terça-feira, fevereiro 28, 2006

GNR: um tributo e o que ainda falta

Está confirmado: o álbum de tributo aos GNR (que o press release da editora faz questão de sublinhar que não é tributo, apesar de evidentemente o ser...) sai dia 27 e terá por título Revistados 25-06. Trata-se de uma abordagem menos canónica a um legado pop, através de uma série de versões que partem de projectos nas áreas do hip hop, soul e reggae e que procura assim assinalar os 25 anos da edição do primeiro single dos GNR (curiosamente não incluido no programa de festas).
Esta edição não subtrai contudo à agenda das necessidades o lançamento do prometido documentário em DVD que chegou a ser falado para 2005 e, acima de tudo, uma justificada operação de reedição dos álbuns originais dos GNR, fundamental no celebrar dos 25 anos de vida discográfica de uma das mais sólidas forças pop portuguesasa. A reedição é urgente não só pela necessidade de remasterizar o som do catálogo já disponível em CD, como deverá disponibilizar, pela primeira vez em suporte digital, os álbuns históricos Independança (1982) e Defeitos Especiais (1984). Já agora, ao jeito do que temos visto em outras campanhas de reedição pelo mundo fora, não seria de desdenhar acrescentar ao alinhamento de cada álbum um conjunto de faixas retiradas de singles e máxis (há lados B e temas de EPs ainda por chegar ao digital), correspondentes ao período do álbum em questão. E, se não for pedir muito, um ou outro inédito, mesmo que em formato de maquete ao som da época... Faziam-se umas lombadas novas para os CDs, em jeito de colecção... Uns stickers especiais... Ou até uns digipacks que definam a ideia de edições comemorativas, com textos nos booklets, e fotos de arquivo. Ou seja, uma digna evocação, como deve ser... Os fãs agradeceriam. E os GNR merecem que a sua editora de sempre lhes reconheça, assim, 25 anos de grandes feitos.

Para os interessados, aqui fica o alinhamento completo do tributo aos GNR
"Popless", Guardiões do Subsolo
"Pós-Modernos", Xeg
"Bem Vindo ao Passado", NBC
"Espelho Meu", Virgul
"6ª Feira (Um Seu Criado)", Charly Martinez featuring Orlando Santos
"Hardcore 1º Escalão", Hugo Novo featuring T-Jay
"Efectivamente", Expensive Soul
"Pronúncia do Norte", SP & Wilson
"Sete Naves", Tekilla
"Essa Fada", Junior
"Falha Humana", Mundo Complexo
"Mau Pastor", Matozo
"Nova Gente", Philharmonic Weed
"Dunas", Melo D


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SINGLES: Men Without Hats, 1982

Quando falamos da actual geração canadiana muitas vezes lançamos olhares no passado musical daquele país ora para evocar as figuras quase míticas de Leonard Cohen ou Neil Young, ou para tossir ao lembrar nomes como os de Bryan Adams ou Celine Dion, que em tempos eram dados como os grandes embaixadores musicais da nação, com resposta a rigor na canção Blame Canada, da banda sonora do primeiro filme South Park. A verdade é que parece esquecida a existência de uma cena new wave canadiana, que ali gerou uma geração de acontecimentos pop contemporâneos de nomes como os OMD, Yazoo ou Human League (estes na sua fase popular). E os mais reconhecidos (e interessantes) dos nomes nascidos da geração new wave canadiana foram os Men Without Hats, projecto formado em 1980 pelos irmãos Ivan e Stefan Doroschuck, que viveu mutante alinhamento de músicos e uma história de triunfos e fracassos ao longo da década de 80. Depois de um primeiro disco, numa pequena independente local em 1980, foram descobertos pela Stiff Records, que os passou a representar para distribuição mundial e logo os desafiou a gravar, respondendo o grupo com o álbum The Rhythm Of Youth, do qual extraíram, entre 1983, uma série de singles entre os quais I Got The Message, Living In China, Antartica e, claro, The Safety Dance, um dos maiores sucessos da pop electrónica de 1982. Centrada numa sequência espartana de poucas notas e uma evidente insistência na sua repetição, a canção nasceu em formato carnudo, mas acabou despida quase à sua essência melódica e rítmica numa remistura que correu mundo e lhes deu um inesperado terceiro lugar na tabela de singles dos EUA (feito que, nem de longe, alguma vez mais repetiram). O sucesso menor dos demais singles acima citados e os triunfos mais evidentes de Pop Goes The World, de 1987, impede-nos de os retratarmos como one hit wonders. Mas poucos feitos deles o mundo conhece além deste viciante The Safety Dance.

Men Without Hats “The Safety Dance” (Statik, 1982)
Lado A: The Safety Dance (Ivan)
Lado B: Security (Ivan)
Produção: Marc Durand
Posição mais alta no Reino Unido: 5 Nos EUA: 3
Editado em Portugal pela MVM (entre nós apenas em máxi-single)

