domingo, julho 30, 2006

Pop e vestidos às bolinhas

Está encontrado o vício mais açucarado, divertido e irresistível da saison: as Pipettes! São três raparigas de Brighton, perfeitas reencarnações do som e imagem dos girl groups de 60, sobretudo das Ronettes (som devidamente afinado segundo a bitola ‘Spectoriana’) ou as Shangri-Las. Becki, Julia e Rose vestem trapinhos às bolinhas brancas e cantam frente a uma troupe de rapazes que respondem como os Cassettes (mais retro não podia ser…). O álbum, acabado de editar, chama-se We Are The Pipettes e é uma colecção de rebuçados com sabor a anos 60 no feminino. Destaque, todavia, para o motor de vício “em repeat” que se revela no tema título, uma verdadeira amostra de verdadeiro girl power (não confundir com as extintas Spices), a doçaria pop aqui a pedir emprestado algum tempero à fúria riot grrrl (ma non troppo). Imparável!

Ver e ouvir aqui

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sábado, julho 29, 2006

"Rio Bravo" para intelectuais

Como chegámos aqui?
Como é possível que a noite de sábado da RTP seja abrilhantada (?) por um programa como A Canção da Minha Vida, uma espécie de "Serão para Trabalhadores" moralmente requen-tado, esteticamente desastroso e artisticamente nulo, tudo servido com o aparato de coisa popular e, mais do que isso, fiel à nossa identidade mais funda?
E que faz com que, ali ao lado, na 2:, passe o sublime Rio Bravo (1959), não apenas uma das obras-primas de um dos génios da idade clássica de Hollywood — Howard Hawks —, mas também uma expressão modelar, consagrada por quase meio século de história da nossa civilização, da mais cristalina arte popular?
Porque é que As Canções da Minha Vida é servido como espelho da nossa maneira de ser, desse modo obrigando-nos a aceitar que somos pueris, falhos de ideias e sempre em festa com a nossa falta de imaginação? E porque é que Rio Bravo surge programado como coisa "especializada", certamente vocacionada para intelectuais e outros monstros mais ou menos suspeitos?
Não que eu queira lidar com uma questão destas (que, em boa verdade, se repete todos os dias) procurando nomear culpados — não quero, além do mais, satisfazer essa Cultura Generalizada da Culpa que a televisão dominante impôs ao país, abominando o acto de pensar e fabricando bodes expiatórios por tudo e por nada. Não me interessa nomear ninguém como culpado e até estou disposto a acreditar que a maioria dos envolvidos com a fabricação e a difusão de As Canções da Minha Vida age na mais límpida seriedade profissional.
O problema não é esse. O problema é que se, pelo menos, não perguntarmos, então estamos a demitir-nos da nossa própria inteligência — como chegámos aqui?

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Stones em versões "alternativas"

Tudo começa com Faultline, o projecto electrónico do bri-tânico David Kosten, a recriar, em 2004, Wild Horses, um dos temas emblemáticos do lendário Sticky Fingers (1971). E acaba com Johnny Thunders (1952-1991), alma danada de The New York Dolls, a interpretar As Tears Go By, numa versão ao vivo recolhida na antologia You Can't Put Your Arms Around a Memory (2002). São nove temas reunidos pela revista francesa Les Inrockuptibles num CD que acompanha um número especial: "Les Inrocks 2", dedicado aos Rolling Stones, ou seja, la fabuleuse histoire d'un mythe des sixties.
Apesar da estranheza de alguns dos nomes envolvidos (ou por isso mesmo...), a antologia é uma saborosa acumulação de surpresas, mesmo quando deparamos com uma versão experimental, aliás techno, aliás trip-hop, de Angie com chancela de Uwe Schmidt ("Senõr Coconut"), aliás LB. Registe-se o alinhamento:

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Faultline, com Joseph Arthur // Wild Horses
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Johan Asherton // No Expectations
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Billy Bragg // She Smiled Sweetly
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Neal Casal // Shine a Light (ao vivo)
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Claudine Longet // Let's Spend the Night Together
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Lambchop // Backstreet Girl
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Silver Jews // Cocksucker Blues (ao vivo)
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LB // Angie (miniatura digital)
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Johnny Thunders // As Tears Go By (ao vivo)

Em caso de dúvida, procure-se a língua original.

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Discos Voadores, 29 de Julho

Esta semana uma edição de ‘Discos Perdidos’, recuperando o histórico Songs From Liquid Days de Philip Glass (1986), procurando ainda algumas das colaborações pop na carreira deste compositor.

Amy Millan “Skinny Boy”
Joan As Policewoman “Real Life”
Semifinalists “You Said”
Supernova “Candy Girl”
Regina Spektor “On The Radio”
Lisa Germano “In The Maybe World”
Philip Glass “Changing Opinion”
Thom Yorke “Analyse”
U-Clic “Like”
Infadels “Girl That Speaks No Words”
The Killers “When You Were Young”
The KBC “Not Anyone”
Justice Vs Simian “We Are Your Friends”

Franz Ferdinand “Eleanor Put Your Boots On”
The Strokes “Ask Me Anything”
Pop Dell’Arte “Mrs Tyler”
Philip Glass “Liquid Days (Part One)”
Philip Glass “Lightning”
Marisa Monte “Ao Meu Redor”
Ute Lemper “Streets Of Berlin”
Philip Glass vs David Bowie + Brian Eno “Heroes”
Pierce Turner “The Answer”
Philip Glass vs Sebastian Escofet “Tirol Concerto (remix)”
Philip Glass “Freezing”
Bernardo Sassetti “Alice”
Philip Glass + Aphex Twin “Three”


Discos VoadoresSábado 18.00 - 20.00 / Domingo 22.00 - 24.00
Radar 97.8 FM
e radarlisboa.fm

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Scorsese em Boston

A imagem está disponível na ficha do IMDb de The Departed, o novo filme de Martin Scorsese com estreia americana marcada para 6 de Outubro. Jack Nicholson meteu as mãos em tinta vermelha para compor a personagem de Frank Costello, chefe mafioso de Boston, a ser investigado pelo agente infiltrado Billy Costigan, interpretado por Leonardo DiCaprio. Inspirado no filme Infernal Affairs (2002), de Siu Fai Mak (Hong Kong), The Departed foi escrito por William Monahan e inclui ainda no seu elenco os nomes de Matt Damon, Martin Sheen, Vera Farmiga, Mark Wahlberg e Alec Baldwin. No Yahoo! já há trailer: 5 estrelas.

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Olhar com a Magnum

BEIRUTE, 2006 — Copyright : © Christopher Anderson / Magnum Photos
Nos últimos dias, o site oficial da agência Magnum tem estado a destacar o trabalho dos seus fotógrafos no Líbano: imagens recentes (Bomb-damaged Beirut) e imagens de 1972-2005 (Look back at Lebanon) dão conta do trabalho de muitos fotógrafos — Christopher Anderson, Paolo Pellegrin, Chris-Steele Perkins, Joseph Koudelka, Raymond Depardon, etc. — perante a história convulsiva de um país. Para olhar. Para ver.

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sexta-feira, julho 28, 2006

Soderbergh (só) com legendas

O filme chama-se Bubble e nele se conta uma história, ao mesmo tempo banal e cruel, de um assassinato numa pequena cidade dos EUA, envolvendo uma galeria de personagens que trabalham num fábrica de bonecas — objecto de um espantoso e inquietante minimalismo realista, alicerçado numa inovadora utilização dos meios digitais (esteticamente remetendo para a produção de Hollywood, em plenos anos 50, marcada pela emergência do formato CinemaScope) Bubble é, muito simplesmente, no contexto português, um dos momentos marcantes de 2006.
Com Bubble, Steven Soderbergh arriscou uma estratégia cujos efeitos práticos e simbólicos ainda não podemos medir: o lançamento simultâneo, nos EUA, em sala, DVD e na televisão por cabo. Em Portugal, o filme sai apenas em DVD, o que, não deixando de ser positivo (antes isso que o completo esquecimento comercial), impede que o descubramos num grande ecrã para o qual, obviamente, também foi concebido.
Ponto muito negativo da edição em DVD é o facto de a opção de legendas... não existir. Isto porque só é possível ver o filme... com legendas. Não é caso único no panorama recente do mercado, o que faz temer que se esteja a desenhar mais uma "tendência" típica do novo-riquismo que invade todos os campos da vida cultural. Sendo o DVD, por princípio, um sistema que favorece a multiplicação das opções do consumidor, obrigar esse mesmo consumidor a ter sempre legendas num filme é um absurdo que, em última instância, o poderá repelir — até porque no mundo global em que vivemos, a maior parte dos interessados tem acesso automático a compras noutros mercados, capazes de satisfazer as suas opções de consumo.

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O mapa de Iñárritu

Foi um dos filmes grandes de Cannes/2006 — onde, aliás, ganhou o prémio de mise en scène — e arrisca-se a ser um título forte na corrida para os próximos Oscars: Babel, de Alejandro González Iñárritu, com Brad Pitt e Cate Blanchett, constitui uma das apostas fortes da nova distribuidora da Paramount, a Paramount Vantage, voca-cionada para "clássicos & filmes-de-autor". No site da Apple, já é possível ver o trailer. Tal como 21 Gramas (2003), o filme anterior de Iñárritu, este é também um labirinto de histórias cruzadas, por assim dizer definindo um mapa imaginário da condição humana em tempos de globalização — coincidência nada secundária secundária: ambos têm argumento de Guillermo Arriaga.
A estreia americana tem data marcada para 27 de Outubro. Por cá, ainda está por anunciar.

