terça-feira, julho 18, 2006

Discos da semana, 17 de Julho

Lisa Germano “In The Maybe World”
Uma série de álbuns editados na 4AD durante a década de 90, entre os quais os marcantes Geek The Girl (1994) e Excerpts From A Love Circus (1996), revelaram Lisa Germano como uma das mais cativantes cantauroras do seu tempo, arrepiante nas visões pessoais que lança na sua música, profundamente sedutora na voz e instrumentação que a acolhe. Porém nunca teve a visibilidade de uma PJ Harvey, Björk, tendo inclusivamente, a dada altura, abdicado da música como terapia para uma vida saudável de menos confrontos com o insucesso e mais seguro e fixo ordenado ao fim do mês.
Felizmente, para os muitos que a admiram, deu o dito por não dito. E cinco anos depois de um silêncio mergulhado numa livraria de Los Angeles, regressou com Lullaby For Liquid Pig (2003), mais íntimo, mais delicado, mais pessoal, não menos confessional. Três anos depois, In The Maybe World continua a história onde o sublime álbum de 2003 nos deixou. A morte, não como tragédia, mas momento de passagem que nos leva antes a pensar naquilo que viveu (não necessariamente no que desapareceu) domina as reflexões de uma escrita que mantém viva a emotividade crua, sem filtro, que sempre caracterizou a obra de Lisa Germano. As canções são-nos sussurradas aos ouvidos, expressando uma intensidade interior que a alguns assusta, mas que não cede nunca perante uma busca de paz depois de explicada mais uma história de dor e perda. Só, ao piano, pontualmente violino e guitarra, Lisa Germano reúne aqui um notável conjunto de canções de cortante verdade e inequívoca beleza. Será desta que lhe daremos a justa atenção?

Who Made Who “Green Version”
Editado no ano passado, o muito recomendável álbum de estreia WhoMadeWho representou um dos mais estimulantes convites à dança da saison, através de uma reapropriação de modelos captados na memória das noites agitadas de finais de 70 e inícios de 80, funk e derivados do disco em diálogo com a então ‘novidade’ pós-punk. Um ano depois, o não menos apelativo Green Version despe às mesmas canções desse mesmo disco a sua secção rítmica e transforma monumentos de carne e movimento em corpos, não menos reais, feitos de paz e contemplação pop. Não se confunda a operação com a modalidade unplugged dos anos 90. Estas versões “verdes” são apenas ecologia de contenção no ritmo, propondo modos baladeiros de abordagem a uma mesma canção, electricidade e electrónicas presentes.

Envelopes “Demon”
Quem são os Envelopes? Uma banda franco-sueca, nascida entre férias enquanto os seus membros, fãs de Pixies, Kate Bush, Mutantes e Talking Heads, estudavam na faculdade. Demon, o seu segundo álbum é mais um fruto da era do mash cultural que nos deu já uns Arcade Fire, Clap Your Hands Say Yeah ou Architecture In Helsinki. Mas, fruto da disparidade dos gostos dos elementos, a colagem sugere desvios ainda mais inesperados nos quais, se escuta ora a acção directa de uns Velvet Underground e o minimalismo de uns Young Marble Giants ou a elaboração multicultural de um Beck, até mesmo a pop visionária dos Stereolab. É um disco desafiante, surpresa a cada faixa, habituação a assegurar, aos poucos, o prazer que se vai instalando. Mais uma boa surpresa com identidade sueca, portanto.

Vários “Happy Endings”
Banda sonora do filme entre nós em exibição sob o título Finais Felizes, é uma colecção de temas colhidos entre discos dos Calexico, Black Heart Procession, a contribuir para uma caracterização desértica, de proximidade mexicana, ao filme de Don Roos com acção algures em Los Angeles. O filme, claro herdeiro do filão Magnólia, serve-se da música como elemento de grande relevância, até porque dois das suas dez personagens centrais passam por uma banda. Destaque-se, aí, a contribuição de Maggie Gyllenhall, que dá a sua própria voz às canções da sua personagem. Canções essas que a banda sonora naturalmente inclui.

E também: Pet Shop Boys (DVD reedição), Seu Jorge (DVD), Black Heart Procession, etc), Gaiteiros de Lisboa, Moloko (best of), Lilly Allen

Brevemente:
24 Julho: Sufjan Stevens, Nitzer Ebb (best of), Comsat Angels (reedições), New York Dolls, Frank Black, Joan As Policewoman
Agosto: Bob Dylan, Outkast, Pulp (reedições), Heaven 17 (reedições)

Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Protocol (Verão), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Verão), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Setembro), Sisters Of Mercy, I’m From Barcelona (Agosto), Clinic (Outono), Coachella (DVD, em Julho)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), Siouxsie & The Banshees, Lilac Time, The Cure


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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