quinta-feira, fevereiro 16, 2006

ESTREIA: 'Walk The Line'

Chega hoje às salas portuguesas, Walk The Line, biopic que recorda um período de cerca de 30 anos na vida de Johnny Cash, uma das mais importantes figuras da história da música popular norte-americana. Mais na linha retratista íntima e realista do recomendável, mas pouco visto, filme de Kevin Spacey sobre Bobby Darin que na dimensão de construção mítica do herói traumatizado que vence as adversidades e conquista o impossível do fácil e forçado Ray de Taylor Hackford, Walk The Line evoca instantes na infância do músico (particularmente a morte trágica do irmão), os primeiros tempos na carreira em meados de 50 (primeiro em regime de descoberta de uma personalidade própria, depois nas mãos de Sam Philips e, mais tarde, em digressões partilhadas com Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Roy Orbison), o seu calvário de ressaca a uma primeira etapa teen star e a dramas pessoais, ensopado em drogas, e a sua reinvenção numa série de dois concertos gravados em prisões em finais de 60. Mas é, sobretudo, um filme sobre a difícil e longa história do romance com June Carter, segundo casamento de Cash e sua parceira musical de toda uma vida. A música escuta-se, recordando as canções no seu contexto, sempre como consequência vivencial, não apenas enquanto ganchos de atenção para garantir memórias automáticas no espectador (como já se ouviu em outros biopics musicais).
Joaquin Phoenix é um convincente Johnny Cash, bebendo-lhe gestos, olhares, pose em palco e mesmo ataque vocal ao microfone (a banda sonora é, em grande parte constituída por clássicos de Cash na voz de Phoenix). A seu lado Reese Witherspoon é uma igualmente segura June Carter, uma estrela popular americana do seu tempo (a actriz dá também, segura, a sua voz às canções que canta no filme). Do elenco destaque ainda para um pedagógico e visionário Sam Philips (o editor que descobriu, ou foi descoberto, por Cash, Elvis e tantos outros talentos da Memphis de 50) por Dallas Roberts. E um pai Cash, duro, marcado pela existência rural tão monótna como os seus campos de algodão, interpretado por Robert Patrick.
O filme é assinado (realização e argumento, baseado na autobiografia de Johhny Cash) por James Mangold, que teve já interessante relação com as músicas de 60 na construção sonora de Girl Interrupted, de 1999.

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