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Candy, aliás Abbie Cornish

Que se passa com o cinema australiano? Sabemos que já não é o cinema dos tempos heróicos de Mad Max, que deu a Mel Gibson o estatuto de estrela planetária. Sabemos também que de lá chegam raridades da "animação" como Babe (1 e 2, já que o segundo capítulo da história do porquinho falante ainda era me-lhor que o primeiro). Este ano, por exem-plo, tivemos a estreia de um bizarro western australiano, Escolha Mortal/The Proposition, com argumento e música de Nick Cave. Mas que dizer de Candy? Talvez que corresponde a uma produção "mediana" cujo interesse (antes do mais, comercial) poderá merecer outra atenção por parte da nossa distribuição/exibição...
Candy é a história de Dan e Candy, ele viciado em heroína, ela por amor disposta a experimentar o que ele usa. Daí nasce uma narrativa dilacerada que, se é verdade que nem sempre consegue escapar a um certo determinismo dramático, não é menos verdade que se sabe manter próxima das suas personagens, respeitando a sua complexidade sem as submeter à condição de caso "sociológico". É o próprio realizador, Neil Armfield, que o sublinha, quando recorda que esta não é uma história de amor vulgar, nem uma tragédia vulgar.
Baseado no romance homónimo de Luke Davies, Candy tem, sobretudo, a seu favor um cast homogéneo, dominado por Heath Ledger e Abbie Cornish, respectivamente como Dan e Candy. Cornish, em particular, impressionante de intensidade emocional e delicadeza expressiva, parece poder vir a ser um caso muito sério no panorama internacional do cinema de língua inglesa. Encontrá-la-emos, lá mais para o final de 2006, no novo filme de Ridley Scott, A Good Year, contracenando com Russell Crowe, Marion Cotillard e Albert Finney.

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quinta-feira, julho 27, 2006

Von Otter canta Abba: sublime!

O disco chama-se I Let the Music Speak (Deutsche Grammophon) e chegará às lojas durante o mês de Agosto. À sua maneira, este é um título que envolve uma ironia que se confunde com a mais contida elegância. Porquê? Porque aquilo de que se trata, aqui, é mostrar que a música se intensifica através do carácter sublime do canto. O título possui também algo de programático: deixar a música falar consiste, de facto, em expor o ouvinte às enigmáticas e envolventes nuances da voz humana. Esse exercício tem um nome, quer dizer, uma voz. Ou ainda, uma alma: Anne Sofie von Otter.
A mezzo-soprano sueca volta a mostrar como é — e porque é —, não apenas uma das mais extraordinárias intérpretes contemporâneas, mas também uma personalidade criativa para quem o fulgor da contaminação estética não é apenas uma hipótese teórica da arte contemporânea, mas um verdadeiro campo de trabalho onde é possível redescobrir e refazer os modelos, clássicos e modernos, da própria beleza das formas.
Assim, quatro anos passados sobre o álbum For the Stars (também do catálogo da DG), co-assinado com Elvis Costello, von Otter regressa com outro exemplo de envolvimento de uma voz, enraízada no universo lírico, com as características aparentemente mais ligeiras das canções pop. Desta vez, por assim dizer para que tudo se passasse em casa (leia-se: na Suécia), von Otter vai buscar as composições de Benny Andersson e, em particular, as que ele assinou, com Björn Ulvaeus, para os Abba. Digamos, para simplificar, que a história do quarteto sueco não fica completa sem ouvirmos, pelo menos, a emoção contida que von Otter coloca no tema-título, I Let the Music Speak, retirado do álbum The Visitors (1981), ou ainda o ambíguo intimismo com que inunda The Winner Takes It All, de Super Trouper (1980) — recorde-se que, com Costello, von Otter gravara já Like an Angel Passing Through My Room, outro tema de The Visitors. O álbum apresenta doze temas (11 + o "escondido" Money, Money, Money), incluindo alguns provenientes de musicais a que está ligado o nome de Benny Andersson (por exemplo, Ut Mot Ett Hav, do musical Kristina).
Em tempos de "democratização" do canto lírico, o génio criativo de Anne Sofie von Otter reduz experiências como Il Divo à sua verdadeira dimensão de vulgarizações — no sentido literal: reduzem a complexidade das referências que convocam a uma dimensão vulgar e, por isso mesmo, artisticamente impostora. Ao mesmo tempo, com a sereníssima emoção e a discreta versatilidade da sua voz, von Otter propõe, com I Let the Music Speak, um disco genuinamente pop que, com alguma crueldade, mas sem maldade, reduz todas as Nelly Furtado do planeta a esforçadas e pueris aprendizes. Ou como diriam os suecos: c'est la vie!
* Anne Sofie von Otter vai estar em Lisboa para cantar os temas de I Let the Music Speak no concerto de abertura da temporada de música 2006/7 da Fundação Gulbenkian (Grande Auditório, 4 de Outubro, 19h00).

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quarta-feira, julho 26, 2006

Raridades dos R.E.M. em antologia

Os R.E.M. vão lançar, a 12 de Setembro, uma antologia de temas da sua primeira etapa de vida, assim como um DVD com telediscos e actuações televisivas dessa mesma época. A compilação terá por título And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987, e sera editada em duas versões, uma delas um CD simples com 21 temas fundamentais desse período. A outra será um dual CD no qual, aos mesmos 21 temas se acrescenta uma série de inéditos, raridades, takes alternativos, gravações ao vivo e misturas diferentes, edição que contará com liner notes mais exustivas. A acompanhar o disco será editado, em separado, um DVD When the Light Is Mine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987, no qual se reúnem os telediscos, performances em televisão, entrevistas e algumas outras raridades desta etapa. Para os que gostam do pormenor, aqui fica o alinhamento completo desta edição:

Versão 1: 'And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987' (CD):
Begin the Begin
Radio Free Europe
Pretty Persuasion
Talk About the Passion
(Don't Go Back To) Rockville
Sitting Still
Gardening at Night
7 Chinese Bros.
So. Central Rain (I'm Sorry)
Driver 8
Can't Get There from Here
Finest Worksong
Feeling Gravity's Pull
I Believe
Life and How to Live It
Cuyahoga
The One I Love
Welcome to the Occupation
Fall on Me
Perfect Circle
It's the End of the World As We Know It (And I Feel Fine)


Extras da Versão 2: 'And I Feel Fine... The Best Of The I.R.S. Years 1982-1987 (Collector's Edition)'
Pilgrimage
These Days
Gardening at Night (maquete inédita)
Radio Free Europe (versão alternativa)
Sitting Still (versão alternativa)
Life and How to Live It (ao vivo no Muzik Centrum, Utrecht, Holanda 9/14/87, inédito)
Ages of You (ao vivo no Paradise, Boston 7/13/83, inédito)
We Walk (ao vivo no Paradise, Boston 7/13/83, inédito)
1,000,000 (ao vivo no Paradise, Boston 7/13/83, inédito)
Finest Worksong (mistura alternativa)
Hyena (maquete inédita)
Theme from Two Steps Onward (inédito)
Superman
All the Right Friends (inédito)
Mystery to Me (maquete inédita)
Just a Touch (ao vivo em studio, inédito)
Bad Day (outtake de 1986, inédito)
King of Birds
Swan Swan H (acústico, ao vivo)
Disturbance at the Heron House
Time After Time


E, agora, o DVD:
Wolves, Lower
Radio Free Europe
Talk About the Passion
Radio Free Europe (The Tube, 11/18/83)
Talk About the Passion (The Tube, 11/18/83)
So. Central Rain (I'm Sorry)
Left of Reckoning
Pretty Persuasion (The Old Grey Whistle Test, 11/20/84)
Can't Get There from Here
Driver 8
Life and How to Live It
Feeling Gravity's Pull
Can't Get There from Here (The Tube, 10/25/85)
Fall on Me
Swan Swan H
The One I Love
It's the End of the World As We Know It (And I Feel Fine)
Finest Worksong


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Este fim de semana na Radar

Fala Com Ela. O convidado é, esta semana, Luis Montez, para falar dos dez anos do Sudoeste, e dar-nos ouvir os discos de que mais gosta.
Sábado 12.00 / Domingo 19.00

Álbum de Família. Esta semana ouve-se Rio, dos Duran Duran, o álbum que partiu dos estímulos new wave que haviam dominado a sua etapa 1980/81, e os fez partir rumo a novos desafios pop.
Hoje, 14.00 / Domingo 12.00

Discos Voadores. Uma edição de ‘discos perdidos’, recuperando o clássico Songs From Liquid Days de Philip Glass (1986), recordando ainda algumas das colaborações do compositor com os universos pop.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00

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terça-feira, julho 25, 2006

Digital chique

O mundo da música digital tem um novo aparelho, por enquanto apenas para carteiras abastadas e gostos audiófilos. Trata-se do Transporter, que o fabricante garante ter melhor som que os leitores de CD, e que é apontado a quem codifica a sua música digital em ficheiros Flac ou Wav, nos quais não há perda de informação do sinal original (a música digital mais recorrente em computadores e gadgets portáteis usa ficheiros comprimidos mp3, AAV ou WMA, com perda de qualidade). Os ficheiros digitais Flac ou Wav, armazenados num computador, podem ser transmitidos para o Transporter e este, ligado a um amplificador e colunas, revelará o som. O aparelho tem um conversor digital-analógico (DAC) que o fabricante garante ser melhor que o usado nos leitores de CD mais caros. Tudo isto, por um preço não muito longe dos dois mil euros… Aqui, a revolução paga-se.

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Patrick Wolf com single em Outubro

Patrick Wolf anunciou a edição de um single para 9 de Outubro. Trata-se de Accident And Emergency, a primeira amostra de um novo álbum, de título The Magic Position, que só deverá ser editado no início de 2007. No álbum haverá uma colaboração com Marianne Faithfull.

