um nome que, mesmo não fundamental, deve ser encarado como uma peça característica e representativa do seu tempo. Waiting For A Miracle (1980), o seu primeiro álbum, era espartana contenção de maquilhagem sobre uma música que ecoava marcas de uns Pere Ubu e Television em canções abstractas nas quais as temáticas características da sua geração (paranóia, dúvida, amor destroçado) estão presentes. As canções são concisas e eficazes, baixo e bateria a suportar o pulsar do sangue, sintetizadores a sugerir ambiente, guitarras e voz a comandar operações. Sleep No More (1981) é o sucessor natural de uma magnífica estreia. As ideias surgem mais arrumadas, as canções mais precisas, a ideia do álbum mais coesa. De resto, este é um monumento de difícil entrada, que se revela a cada audição para revelar, sobretudo nos momentos de menor euforia rítmica um dos melhores discos de dor de corno da sua geração. Fiction (1982) revela uma leveza (não confundir com ligeireza) inesperada, num disco de mais detalhe na decoração e interessante reavaliação do trabalho no baixo. Mas a sombra ainda aqui mora, de resto decorada a rigor, quase que antecipando um registo gótico que faria escola nos Mission.

E também: Nitzer Ebb (best of), Lilly Allen, Pharrell, Coachella (DVD)

Brevemente:
Agosto: Bob Dylan, Outkast, Pulp (reedições), Heaven 17 (reedições), Frank Black, Joan As Policewoman, Oneida, Forward Russia!, Camera Obscura, I’m From Barcelona, Guillemots, Philip Glass (nova opera), Arthur Russell (reedição)

Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Protocol (Verão), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Verão), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Setembro), Sisters Of Mercy, Clinic (Outono)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), The Cure, Electronic (Setembro)


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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