segunda-feira, abril 17, 2006

Discos da semana, 17 de Abril

White Rose Movement “Kick”
Enquanto se espera sobre a decisão favorável a um licenciamento de Kick para Portugal, a edição internacional do álbum de estreia dos White Rose Movement não deixa de ser o acontecimento musical pop da semana. O disco confirma em pleno a visão pop de Love Is A Number, a força rock de Alsatian e o apelo dançável e viciante de Girls In The Back, três singles que, editados ao longo dos últimos meses, nos deram sucessivos sinais de alerta para um nome a acolher com atenção. Kick é tudo o que esses singles sugeriam, e mais. É um álbum ciente de uma carga genética herdada sobretudo no ideário pós-punk mais sombrio de finais de 70 e inícios de 80 (Joy Division à cabeça das referências), mas junta-lhe uma luz e cor pop que contrasta com as sombras dominantes, e uma pujante vitalidade rítmica que convida ao movimento. Logo desde o lançamento do seu primeiro single, há largos meses, ficou claro que entre os White Rose Movement iríamos encontrar um dos mais coesos álbuns de estreia da nova geração “novo rock”, capaz de se perfilar junto das não distantes estreias de uns She Wants Revenge ou Editors como disco a reter, e tão capaz de captar admiradores como o fizeram os Interpol e The Killers. De todos, os White Rose Movement são os que mais bem mostram um jeito peculiar em conciliar extremos, pop festiva e neura pós-punk, luminosidade positiva e raiva para electricidade, baixo e bateria, teclas aprumadas e angulosidade rítmica. O disco junta ao single uma série de novos temas que prometem fazer carreira, como Test Card Girl, ou uma nova versão de Pig Hale Jam. Quaisquer dúvidas poderão ser esclarecidas, ao vivo, em Paredes de Coura…

The Knife “Silent Shout”
Há muito que se não escutava um álbum de canções feitas exclusivamente sob confecção electrónica no qual as marcas de autor suplantam e quase apagam as referências e heranças mais óbvias (estas sendo as memórias de Björk nos bons dias de Debut, da ansiedade Le Tigre, de um gosto pelo trabalho das texturas como os Radiohead na fase Kid A/Amnesiac, do sentido de desconforto da voz de uma Siouxsie Sioux nos seus primeiros tempos). Silent Shout é um espaço de sombria expressão de um interior que somos forçados a descobrir nas entrelinhas das palavras e nas sugestões plásticas de uma música que não perde tempo com decorações supérfluas. Este é um caso sério de electrónica com atitude. Fria, espartana nos recursos e formas, plena de sentidos e intenções nas palavras, mas absolutamente capaz de assombrar pela visão, pela ousadia, pela personalidade. Esta é uma música de tons escuros, e nem mesmo quando a estrutura rítmica sugere o movimento ousamos fazer a festa. Silence Shout faz-se de uma música precisa, mecânica, contida, exacta. Negra, mas ciente de um humor subliminar que impede que mergulhemos numa ode pop à desgraça pós-moderna, antes procurando a sugestão de um domínio de sensações que imaginamos filmadas por um David Lynch ou Chris Cunningham. O disco é um mundo de surpresas a cada nova faixa e um daqueles raros casos de inexistência do mais ténue esboço de tédio ao longo de todo o seu alinhamento.

Philip Glass “Symphony No. 6”
Com subtítulo The Plutonian Ode, respeitando na íntegra o poema anti-nuclear de Allen Ginsberg, esta “sexta” não foge à linha de trabalhos sinfónicos recentes de Philip Glass, apresentando o texto cantado por um soprano (Lauren Flanigan). Na música, originalmente nascida para piano, mas adaptada depois para a dimensão de uma orquestra, Glass tenta explorar novas texturas e elementos dissonantes nos primeiros e segundo andamentos, retomando no terceiro um processo de construção aditiva mais familiar, todavia com alguns resultados refrescantes. O trabalho vocal, todavia, enferma de uma escrita obsessiva que tem dominado alguma da obra cantada (sobretudo operática) de Glass nos últimos tempos, sobretudo quando recorre a sopranos, obrigando-os a um registo no limite, sem espaço para tréguas. O álbum, duplo, apresenta no segundo disco uma versão alternativa desta sinfonia, com a própria voz de Allen Ginsberg a ler o seu texto sobre a orquestra e canto.

Philip Glass “Symphony No. 8”
Capaz de se colocar, junto da sua genial 5ª sinfonia, entre as melhores obras de Philip Glass, a recente Oitava Sinfonia (2005) é uma surpresa, e está a arrebatar entusiasmos mesmo junto dos mais cépticos da sua música. É uma peça longa, exclusivamente instrumental, pensada na linha das sinfonias concertantes características do período clássico, permitindo visibilidade protagonista a diversos instrumentos. É uma sinfonia de rumo sempre inesperado, com mudanças cromáticas, desafios na fluente melodia e surpresa a cada novo momento, contrariando algumas das características mais recorrentes da obra recente de Philip Glass. Estão lá as marcas do minimalismo que lhe é estrutural, mas há respiração diferente e uma sensação de mudança de ares que lhe dá, como no soberbo Orion editado no ano passado, sinais de que há novos caminhos ainda a trilhar por estas bandas

Vários “Exit Music”
A unanimidade que conseguiram em finais de 90 com OK Computer e as visões que nos deram depois com o díptico Kid A/Amnesiac fizeram dos Radiohead um dos raros nomes de escola rock a comunicar fluentemente com outros músicos e outras músicas. Depois de versões para piano por Brad Mehldau e outras aventuras, a resposta de além rock chega neste tributo, no qual nomes como Herbert, RJD2, a Cinematic Orchestra e alguns mais se entretém a reinventar a música dos Radiohead. A ideia até parece interessante à partida, mas acaba por revelar mais olhos que barriga, num desfile de versões frouxas, desinteressantes. Excepção para Just, por Mark Ronson, onde a pujança rock cede vez a uma estrutura hip hop em flirt pop.

Também esta semana: Protocol, Dizee Rascal, Bananarama (best of), Faris Nourallah (reedição), Ronnie Spector, Zutons, Charlatans, Miss Kittin, Madonna (remisturas, apenas em vinil)

Brevemente
24 Abril: António Variações (integral de estúdio), Fiery Furnaces, Gnarls Barkley, Futureheads, Red Hot Chilli Peppers, Air (colaborações), British Sea Power, Thievery Corporation, Moloko (best of), The Dears, Tortoise, The Rakes, Gun Shys, Cure, k.d. Lang, Protocol, Secret Machines
1 de Maio: Basement Jaxx, Pearl Jam, Gomez, Scritti Politti, Teats For Fears (reedição), PJ Harvey (DVD)

8 de Maio: The Raconteurs, Lisa Germano, Bruce Springsteen, Grandaddy, Matmos, Roddy Frame, The Stills

Maio: Pet Shop Boys, Clear Static, Only After Dark (compilação pós-punk), Radio 4, Boy Kill Boy, Hot Chip, Outkast, Basement Jaxx, Gomez, Fatboy Slim (best of), Frank Black, Muse, Zero 7, Sex Pistols (reedição), William Orbit, Spiritualized, Death From Above 1979, Velvet Underground (antologia), Elvis Costello + Allen Toussaint

Discos novos ainda este ano: Primal Scream (Junho), Every Move A Picture, B-52’s, Björk, Beyoncé, Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Maio/Juho), Damon Albarn (Verão), David Bowie (Junho), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Duran Duran (Verão), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Maio/Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Maio/Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters, Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Björk, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição).


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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