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Chris 007 Cornell?

Chris Cornell (hoje nos Audioslave) afirmou há poucos dias a um jornal finlandês ser ele o autor e intérprete da nova bond song que servirá de fundo ao genérico do 21º filme James Bond, Casino Royal. A confirmar-se a notícia, Cornell será a primeira voz masculina a cantar para James Bond em 19 anos, a última tendo sido a de Morten Harket, dos A-ha, em 1987, com The Living Daylights. E a penúltima, Simon Le Bon, com A View To A Kill, dos Duran Duran, dois anos antes. Chris Cornell afirmou ainda que, apesar de ainda não ter visionado o filme completo já viu algumas cenas de Casino Royal e garante que este será um James Bond muito diferente. Na música, certamente, será…

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segunda-feira, julho 24, 2006

Discos da semana, 24 de Julho

Sufjan Stevens “The Avalanche”
Sobras serão sempre… sobras. E este é um disco de sobras. De caixote de lixo de primeira, é verdade. Mas, e sempre, sobras… Há um ano, o segundo volume do ambicioso projecto de retratar em música os 50 estados dos EUA, um álbum por cada estado, revelava definitivamente em Sufjan Stevens um visionário compositor capaz tanto do diálogo entre a voz e o dedilhar de cordas e a construção monumental de pequenas sinfonias. Illinois foi, na verdade, um dos melhores discos que escutámos em 2005. Todavia, em vez de assumir que férias são férias, ou de regressar ao trabalho para retratar novo estado, ou novo disco exterior a este projecto megalómano, Sufjan Stevens optou por editar, em disco, os outtakes de Illinois, ou seja, as sobras… A audição de The Avalanche revela, sem dúvidas, que Sufjan Stevens escolheu as melhores canções que tinha para o alinhamento oficial de Illinois. E, agora, limita-se a gerir o que acabou de fora, alinhamento no qual ainda encontramos alguns momentos magníficos mas no qual não mora nem a coerência conceptual nem mesmo a excelência de conjunto de Illinois. Ouve-se, mas em nada chega aos calcanhares do disco do ano passado..

New York Dolls “One Day It Will Please Us To Remember Even This”
Mais de 30 anos depois de terem editado um álbum de estreia que ficou registado como peça fulcral na história da música popular, alavanca fundamental para a revolução punk que vinha a caminho, is que regressam os New York Dolls com One Day It Will Please Us To Remember Even This, disco de título denuncia a auto-ironia esperada num grupo liderado por músicos que sabem dos anos de vida que já somam e do facto de raras serem as reuniões esteticamente pertinentes. E o que são estes New York Dolls de 2006? São os sobreviventes Sylvain Sylvain e David Johanssen, que resolveram manter a banda viva depois da reunião solicitada há dois anos pelo velho fã Morrissey para actuação no festival Meltdown. O álbum revela-os como naturais herdeiros directos do seu próprio passado, exactamente as mesmas referências convocadas para fazer sólidas canções rock’n’roll de travo clássico. Girl groups dos anos 60, rock’n’roll dos anos 50, viço e energia, formas já ensaiadas e usadas. A voz de David Johanssen não esconde que passaram mais de 30 anos sobre os dias em que berrava Personality Crisis, mas o ânimo pop mantém-se firme, nos mesmos azimutes, talvez com notas mais bem tocadas, produção mais precisa, os ecos dos blues mais presentes e um sentido vintage usado em favor de um coeso conjunto de canções. E com Michael Stipe em dueto em Dancing On The Lip Of A Volcano. Como no último Rolling Stones, aqui vemos veteranos no perfeito domínio dos seus talentos.

Comsat Angels “Waiting For A Miracle”, “Sleep No More”, “Fiction”
Os Comsat Angels foram uma das excepções à regra mais mediazada que fazia crer que todo o pós-punk de Sheffield se manifestava através das electrónicas (casos notáveis nos Human League, Cabaret Voltaire ou Heaven 17). Apesar de integrarem sintetizadores na sua música, o seu som era essencialmente traçado pelas guitarras e baixo, ambientes habitualmente sombrios, sob textura atmosférica e de moldura minimalista nas suas primeiras gravações. Não tiveram nunca o carisma ou mesmo as capacidades visionárias de contemporâneos seus como os The Sound, Chameleons, Felt, Echo & The Bunnymen, Associates, Teardrop Explodes, U2 ou The Cure. Nem mesmo gozaram da adesão da crítica. Mas hoje, em tempo de reavaliação desse passado de muitos feitos e acontecimentos registados entre 1978 e 84, ressurgem como um nome que, mesmo não fundamental, deve ser encarado como uma peça característica e representativa do seu tempo. Waiting For A Miracle (1980), o seu primeiro álbum, era espartana contenção de maquilhagem sobre uma música que ecoava marcas de uns Pere Ubu e Television em canções abstractas nas quais as temáticas características da sua geração (paranóia, dúvida, amor destroçado) estão presentes. As canções são concisas e eficazes, baixo e bateria a suportar o pulsar do sangue, sintetizadores a sugerir ambiente, guitarras e voz a comandar operações. Sleep No More (1981) é o sucessor natural de uma magnífica estreia. As ideias surgem mais arrumadas, as canções mais precisas, a ideia do álbum mais coesa. De resto, este é um monumento de difícil entrada, que se revela a cada audição para revelar, sobretudo nos momentos de menor euforia rítmica um dos melhores discos de dor de corno da sua geração. Fiction (1982) revela uma leveza (não confundir com ligeireza) inesperada, num disco de mais detalhe na decoração e interessante reavaliação do trabalho no baixo. Mas a sombra ainda aqui mora, de resto decorada a rigor, quase que antecipando um registo gótico que faria escola nos Mission.

E também: Nitzer Ebb (best of), Lilly Allen, Pharrell, Coachella (DVD)

Brevemente:
Agosto: Bob Dylan, Outkast, Pulp (reedições), Heaven 17 (reedições), Frank Black, Joan As Policewoman, Oneida, Forward Russia!, Camera Obscura, I’m From Barcelona, Guillemots, Philip Glass (nova opera), Arthur Russell (reedição)

Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Protocol (Verão), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Verão), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Setembro), Sisters Of Mercy, Clinic (Outono)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), The Cure, Electronic (Setembro)


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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domingo, julho 23, 2006

174 anos de desenhos animados

A propósito do novo filme de Richard Linklater — A Scanner Darkly (com estreia portuguesa prevista para 7 de Setembro), com Keanu Reeves, Winona Ryder e Woody Harrelson — a edição de Agosto da revista Sight & Sound, do British Film Institute, propõe um magnífico dossier sobre a evolução dos desenhos animados, não apenas na mais recente (e revolucionária) década, mas desde os tempos remotos da pré-história dos filmes. Uma das peças mais esclarecedoras é uma cronologia que começa em 1832, ou seja, há 174 anos, com a invenção do fenacistiscópio, desembocando nas proezas recentes dos estúdios Pixar, até alguns títulos ainda por lançar, nomeadamente o francês Azur et Asmar, de Michel Ocelot e o norueguês Free Jimmy, de Christopher Nielsen.
Adaptado de um romance de Philip K. Dick, o filme A Scanner Darkly retoma a técnica de animação — rotoscopia — que Linklater já aplicara em Waking Life (2001). No essencial, trata-se de um processo tradicional, por exemplo já presente em algumas sequências de Branca de Neve e os Sete Anões (1937): as cenas são filmadas com actores e, depois, retrabalhadas em forma de desenho. Tal como em Waking Life, Linklater aplicou o "rotoshop", mecanismo que integra o método básico da rotoscopia, agora através do uso de técnicas digitais.
Entre outros temas, esta edição da Sight & Sound, inclui trabalhos sobre os cineastas Hou Hsiao-Hsien (Three Times) e Philippe Garrel (Os Amantes Regulares, a estrear entre nós no dia 3 de Agosto). Na secção de crítica, são comentados mais de duas dezenas de filmes, incluindo Carros e The Science of Sleep, o novo trabalho de Michel Gondry.

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Vem aí o... Zune!




















Está finalmente desfeito o rumor. A Microsoft confirmou que está a trabalhar numa série de gadgets para consumo de música e outras propostas de entretenimento, um dos quais deverá ser lançado ainda este ano. Chamar-se-á Zune, é um leitor de mp3 e é naturalmente apontado como um rival do iPod da Apple (a imagem, que circula na Internet, apresenta este protótipo como o Zune, em design próximo do definitivo). Não será todavia fácil combater o iPod (que detém 50 por cento do mercado de leitores portáteis) como a loja iTunes (com 70 por cento das vendas mundiais). Os especialistas que já se pronunciaram na Internet afirmam que as possibilidades de sucesso do Zune dependerão da sua capacidade em permitir downloads de música e vídeo sem fios… Por enquanto sabe-se que, pelo menos numa primeira geração, o Zune não terá menu de jogos. Que deverá surgir em três cores: branco, preto e castanho. E que Paul Oakenfold poderá ser um dos nomes ligados à sua campanha de lançamento.

