domingo, maio 21, 2006

Monstros e companhia

Foi o pior Festival da Eurovisão que alguma vez vi! Parece que digo isto todos os anos, mas é mesmo verdade! Não havia uma… Nem sequer uma única canção que se aproveitasse… Mesmo assim, foi o mais divertido da década. A vitória dos monstros finlandeses deixou a sala onde se realizava a votação simplesmente atónita, e a soma dos pontos (em desinteressante ritmo fast forward) não causou qualquer vaga de emoção senão um gelo de espanto… A vitória é fácil de explicar. Num ano com total falta de canções, ganha a melhor (ou pelo menos a menos banal) encenação. E melhor paródia bem humorada dos excessos teatrais do hard rock, facção “gore e outros terrores” não podia ter sido ali mostrada. A canção era um perfeito pavor! Hard rock de dieta, melodia banal e refrão quase a lembrar o mau azeite (leia-se óleo) dos Scorpions e afins… Mas eram a única coisa diferente.
O pobre Eládio Clímaco, que não deve ter achado grande piada à canção, começou a comentar a votação a dar valente pancada no mau gosto dos votantes, que era coisa da juventude e mais não sei quê. Mas lá se rendeu à maioria mostrenga, sem nunca deixar de demonstrar a sua profunda desilusão… Coitado… Só se esqueceu do seu típico momento poético de descrição da letra, com dois ou três versos depois traduzidos para português… Mas, vá lá, não se enganou nunca, não confundindo a coisa com os Jogos Sem Fronteiras, não anunciando nunca que nenhum país jogava o Joker…
Com a vitória dos monstrinhos, alguma coisa vai mudar neste concurso em vias de extinção? Não creio. O festival hoje é longínquo pasto de entusiasmo (e troca de votos) apenas a Leste. Ex-repúblicas soviéticas trocam mimos (leia-se pontos) entre si. O mesmo acontecendo entre estados escandinavos. E ex-membros da Jugoslávia… Para este lado, a velha Europa não leva nada. Nem mesmo o Reino Unido, com uma pop actual, de tempero hip hop, decentezita (mesmo que fraquinha), chama já o televoto eurovisivo.
Hard RockVision 2007? Seria engraçado. Mas qualquer comparação entre o que os monstrinhos caseiros finlandeses tocaram e o hard rock que por aí se faz e vende discos, é pura coincidência. Podem usar umas máscaras de Slipknot mansinhos, com tempero Jeepers Creepers, uma pitada de He-Man, com teclista orc, mas assustam tanto como os Bros… Ou até menos… Sempre podemos enviar em 2007 uma das nossas muitas bandas de metal do subúrbio... Ou desistir de vez, se a RTP não decidir encarar a sério, e com vontade estratégica, um concurso que entre nós não motiva músicos e letristas profissionais de primeira linha há já muitos, muitos, muitos anos…
Mas na verdade, nem com um triunfo thrash metal a Eurovisão se safa… Ou mudam critérios de votação (os países com voto tradicional, de júri de sala, não deram um único ponto à Finlândia nem trocaram pontos com os vizinhos), ou acabam com a formatação que obrigou a uma normalização tipo MTV dos pobrezinhos com (quase) tudo a cantar em inglês, ou a coisa afunda de vez.
PS. A canção portuguesa somou magrinhos 26 pontinhos e um 19º lugar na semi-final… 7 pontos da Suíça, 7 de França e 12 de Andorra. Não fossem os emigrantes e os amigos vizinhos, quem votaria naquilo?

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