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Memórias políticas de John Lennon

Chama-se The Us vs. John Lennon e anuncia-se como uma evocação documental do período (1966-1976) em que o beatle John Lennon (1940-1980) se transformou em militante pacifista, nomeadamente protestando contra o envolvimento militar dos EUA no Vietname, desse modo desencadeando diversas acções do Governo norte-americano, que tentou abafar, ou mesmo silenciar, as suas intervenções.
Pelo trailer do filme, podemos perceber que se trata de uma montagem que recolhe muitos documentos da época, ilustrando a crescente politização da música e do discurso público de Lennon e Yoko Ono. Vale a pena consular também a página que dá acesso ao site do filme, na qual se recolhem muitas informações, nomeadamente de carácter jornalístico, sobre a vida política de Lennon.
A realização de The Us vs. John Lennon pertence a David Leaf e John Scheinfeld, produtores/realizadores com uma vasta colaboração na área da televisão, em particular em documentários sobre personalidades da cena musical — dirigiram, por exemplo, When I Fall in Love: The One & Only Nat King Cole (2003) e Ricky Nelson Sings (2005). Como recorda a publicidade de The Us vs. John Lennon, o novo filme tem a chancela da Lions Gate, o mesmo estúdio que apoiou a produção de Fahrenheit 9/11 (2004), de Michael Moore — a estreia americana está marcada para 15 de Setembro; para já, não consta das listas dos distribuidores portugueses.

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sábado, julho 22, 2006

Antonioni, aqui e agora

Para avaliar um pouco do mundo mediático em que vivemos, basta reparar no que tem acontecido em dias recentes. Assim, enquanto o medíocre Piratas das Ca-raíbas goza das principais honras televisivas, a repo-sição de uma obra sublime de Michelangelo AntonioniProfissão Repórter (1975) — é tratada de forma mais ou menos... ausente. Surpresa? Nenhuma. Apenas um registo mais das virtudes deste admirável mundo-em-que-vivemos.
Com Jack Nicholson e Maria Schneider, Profissão Repórter é a história de um homem que ocupa o lugar de outro — literalmente, assumindo a identidade de alguém que morreu. Nessa medida, ele passa a ser o vazio de outro, sobreposto ao vazio que sobre si mesmo decretou. Tudo isso num mundo de muitas informações cruzadas em que o excesso de mensagens parece gerar um vazio ainda maior — 31 anos depois, os paralelismos com o aqui e agora parecem ter-se multiplicado de forma inquietante, de tal modo a démarche de Antonioni é visionária e premonitória.
Acima de tudo, este é um filme que nos devolve ao coração de uma questão eminentemente existencial & cinematográfica. A saber: de que modo a(s) imagem(ns) que temos do mundo são também o princípio do nosso desconhecimento (ou, para utilizar uma palavra forte do tempo em que o filme foi feito: da nossa alienação)?
Para Antonioni, essa é uma questão que se reflecte sempre, como num espelho, numa outra, mais pura e mais radical: que é, que pode ser, a entrega entre dois seres? Ou ainda: qual o sentido e, no limite, a possibilidade do amor?
Se há um grande filme, apenas um, no nosso Verão cinematográfico, é este.

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No reino das marionetas

No mundo das marionetas toda a gente é feita de madeira e… fios. Estes são extensões naturais dos seus corpos, elevando-se na vertical até se perderem de vista. Sabe-se que algo os comanda (os manipuladores, naturalmente, dizemos nós), mas para as marionetas aqueles fios são ligações vitais. São condutores de energia que, quando cortados, diminuem capacidades, ou decretam mesmo a sua morte. Esta lógica feita de madeira e fios condiciona a narrativa de O Fio da Vida, espantoso filme do dinamarquês Anders Ronnow Klarlund, uma história de fantasia onde todos são marionetas. O argumento é, contudo, o calcanhar de má madeira de uma ideia de cinema bem interessante. A história que vemos em O Fio da Vida não é mais que uma estafada derivação do eterno duelo entre o bem e o mal, a justiça e a corrupção, a verdade e a mentira, com evidente tempero Shakespeare tipo loja dos 300.
Estamos num reino imaginário, assolado pela guerra há gerações sem conta. Um velho rei tirano, carcomido pelo caruncho do remorso, escolhe a morte voluntária, deixando por herança ao filho o desafio de fazer a paz, testamento que redige numa carta. Ora, o mau da fita, o seu irmão cruel e ambicioso (voz de Derek Jacobi), assiste à cena e, em vez de entregar ao sobrinho a carta de despedida do velho rei, apresenta a sua morte como assassinato pelo rival inimigo de sempre, paz novamente adiada. A sede de vingança ensopa a madeira do jovem herdeiro que sai da cidade em busca do assassino imaginário, mal sabendo que está a entregar o poder nas mãos do tio… Vencerá o mal. Ou haverá, afinal, esperança?...
A história, está visto, é de banalidade de má carpintaria, não sendo portanto pela narrativa que o filme tem conquistado admiradores. A verdadeira força de O Fio da Vida nasce, antes, da forma imaginativa como as características físicas das marionetas são usadas em favor da sua caracterização, da espantosa fotografia e de uma direcção artística digna de louvor. Geram-se assim quadros visuais deslumbrantes, capazes de nos fazer transcender o primarismo estrutural de um conto de fantasia banal, conferindo-lhe verdadeiros temperos góticos.

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Discos Voadores, 22 de Julho

A chegada do segundo álbum dos TV On The Radio leva-nos não só a escutar com atenção o álbum, como a evocar outros afilhados recentes de David Bowie, com mestre presente.

Boy Kill Boy “Civil Sin”
Low Sparks “She Was Always Cool”
Every Move A Picture “Signs Of Life”
TV On The Radio “I was A Lover”
Spartak “King Tubby”
The Knife “Forest Families”
Três Tristes Tigres “Anormal”
Regina Spektor “Fidelity”
Semifinalists “You Said”
Throwing Muses “Ruthie’s Knocking”
Sonic Youth “What A Waste”
The Sounds “Tony The Beat”
Midnight Movies “Blue Babies”
Yeah Yeah Yeahs “Dudley”
Mates Of State “Fraud In The 80’s”

Who Made Who “Space For Rent”
Cindy Kat “Miúdo”
Catpeople “Everyone Can Tell You”
TV On The Radio “Wolf Like Me”
TV On The Radio “Hours”
TV On The Radio “Dreams”
TV On The Radio + David Bowie “Province”
Placebo + David Bowie “Whithou You I’m Nothing”
Kashmir + David Bowie “The Ceptic”
Kirsteen Young + David Bowie “Saviour”
Arcade Fire + David Bowie “Wake Up”
You Should Go Ahead “Melancholic Phantom”
White Rose Movement “Test Card Girl”

Discos VoadoresSábado 18.00 - 20.00 / Domingo 22.00 - 24.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm

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quinta-feira, julho 20, 2006

Zoo TV finalmente em DVD

Tem finalmente ordem de edição em DVD o histórico filme de David Mallet rodado durante a Zoo TV dos U2 em 1993. Zoo TV: Live From Sidney será editado a 18 de Setembro, num DVD que inclui ainda os documentários Trabantland e A Fistfull Of Zoo TV, assim como excertos de gravações no confessionário disponível nos concertos, o Vídeo Confessional. Boa opção, a de continuar a reabilitar em DVD a videografia histórica do grupo, particularmente focando esta, uma das etapas mais estimulantes da sua carreira, devendo os documentários explorar o processo de reinvenção que viveram quando gravaram e deram a conhecer Achtung Baby. Cenas dos próximos capítulos? Quem sabe se o concerto mexicano da PopMart Tour ou o concerto de Red Rocks em 1983…

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Mais dois Durans remasterizados

Os próximos discos dos Duran Duran a conhecer reedição remasterizada são os dois álbuns de originais editados na segunda metade da década de 80, com a formação reduzida a três elementos, ou seja, Notorious (flirt com temperos white funk de 1986, com Nile Rogers presente) e Big Thing (de 1988, uma experiência mais ousada, mas sem o sucesso dos discos anteriores). Notorious deverá ser apresentado numa versão dupla, com muitos extras. Big Thing também apresentará extras, todavia num CD único. As reedições estão previstas para Outubro. A oportunidade chega para, sobretudo, reavaliar Big Thing, disco irregular, é verdade, mas casa de alguns feitos, ideias e canções, a que a época não foi justa na avaliação. Ambos são, apenas, discos medianos, mas guardam mais em si, cada um, que os singles que defes ficaram mais conhecidos, ou seja, Notorious e Skin Trade no primeiro caso, I Don't Want Your Love e All She Wants Is no segundo.

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Este fim de semana na Radar

Fala com Ela. Esta semana o convidado é Zé Pedro, guitarrista dos Xutos & Pontapés, que apresenta o novo projecto paralelo, Os Maduros. E, claro, traz os seus discos.
Sábado 12.00 / Domingo 19.00

Álbum de Família. Em semana de primeira visita dos Strokes a Portugal, um olhar integral pelo seu fundamental álbum de estreia Is This It?
Domingo 12.00

Discos Voadores. A chegada do segundo álbum dos TV On The Radio leva-nos não só a escutar com atenção o álbum, como a evocar outros afilhados recentes de David Bowie, com mestre presente.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00

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quarta-feira, julho 19, 2006

Bowie em filme de Nolan

Está já aí o trailer do novo filme de Christopher Nolan, com estreia apontada ao Outono. Chama-se The Prestige e é baseado no romance homónimo de Christopher Priest, no qual se fala da rivalidade sem limites entre dois mágicos, num cenário londrino em finais do século XIX. Hugh Jackson e Christian Bale vestem a pele dos rivais cuja disputa pessoal os levará a matar… David Bowie tem no filme um papel secundário, dando corpo a Nikola Tesla. O filme parece ser bem mais interessante que o desapontante Batman Returns, não se sabendo ainda, naturalmente, se repetirá os feitos do inesquecível Memento. Para já, podemos ver o trailer aqui.

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Mais olhos que barriga

Devo confessar que me não surpreendeu, em nada, a confirmação oficial do cancelamento dos Depeche Mode em Alvalade. Quando foi anunciado, pareceu mais olhos que barriga. Assim foi! Meses volvidos sobre casa cheia no Pavilhão Atlântico (e em noite apenas “médio mais”, banda em evidente piloto automático e alinhamento demasiado fácil, sem atenção a pérolas passadas com as quais o fã gosta de ser surpreendido), quem imaginaria novo sucesso retumbante? E logo num estádio? Quem os queria ver, já viu. E quem queira, mas não conseguiu bilhete, encheria novo Atlântico? Talvez, no dia seguinte… Mas agora, quem desejaria repetir a dose, salvo o fã indefectível ou o comprador de última hora, desapontado por não ter já conseguido bilhete na última vez? Com a economia doméstica do português médio nas lonas, e uma oferta de espectáculos em excesso (dada a realidade económica actual, entenda-se), as decepções começam naturalmente a fazer notícia. Veja-se o que sucedeu com os Sigur Rós há dias, mais um caso de repetição antes do tempo.
O mercado nacional é pequeno e muito limitado. A vontade em ver os grupos de que se gosta existe, claro. E é verdade que os Depeche Mode viveram o seu maior sucesso editorial português com o último álbum. Mas daí a imaginar dois concertos num intervalo de menos de um ano, o segundo em espaço talvez sobredimensionado para a realidade da sua base de fãs, e ainda por cima em tempo de férias e festivais, dá nisto.
O cancelamento dos Depeche Mode, de que Gary Numan, ao telefone ontem de manhã, já me tinha dado sugestão, é má notícia para um país que se julgava já no mapa dos grandes roteiros live europeus. Para todos os efeitos, corre já a notícia, entre agentes internacionais, que um concerto com uma banda de primeira divisão foi cancelado em Portugal. E ninguém se preocupará a explicar, a esses mesmos agentes, o antecedente do desaire, ou seja, casa cheia para 20 mil almas “satisfeitas” alguns meses antes… Não nos admiremos, agora, de cautelas maiores em futuras digressões de nomes de primeira divisão… Antes de assinar uma data lusitana, muitos certamente pensarão duas vezes…

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Mercury Prize: os nomeados

Está anunciada a short list para a edição deste ano do Mercury Prize, o mais importante prémio musical em solo inglês. Se vencer a lógica de indústria, que busca novas formas de fazer fenómenos e “vendas de facto”, não haverá como travar o triunfo dos Arctic Monkeys. Se prevalecer uma vontade em apostar na novidade, em novas formas de encarar a canção, os Hot Chip poderão ser a surpresa. Mas se a opção for mais clássica, os Scritti Politti poderá acabar como a escolha. Há ainda a força icónica (para a geração de 90) de um Thom Yorke, outro potencial motor de entusiasmos. Porém, o Mercury Prize habituou-nos à surpresa, pelo que, apesar das bolsas de apostas, nada como esperar por 5 de Setembro para sabermos quem ganha…

Para os interessados, aqui fica a short list:
Arctic Monkeys “Whatever People Say I Am That's What I'm Not”
Isobel Campbell + Marl Lanegan “Ballad Of The Broken Seas”
Editors “The Back Room”
Guillemots “Through The Windowpane”
Richard Hawley “Coles Corner”
Hot Chip “The Warning”
Muse “Black Holes & Revelations”
Zoe Rahman “Melting Pot”
Lou Rhodes “Beloved One”
Scritti Politti “White Bread Black Beer”
Sway “This Is My Demo”
Thom Yorke “The Eraser”

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terça-feira, julho 18, 2006

Discos da semana, 17 de Julho

Lisa Germano “In The Maybe World”
Uma série de álbuns editados na 4AD durante a década de 90, entre os quais os marcantes Geek The Girl (1994) e Excerpts From A Love Circus (1996), revelaram Lisa Germano como uma das mais cativantes cantauroras do seu tempo, arrepiante nas visões pessoais que lança na sua música, profundamente sedutora na voz e instrumentação que a acolhe. Porém nunca teve a visibilidade de uma PJ Harvey, Björk, tendo inclusivamente, a dada altura, abdicado da música como terapia para uma vida saudável de menos confrontos com o insucesso e mais seguro e fixo ordenado ao fim do mês.
Felizmente, para os muitos que a admiram, deu o dito por não dito. E cinco anos depois de um silêncio mergulhado numa livraria de Los Angeles, regressou com Lullaby For Liquid Pig (2003), mais íntimo, mais delicado, mais pessoal, não menos confessional. Três anos depois, In The Maybe World continua a história onde o sublime álbum de 2003 nos deixou. A morte, não como tragédia, mas momento de passagem que nos leva antes a pensar naquilo que viveu (não necessariamente no que desapareceu) domina as reflexões de uma escrita que mantém viva a emotividade crua, sem filtro, que sempre caracterizou a obra de Lisa Germano. As canções são-nos sussurradas aos ouvidos, expressando uma intensidade interior que a alguns assusta, mas que não cede nunca perante uma busca de paz depois de explicada mais uma história de dor e perda. Só, ao piano, pontualmente violino e guitarra, Lisa Germano reúne aqui um notável conjunto de canções de cortante verdade e inequívoca beleza. Será desta que lhe daremos a justa atenção?

Who Made Who “Green Version”
Editado no ano passado, o muito recomendável álbum de estreia WhoMadeWho representou um dos mais estimulantes convites à dança da saison, através de uma reapropriação de modelos captados na memória das noites agitadas de finais de 70 e inícios de 80, funk e derivados do disco em diálogo com a então ‘novidade’ pós-punk. Um ano depois, o não menos apelativo Green Version despe às mesmas canções desse mesmo disco a sua secção rítmica e transforma monumentos de carne e movimento em corpos, não menos reais, feitos de paz e contemplação pop. Não se confunda a operação com a modalidade unplugged dos anos 90. Estas versões “verdes” são apenas ecologia de contenção no ritmo, propondo modos baladeiros de abordagem a uma mesma canção, electricidade e electrónicas presentes.

Envelopes “Demon”
Quem são os Envelopes? Uma banda franco-sueca, nascida entre férias enquanto os seus membros, fãs de Pixies, Kate Bush, Mutantes e Talking Heads, estudavam na faculdade. Demon, o seu segundo álbum é mais um fruto da era do mash cultural que nos deu já uns Arcade Fire, Clap Your Hands Say Yeah ou Architecture In Helsinki. Mas, fruto da disparidade dos gostos dos elementos, a colagem sugere desvios ainda mais inesperados nos quais, se escuta ora a acção directa de uns Velvet Underground e o minimalismo de uns Young Marble Giants ou a elaboração multicultural de um Beck, até mesmo a pop visionária dos Stereolab. É um disco desafiante, surpresa a cada faixa, habituação a assegurar, aos poucos, o prazer que se vai instalando. Mais uma boa surpresa com identidade sueca, portanto.

Vários “Happy Endings”
Banda sonora do filme entre nós em exibição sob o título Finais Felizes, é uma colecção de temas colhidos entre discos dos Calexico, Black Heart Procession, a contribuir para uma caracterização desértica, de proximidade mexicana, ao filme de Don Roos com acção algures em Los Angeles. O filme, claro herdeiro do filão Magnólia, serve-se da música como elemento de grande relevância, até porque dois das suas dez personagens centrais passam por uma banda. Destaque-se, aí, a contribuição de Maggie Gyllenhall, que dá a sua própria voz às canções da sua personagem. Canções essas que a banda sonora naturalmente inclui.

E também: Pet Shop Boys (DVD reedição), Seu Jorge (DVD), Black Heart Procession, etc), Gaiteiros de Lisboa, Moloko (best of), Lilly Allen

Brevemente:
24 Julho: Sufjan Stevens, Nitzer Ebb (best of), Comsat Angels (reedições), New York Dolls, Frank Black, Joan As Policewoman
Agosto: Bob Dylan, Outkast, Pulp (reedições), Heaven 17 (reedições)

Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Protocol (Verão), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Verão), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Setembro), Sisters Of Mercy, I’m From Barcelona (Agosto), Clinic (Outono), Coachella (DVD, em Julho)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), Siouxsie & The Banshees, Lilac Time, The Cure


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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domingo, julho 16, 2006

Discos Voadores, 15 de Julho

A edição de um novo álbum de Lisa Germano é motivo para uma viagem de redescoberta de alguns dos seus discos e de reencontro com algumas das grandes cantautoras de 90.

Who Made Who “Space For Rent”
Hot Chip “Colours”
Kudu “Hey 50”
Thom Yorke “Analyse
Spartak “Spartak!One”
The Knife “Forest Families”
Regina Spektor “Fidelity”
Patti Smith “China Bird”
Lisa Germano “In The Maybe World”
Laurie Anderson “Coolsville”
Semifinalists “You Said”
Xana “Táxi”
Sonic Youth “What A Waste”
Raconteurs “Broken Boy Soldier”

Sufjan Stevens “The Avalanche”
Syd Barrett “Wined And Dined”
Jorge Palma “Estrela do Mar”
Lisa Germano “After Monday”
Lisa Germano “Geek The Girl”
Lisa Germano “Puppet (album version)”
Lisa Germano “Candy”
Kristen Hersh “Your Ghost”
PJ Harvey “Who Will Love Me Now”
Mimi “Fire And Horses”
Sylvia Hallett “One More Holliday”
Björk “One Day”
Lisa Germano “Too Much Space”
Gaelle Cardoso “Twisted”
Kelley Polar “Vocalise”


Discos VoadoresSábado 18.00 - 20.00 / Domingo 22.00 - 24.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm

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quarta-feira, julho 12, 2006

Discos Voadores no Incógnito (o 'set')

Há já alguns anos que não passava uma noite a cruzar discos para uma plateia. Tirando uma festa no DN, e pontuais encontros entre amigos, o DJ (ou antes, o não-DJ) estava adormecido. E numa noite de calor acordou.
Esperando que quem passou pelo Incógnito se tenha divertido tanto quanto me diverti eu na cabine, rodando discos, falando com velhos e novos amigos, água com gás como gasolina única e, claro, usando a provocadora T-shirt “I Am Not A DJ” comprada há poucas semanas no Sonar, aqui deixo o alinhamento integral desta sessão Discos Voadores.

Em Repeat: Incinerate, dos Sonic Youth.
Álbum em exploração: Dying To say This To You dos The Sounds
Fio de Azeite (sempre indispensável): Ciências Sensuais, dos brasileiros Azul 29

Nouvelle Vague “The Killing Moon”
Brian Eno “How Many Worlds”
Fort Dax “Oxenofolly”
Goldfrapp “You Never Know”
Drum Club “Space Angel Station”
The Knife “The Captain”
Kelley Polar “The Rooms In My House Have Many Parties”
Hot Chip “Tchaparian”
Kasabian “ID”
Franz Ferdinand “Walk Away”
The Cloud Room “Beautiful Mess”
Death In Vegas “Aisha”
CatPeople “Everyone Can Tell You”
Interpol “C’Mere”
Jeff Who? “The Golden Age”
Kudu “Magic Touch”
Azul 29 “Ciências Sensuais”
Every Move A Picture “St John’s Night”
Protocol “Where’s The Pleasure?”
Ladytron “Nothing To Hide”
X Wife “Ping Pong”
You Should Go Ahead “Melancholic Phantom”
U-Clic “Like”
Kudu “Hey 50”
Soho Dolls “Prince Harry”
Yeah Yeah Yeahs “Cheated Hearts”
The Sounds “Tony The Beat”
Shut Out Louds “The Comeback”
White Rose Movement “Love Is A Number”
She Wants Revenge “Tear You Apart”
Joy Division “She’s Lost Control”
Sonic Youth “Incinerate”
The Strokes “Heart In A Cage”
We Are Scientists “Nobody Moves, Nobody Gets Hurt”
Raconteurs “Steady As She Goes”
Dirty Pretty Things “Bang Bang You’re Dead”
The Idle Hands “Loaded”
The Sounds “Painted By Numbers”
Blondie “In The Flesh”
Salada de Frutas “Robot”
Franz Ferdinand “Do You Wanna”
Editors “Fingers In The Factories”
The Bravery “An Honest Mistake”
Duran Duran “Careless Memories”
Ultravox “New Europeans”
Bauhaus “Ziggy Stardust”
David Bowie “Rebel Rebel”
Elephant “Lolita”
Arctic Monkeys “I Bet You Look Good On The Dance Floor”
White Stripes “Fell In Love With A Girl”
The Jam “Going Underground”
Pixies “Debaser”
Raveonettes “Love In A Trash Can”
The Sounds “Queen Of Apology”
Ladytron “Disco Traxx”
Infadels “Can’t Get Enough”
The Kills “The Good Ones (Tiga remix)”
Tiga + Jake Shears “We’re Gonna Want Me”
Woman In Panic “A Forest”
Kraftwerk “Radioactivity (1991 mix)”
Vitalic “My Friend Dario”
Mount Sims “9 Voltz”
LCD Soundsytem “Daft Punk Is Playing In My House”
Soft Cell “Tainted Love/Where Did Our Love Go?”
Depeche Mode “A Pain That I’m Used To (Telex remix)”
Vive La Fête “Exactement”
Every Move A Picture “Signs Of Life”
Cloud Room “Hey Now Now”
The Smiths “What Difference Does It Make?”
Sonic Youth “Incinerate”
Richard Hell & The Voidoids “Love Comes In Spurs”
Television “See No Evil”
The Hives “Hate To Say I Told You So”
Kaiser Chiefs “Everyday I Love You Less And Less”
Bang Bang Machine “Breathless”
Deee-Lite “What Is Love?”
Juliette “Avalon”

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Vendas 'online' crescem 77 por cento

Os números do relatório da Nielsen sobre o comportamento do mercado da música gravada no primeiro semestre de 2006 revelou que o número de downloads (legais) de álbuns na íntegra, ou seja, uma contabilidade que não soma a ainda mais vasta quantidade de faixas vendidas avulso, atingiu nestes seis meses um total de 14 milhões de unidades, apenas nos EUA. Há um ano, o primeiro semestre de 2005 tinha assistido a vendas na ordem dos 6,5 milhões, o que traduz um aumento, espantoso, de 77 por cento. Há um argumento válido na explicação da queda no retalho tradicional: o facto de não ter havido ainda este ano um lote de álbuns multi-platinados, que por si só geram vendas em grande escala. Mas, como deixou claro o editor da Wired, Chris Anderson, num livro que acabou de publicar, a era dos álbuns "blockbuster" está a terminar e o novo comportamento do consumidor de música, mais atento à Internet, começa a interverir visivelmente nestes números em queda do mercado (e sua oferta) tradicional.
O relatório mostra ainda que, como se esperava, os consumidores estão a optar pela compra de faixas avulso, em vez de adquirir álbuns na sua totalidade.

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Discos da semana, 9 de Julho

TV On The Radio “Return To Cookie Mountain”
Não era por acaso que este era um dos mais aguardados álbuns deste Verão. O seu disco de estreia, Desperate Youth, Blood Thirsty Babes (2004) revelara uma torrente de ideias à espera de tempo e rodagem para as ordenar e delas fazer nascer mais num estimulante híbrido, representativo portanto das tendências artísticas do tempo em que vivemos. Assim foi e em Return To Cookie Mountain não só a casa está arrumada, como à face esteticamente actual e interventiva o grupo de Brooklyn acrescenta uma postura política que sabe pensar acima dos clássicos (estafados e cada vez mais anacrónicos) duelos entre esquerda e direita, procurando antes uma nova forma de pensar o presente, onde vivemos, com quem vivemos, o que nos rodeia. De resto, os TV On The Radio já nos tinham mostrado serem capazes de uma postura política interventiva, menos panfletária, mas mesmo assim eficaz, quando, no rescaldo do furacão Katrina, compuseram, gravaram e colocaram no seu site uma canção denunciando a má gestão dos eventos pela administração Bush. Sem travar a intensidade das ideias, a força dos acontecimentos ou o volume da música, um sentido de calma parece atravessar um disco mais claro, sem receio de assumir claramente as suas influências, experimental ainda, mas de evidente sangue pop. Samples de guitarras, pianos, baixos distorcidos, texturas elaboradas, ritmos que não temem o hip hop ou outros ventos, overdubs vocais (a lembrar, à distância, e noutro contexto, a complexidade de eventos de uns Beach Boys em meados de 60)… E também a voz convidada do confesso admirador David Bowie, em Province. Este é um disco que sabe bem ir descobrindo aos poucos, Um mundo de detalhes que se desvendam a cada audição. Uma recomendável sugestão para acabar de vez com a ideia que o Verão é silly.

Regina Spektor “Begining To Hope”
Depois dos sinais encorajadores do anterior Soviet Kitsch, o novo disco da jovem cantaurora russa crescida e educada em Nova Iorque promete dela fazer uma das cantauroras de referência para a geração 00. Filha de um pai que escutava discos ocidentais às escondidas e de uma professora de piano de Moscovo, herdou tanto um travo de rebeldia nas ideias como um sentido de aprumo e exigência nas formas. A Perestroika permitiu-lhe sair de Moscovo com a família, e aos nove anos de idade viu-se em Nova Iorque, onde a exposição à música de Joni Mitchell e Ani di Franco se mostrou determinante paleta de iniciação a novas influências. A sua música hoje revela ainda a presença de Billie Holliday, Tori Amos e Patti Smith, cruza genéticas captadas na música clássica, na folk, na alma russa, revela um gosto pela literatura que se descodifica em referências a nomes como Scott Fitzgerald, Hemingway ou Boris Pasternak… Regina Spektor escreve assumidas ficções, luminosidade ou introspecção projectadas em personagens não necessariamente autobiográficas. O novo disco traz a revelação de outras ambições, uma delas a de evidente desejo de transcender ao circuito free folk ao qual esteve em tempos associada, sem que tal implique um processo de ruptura. Pelo contrário, as marcas dos trilhos que percorreu nos últimos discos encontram aqui uma produção mais meticulosa, arranjos depurados, mais exactos. Máquinas e instrumentos “reais” em diálogo frutuoso. E uma voz que conquista. Depois das cartas de intenções dos discos anteriores, este é o disco que nela confirma grandes esperanças nesta que é uma das cantautoras da geração actual na qual mais podemos acreditar.

Thom Yorke “The Eraser”
Enquanto os Radiohead trabalham num disco novo (espera-se que em rota de afastamento do passo no sentido da banalização do seu som que se escutou no apenas mediano anterior Hail To The Thief), Thom Yorke edita um primeiro disco a solo. É essencialmente electrónico, claro herdeiro de experiências levantadas nos excelentes Kid A e Amnesiac, mas sem a culinária de temperos variados que o colectivo soube então acrescentar à matriz nascida entre máquinas. Mas na verdade, pouco de ostensivamente novo ou diferente mora nestas canções. Estão aqui as mesmas obsessões, a mesma aparente necessidade compulsiva de projectar ideias em canções. Estão aqui as marcas da produção texturalmente meticulosa de Nigel Godrich. Estão aqui as projecções inevitáveis de uma eventual opressão pela fama e sucesso. Mas não vamos muito mais longe. Estão aqui as canções que se imaginavam depois de Kid A e Amnesiac. Num registo semelhante, plim plim plim e muito sofrimento encenado (não dizemos que não seja verdadeiro). Argumentos e personagens repetidos. E sem a escrita superior que fez desses dois discos dos Radiohead duas referências da presente década. Um mais-do-mesmo. Que cansa e não estimula muito…

Vários “Paint It Black”
Paint It Black não é um tributo aos Rolling Stones. É, antes, uma colecção de versões de originais da banda, gravadas desde meados de 60. Reúnem-se assim históricos seus contemporâneos (e confessos admiradores) como Otis Redding, Aretha Franklin, David Bowie ou a dupla Ike & Tina Turner, ou discípulos de várias gerações, de Bryan Ferry aos Thunder. É uma galeria interessante de leituras, sobretudo no departamento soul (no qual se amplificam as raízes bluesey de Jagger, Richards e Brian Jones) ou em aventuras de visão maior como o faz Bryan Ferry num Simpathy For the Devil de 1973. Mas é uma recolha irregular, muito cheia de lixo banal e incompleta. Há por aí mais e melhor, bastando evocar o (I Can’t Get No) Satisfaction dos Devo, para ver que muito ficou por contar.

E também: The Czars, Vitalic, Sebadoh, Michael Franti, Vetiver, Danielson, Peaches, Jesus & Mary Chain (reedições), Ultravox (reedições)

Brevemente:
17 Julho: Lisa Germano, Envelopes, Pet Shop Boys (DVD reedição), Seu Jorge (DVD), Happy Endings (BSO com Calexico, Black Heart Procession, etc), Gaiteiros de Lisboa, Moloko (best of), Lilly Allen, Who Made Who (versões verdes)
24 Julho: Sufjan Stevens, Nitzer Ebb (best of), Comsat Angels (reedições), New York Dolls

Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Protocol (Verão), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Verão), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Setembro), Sisters Of Mercy, I’m From Barcelona (Agosto), Clinic (Outono), Coachella (DVD, em Julho)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), Siouxsie & The Banshees, Lilac Time, The Cure, Heaven 17 (reedições em Agosto), Lou Reed (reedição), Pulp (reedições em Agosto)

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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terça-feira, julho 11, 2006

Morreu Syd Barrett


Gravou apenas um álbum inteiro com os Pink Floyd, mas é impossível falar na história e música do grupo sem o evocarmos, tantas que foram as marcas que acabou por imprimir numa obra que frequentemente abordou a doença mental, por vezes em referência directa a Syd Barrett. Mas consigo, sobretudo entre 1966 e 67 (ver caixa), os Pink Floyd não só se afirmaram como a primeira banda psicadélica britânica, como uma das aventuras musicais mais visionárias desse tempo em que o som ganhou cor e novos sentidos de liberdade. Afastado, primeiro da banda, em 1968, depois da música, pouco tempo depois, viveu as três últimas décadas de regresso à Cambridge que o viu nascer em 1946. Abandonou o nome de guerra, Syd (roubado em inícios de 60 a um amigo baterista da sua cidade), e respondia de novo com o seu nome: Roger Barrett. Voltou a pintar. Aprendeu a cozinhar e começou a colecionar moedas. Saía à rua para fazer compras, mas só falava com as empregadas das lojas. Paparazzi e fãs visitavam-no. Tiravam-lhe fotografias. Não gostava, mas gostava ainda menos que lhe falassem de quando era músico. Em 1998 a irmã, a única pessoa que se manteve por perto, ofereceu-lhe uma aparelhagem áudio, para que pudesse escutar os discos de que mais gostava: Rolling Stones, Booker T & The MG's e compositores clássicos. Pink Floyd não voltou a escutar. E quando a EMI lançou a antologia dos Floyd Echoes, em 2001, não se manifestou. Todavia, viu pouco depois, em casa da irmã, um documentário que a BBC transmitiu sobre a "sua" banda... Gostou, embora o criticasse por muito "barulhento". E saboreou, sobretudo, uma velha canção que lançara em 1967: See Emily Play. Há oito anos foi-lhe diagnosticada diabetes e prescrita uma medicação que nem sempre seguia à risca. E foi uma complicação associada à diabetes que, na passada sexta-feira, lhe roubou a vida. Em casa. Sem aparato. Sem gente por perto.

Syd Barrett teve, na verdade, uma breve vida musical. Gravou três singles e um álbum com os Pink Floyd (e só participou com uma canção no seu segundo longa duração). A solo registou dois álbuns, um terceiro, de "sobras", lançado mais tarde. Mas era um visionário, experimentando novas dimensões na construção das melodias e sobretudo nos seus arranjos, como se fosse possível traduzir por som as teses de um Aldous Huxley ou Timothy Leary. A sua música, quase toda ela composta entre 1966 e 67, traduz ecos de uma infância feliz, até ao dia em que o pai foi ceifado pela morte antes do tempo. A solo, contudo, o canto denuncia sobre estas palavras uma melancolia, quase desespero, solidão que mal comunica, entope e implode. Assim foi.

Os Pink Floyd devem a sua identidade de berço às visões de Syd Barrett, seu principal vocalista, guitarrista e compositor nos primeiros tempos. Oito dos temas de The Piper At The Gates Of the Dawn são seus, e da sua obra e ideias nasceram inúmeras histórias de fascínio e admiração, David Bowie tendo sido um dos primeiros a manifestar a profunda influência que o músico teve em si.

Mas Syd começou a manifestar comportamentos bizarros no mesmo Verão em que o álbum de estreia dos Pink Floyd somava entusiasmos e cativava fiéis. O intenso consumo de drogas, em particular o LSD, é apontado como gatilho de uma série de manifestações, num quadro que se agravou até se tornar insustentável. Num concerto não tocou senão um acorde. Num outro desafinou a guitarra ao som de Interstellar Overdrive. Quando o grupo passou pelo American Brandstand, nos EUA, não abriu a boca durante o play back televisivo. Muitas vezes não tocava em ensaios, e ao vivo as performances eram surpresa que os colegas nem queriam imaginar. A dada altura contrataram o seu velho colega de escola David Guilmour para tocar guitarra. Até ao dia em que, em viagem para novo concerto, resolveram nem passar pela sua porta para o ir buscar. Em Março de 1968, Syd Barrett estava, oficialmente, fora dos Pink Floyd.

Uma breve carreira a solo, da qual contudo nasceram discos devastadoramente belos, terminou em 1972, quando Syd parecia ter perdido todo o interesse pela música. Em 1974 vendeu à editora os direitos sobre os seus discos e, libras no bolso, mudou-se para um hotel em Londres. Esgotada a carteira, regressou para a cave na casa da mãe. Há quem veja nele um caso de esquizofrenia. Há quem o aponte como Asperger. Seja como for, Gilmour explicou, em recente entrevista, que o seu colapso mental seria inevitável. E que as experiências psicadélicas não foram mais que um gatilho que o acelerou.

PS. Este texto intregra o obituário de Syd Barrett, hoje publicado no DN


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segunda-feira, julho 10, 2006

Tudo acaba...

Hoje à noite o ecrã far-se-á branco para assinalar a última das mortes de Sete Palmos de Terra. Ou seja, a da própria série. A 2: transmite pelas 22.30 o 63.º e último episódio de uma saga familiar que o canal tomou como estruturante na sua grelha (e personalidade). O último de uma série que, como poucas, gerou justificado culto, que hoje se despede de uma rotina de segunda-feira à noite, ao fim de cinco anos de exibição.
Como subtítulo para a quinta e derradeira época de episódios, Sete Palmos de Terra usou a expressão "everything ends" (tudo acaba). Nada mais que o reafirmar da certeza única que todos temos: a da morte, um dos muitos medos que a série tomou como matéria-prima para cinco anos de histórias em volta de uma família peculiar. Sete Palmos de Terra ganhou notoriedade e adeptos por uma vasta colecção de ingredientes usados na confecção dos seus episódios. Claramente liberal, sem receio de convocar alguns tabus que ainda arrepiam a América mais conservadora (a morte, a homossexualidade, as drogas, a desagregação da família, a noção da vida artística como um destino profissional viável), sem pruridos também na desmontagem de uma sociedade que procura paz no divã do psicanalista, Sete Palmos de Terra tomou como núcleo de "trabalho" a disfuncional família Fisher.
Agentes funerários (a série reflecte e projectou mais ainda o culto do belo-morto nos EUA), os Fisher receberam, semana após semana, defuntos cujas histórias e universos somaram temperos à narrativa da saga familiar que cruzou os 63 episódios. A morte, sem convocação de teses religiosas determinantes, sem leituras obrigatórias, sem misticismos de meia-tigela, é o tutano de Sete Palmos de Terra. E não foi por acaso que Alan Ball, o criador da série, projectou a acção em Los Angeles, cidade que considera ser a "capital mundial da negação da morte". E, inevitavelmente, de morte tratará o último episódio, o mais longo da série (com cerca de 75 minutos).
Tem por título Everyone's waiting, expressão dita numa aparição do falecido Nate num diálogo com a irmã Claire. Esta será a figura central do episódio, num debate entre um sonho de carreira em Nova Iorque e um "dever" familiar em casa... Alan Ball fez questão de terminar a saga com incontornáveis pontos finais. O ecrã branco surgirá, revelando a lápide de... E ao som de Breathe, de Sia Furler.
PS. Este texto integra um pequeno dossier sobre 'Sete Palmos de Terra' hoje publicado no DN.

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domingo, julho 09, 2006

O milésimo 'post'


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Discos Voadores, 8 de Julho

À boleia da edição do novo álbum de Ian Simmonds, através do seu projecto Wise In Time, um mergulho de redescoberta do sentido “cool” na canção popular, muitas sugestões jazzy, naturalmente, convocadas como tempero.

Muse “Take A Bow”
The Idle Hands “Loaded”
Kudu “Magic Touch”
Double D Force “Let Yourself Go”
Hot Chip “Colours”
Regina Spektor “Fidelity”
Wise In Time “The Fox”
Herbert “Birds Of A Feather”
Divine Comedy “To Die A Virgin”
The Zombies “Time Of The Season”
Raconteurs “Intimate Secretary”
Envelopes “I Don’t Like It”
Spartak “King Tubby”
Sonic Youth “Incinerate”

TV On The Radio “I Was A Lover”
You Should Go Ahead “Melancholic Phantom”
CatPeople “Everyone Can Tell You”
Wise In Time “Crazy Chair”
The Sandals “We Don’t Want To Be The Ones Who Take The Blame”
Wise In Time “Nine”
Air “Talisman”
United Future Organization “On Est Ensemble Sens Se Parler”
De-Phazz “Cut The Jazz”
Coldcut “Chocolate Box”
Wise In Time “Firing Line”
Wordsong “Opiário”
The Knife “Forest Families”


Discos VoadoresSábado 18.00 - 20.00 / Domingo 22.00 - 24.00
Radar 97.8 FM
e radarlisboa.fm

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sexta-feira, julho 07, 2006

'Into The West' favorita nos Emmys

A mini-série de seis episódios Into The West, com produção executiva de Steven Spielberg, lidera as nomeações dos Emmys, os prémios de televisão anualmente entregues nos EUA. Into The West, já editado em DVD nos EUA, colheu 16 nomeações, ultrapassando a série histórica britânica Elisabeth I, que reuniu 13. Entre a lista dos mais nomeados encontramos ainda 24, com 12. Lost, uma das grandes séries vencedoras no ano passado, somou apenas nove nomeações (nenhuma na categoria de Melhor Série Dramática). Sete Palmos de Terra, na sua época final, ainda juntou nove nomeações, entre as categorias de interpretação, direcção artística e outros detalhes técnicos. Ao todo são 90 as categorias, prémios a revelar a 27 de Agosto. Aqui ficam algumas das categorias mais relevantes:

Actor principal em Série Dramática:
Peter Krause – Sete Palmos de Terra
Denis Leary - Rescue Me
Christopher Meloni - Law and Order: Special Victims Unit
Martin Sheen – Os Homens do Presidente
Kiefer Sutherland - 24

Actriz principal em série dramática:
Frances Conroy – Sete Palmos de Terra
Geena Davis - Commander In Chief
Mariska Hargitay - Law and Order: Special Victims Unit
Allison Janney – Os Homens do Presidente
Kyra Sedgwick - The Closer

Actor principal em mini-série ou tele filme:
Andre Braugher - Thief
Charles Dance - Bleak House
Ben Kinglsey - Mrs Harris
Donald Sutherland - Human Trafficking
Jon Voight – João Paulo II

Actriz principal em mini-série ou tele filme:
Gillian Anderson - Bleak House
Kathy Bates - Ambulance Girl
Annette Benning - Mrs Harris
Judy Davis - A Little Thing Called Murder
Helen Mirren - Elizabeth I

Actor secundário em série dramática:
William Shatner - Boston Legal
Oliver Platt - Huff
Michael Imperioli - Os Sopranos
Gregory Itzin - 24
Alan Alda – Os Homens do Presidente

Actriz secundária em série dramática:
Candice Bergen - Boston Legal
Sandra Oh - Grey's Anatomy
Chandra Wilson - Grey's Anatomy
Blythe Danner - Huff
Jean Smart - 24

Melhor série dramática:
Grey's Anatomy
House
Os Sopranos
24
Os Homens do Presidente

Melhor mini-série:
Bleak House
Elizabeth I
Into the West
Sleeper Cell

Melhor comédia:
Arrested Development
Curb Your Enthusiasm
The Office
Scrubs
Two and a Half Men

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Leituras 'smithicas'

Dose dupla de livros para fãs dos Smiths (e Morrissey, claro) na rentrée. Em primeiro lugar, e certamente bem interessante, anuncia-se para início de Novembro a edição de uma antologia de entrevistas de Morrissey, reunido textos publicados na imprensa desde os anos 80 à actualidade cruzando temas vários. Morrisey In Conversation – The Essential Interviews é compilado por Paul A Woods, em 192 páginas a editar pela Plexus Books. A capa do livro (a confirmar-se ser esta que publicamos, e que se pode ver no site da amazon, anunciando já pré-encomendas) não entusiasma muito. Mas as entrevistas, diz-se, falam de música e das muitas obsessões de Morrissey. Quer isto dizer, promete. O outro lado da história, ou seja, a visão de Johnny Marr conta-se em Johnny Marr: The Smiths and The Art of Gun-Slinging, de Richard Carman, 256 páginas de texto a publicar pela Independent Music Press em finais de Setembro.

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As melhores estreias, versão 'Uncut'

Segundo a Uncut, o melhor álbum de estreia da história é o clássico The Velvet Underground + Nico, dos Velvet Underground (1967). Justo! O disco suplantou, por pouco, Marquee Moon dos Television e Are You Experienced?, de Jimi Hendrix, na lista dos 100 melhores discos de estreia da história que é peça central da edição deste mês da revista. A lista encerra com Funeral, dos Arcade Fire no número 100. E deixa o primeiro álbum dos Franz Ferdinand no número 90, ou seja, atrás dos Libertines e bem atrás dos Arctic Monkeys… Por outras palavras, a Uncut tentou encher páginas em tempo de dieta de edições com uma ideia potencialmente diferente. Mas acabou a fazer mais do mesmo. E com aquela mania tipicamente “bife” de endeusar as últimas “big things”. Em que lugar (do esquecimento) estarão Libertines e Arctic Monkeys daqui a 39 anos (a idade do clássico dos Velvet Underground que lidera esta lista)?

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quinta-feira, julho 06, 2006

Coisas pequenas

Chega hoje às salas um filme que esperou um ano para ver a luz de um projector de cinema em Portugal. Tem por título Eu e Tu E Todos Os Que Conhecemos (no original Me & You And Everyone We Know), assinala a estreia em cinema da vídeo artist Miranda July e é, garantidamente, um dos melhores filmes que vamos ver este verão. Apesar de nos dar um retrato de cenas da vida comum entre gentes cruzadas num bairro periférico de uma grande cidade de hoje (como recentemente vimos, em DVD, no soberbo Segredos Urbanos e, brevemente, em Finais Felizes, em sala), o filme de Miranda July evita o templateMagnólia” e até mesmo o toque Todd Solondz que algum deste cinema parece frequentemente transportar na alma. O filme é, na verdade, um profundo depoimento de personalidade e identidade artística e, mesmo não querendo nunca transportar para a sua identidade (e imagem ou mesmo conceito) quaisquer características do vídeo de arte, espaço no qual Miranda July fez até aqui carreira, não deixa de nos presentear com ideias invulgares nas narrativas ou visões estéticas mais características do mundo do cinema. Há planos, ideias gráficas - como a sinalética ))<>((, cujo significado descodificará quem vir o filme -, pequenas discretas visões, que revelam uma sensibilidade artística invulgar, um gosto pelo detalhe esteticamente pertinente (e que acaba por ser narrativamente consequente).
Numa visão rápida, podemos descrever Eu e Tu E Todos Os Que Conhecemos como um conjunto de vidas que se encontram em volta de um núcleo familiar constituído por um pai divorciado e seus dois filhos, estes dois frutos da idade da Internet, o mais pequeno entrando em chats mesmo sem ainda dominar a escrita, usando técnicas de cut and paste (os seus diálogos online, e eventuais consequências, são dos momentos mais espantosos do filme). Em volta mora uma muito jovem rapariga que colecciona electrodomésticos para um enxoval de sonho, um adulto de barriga já pronunciada que é alvo da provocação de duas adolescentes. Mais distante fisicamente, mas cruzando-se a dada altura com o “pai” acima citado, na sapataria onde este trabalha, uma jovem taxista (que apenas transporta idosos), que nas horas vagas sonha (e realiza) projectos artísticos em vídeo. Esta figura é interpretada pela própria Miranda July, num papel com evidentes traços autobiográficos e uma história artística que não deixa de parodiar o circuito das elites intelectuais, nomeadamente na figura de uma directora de museu que terá de enfrentar para tentar levar o seu projecto do anonimato do seu T zero de paredes cor de rosa às salas de exposição. Um olhar crítico, mas positivo, saudável, luminoso, sobre o mundo urbano em que vivemos, elixir saudável num momento em que a maior parte das visões do mundo moderno em cinema parecem casos de depressão a pedir urgente psicoterapia. Uma das revelações do ano!

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Antes tarde que nunca!

Inicialmente agendada para 2005, depois adiada para Março deste ano, a reedição de Young Americans, o “álbum soul” que David Bowie gravou em 1975, vai mesmo acontecer, mantendo uma política de lançamentos especiais comemorativos dos 30 anos de clássicos do músico encetada com The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars e continuada em Aladdin Sane e Diamond Dogs. Resta ainda saber se se mantém a ideia de uma edição com extras. Garantida parece, apenas, a remistura para 5:1. Entretanto, da EMI japonesa vem a notícia da reedição, em mini vinil (ou seja, CDs miniaturizando, a rigor, os originais em vinil) do catálogo de Bowie entre Space Oddity (1969) e o primeiro álbum com os Tin Machine (1989). As reedições japonesas vão ser caras, como sempre, mas desejadas.

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