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Toby e Stanley, aliás Bree

Chama-se Transamerica e é um filme, no mínimo, inesperado... E que dois espantosos actores! Felicity Huffman (candidata ao Oscar de melhor actriz) comete a proeza de representar um transsexual — um homem, Stanley, que vai fazer uma operação para se tornar uma mulher, Bree — sem nunca empurrar a sua personagem para qualquer dimensão "panfletária" ou "moralista", antes fazendo-a viver como um ser humano de infinita complexidade afectiva. Kevin Zegers interpreta Toby, o filho de Stanley/Bree, um jovem delinquente que, para além da sua agravada solidão, não sabe como lidar com o pai/mãe que ignorava a sua própria existência. E se é verdade que Huffman é sublime, não é menos verdade que a excelência de Zegers tem sido "esquecida" pela avalancha mediática dos Oscars em que o filme, inevitavelmente, surge inscrito.
Com uma notável desenvoltura realista — a fazer lembrar alguns elementos do clássico realismo britânico —, Transamerica é muito mais do que uma abordagem "didáctica" de um tema "difícil". Assinado pelo estreante Duncan Tucker (um homem com um espantoso sentido pragmático, bem expresso numa entrevista na Minnesota Public Radio), trata-se acima de tudo de um brilhante exercício de reconversão das regras clássicas do melodrama, agora contaminadas por uma fascinante dimensão on the road.
Um filme, enfim, para superar os maniqueísmos mais paralisantes, ou mais moralistas, sobre género e transgénero. Na certeza de que Transamerica tende para uma desconcertante e criativa moral: a de que, para além da história sexual de cada indivíduo, a América é feita de cidadãos que são, todos eles, meio-judeu, meio-índio ou meio-qualquer-outra-coisa — uma América, enfim, de permanentes trans-figurações.

* Super 16: Transamerica é um caso exemplar de utilização do formato Super 16 (depois ampliado para 35 mm): para além de favorecer uma invulgar agilidade de filmagens, trata-se também de um formato que permite significativas economias — o orçamento foi de apenas 1 milhão de dólares (fonte: iMDB), cerca de 850 mil euros, isto é, menos que alguns títulos da produção portuguesa.

*
Banda sonora: as canções de Transamerica vão desde um original de Dolly Parton (Travellin' Thru, com nomeação para o Oscar de melhor canção) até ao revivalismo folk dos Old Crow Medicine Show; a parte instrumental tem assinatura de David Mansfield, veterano do rock que, nos anos 70, integrou a lendária Alpha Band.

* Weinstein: Este é um dos primeiros títulos lançados pela Weinstein Company, fundada pelos irmãos Bob e Harvey Weinstein depois da sua saída da Miramax — um eventual Oscar para Felicity Huffman corresponderia a uma reentrada triunfal nas esferas de poder de Hollywood.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Discos da semana, 27 de Fevereiro

Cindy Kat “Cindy Kat”
A edição do álbum de estreia dos Cindy Kat representa a primeira grande novidade pop essencialmente cantada em língua portuguesa que chega a disco de há longos meses a esta parte. O disco parte de uma ideia de viagem (que se imagina com travo a ficção científica, dadas as referências a Philip K. Dick e a episódios de Espaço 1999), em tempos pensada como sequência de quadros instrumentais, mas entretanto transformada num interessante híbrido que cruza ecos dessas intenções iniciais com um corpo de canções pop. O disco não perdeu todavia a sua identidade viajante, percorrendo sugestões, visões, e tempos que a memória identifica sobretudo em arquivos de 80, quer através do tipo de sons usados (velhos e saborosos teclados analógicos vintage ou registos de guitarra que convocam escolas dos dias de glória dos Durutti Column ou Teardrop Explodes) e, sobretudo, pela presença protagonista da voz de Pedro Oliveira, que necessariamente abre, tranquila e justamente, portas de contacto com a herança superlativa da Sétima Legião. Esta viagem ora é promovida em patamares de liberdade abstracta, através de teias instrumentais, como é conduzida pelas palavras de canções nas quais Pedro Oliveira partilha o espaço com JP Simões, Pedro Abrunhosa, Sam e Gomo. E há aqui grandes canções, sobretudo as que se materializam na voz de Pedro Oliveira, como Polaroide, Substância D ou Glória (assombrosa nova leitura do single de estreia da Sétima Legião). Miúdo, por JP Simões, é outro dos grandes momentos do disco. Abrunhosa soa bem em A Saída. Gomo é inconsequente em Distância. Mas Sam, cujas canções metralham intensidade rítmica que destoa com a envolvente, parece deslocado.

David Bowie “Serious Moonlight EP”
Meses volvidos sobre uma primeira edição em exclusivo para o iTunes, David Bowie volta a insistir no formato e edita um EP com temas gravados durante a Serious Moonlight Tour, de 1983. Apesar de ser evidente que se trata de uma manobra promocional que procura captar atenções para a edição do DVD Serious Moonlight, a lançar na próxima semana, o EP tem o seu valor histórico, já que representa a primeira edição oficial, em disco, de registos de palco de Bowie nos dias de 80. Como é característica nas suas digressões, os caminhos que percorre nesse tempo acabam por interferir sobre a leitura dos velhos clássicos, o que explica a adaptação anos 80 de Space Oddity. Já Breaking Glass, do visionário Low, parece mais actual que nunca, talvez mais insistente nas guitarras que a versão original.

We Are Scientists “With Love And Squalour”
Originalmente lançado no ano passado, chega até nós só agora o álbum de estreia dos norte-americanos We Are Scientists que, apesar de naturais de Los Angeles, são hoje banda residente em Brooklyn (Nova Iorque). E o entusiasmo pós-punk que cruza alguns dos novos grupos que nos têm chegado dessas latitudes está aqui bem visível. Wire, The Jam, Gang Of Four, parecem cartilha de consulta recorrente numa banda que junta a esta escola brit de finais de 70 traços de contaminação americana via Devo e que partilha ainda afinidades com as memórias mais recentes de uns Pixies ou The Smiths e não esconde ter pilhado algumas ideias aos Franz Ferdinand (porém, convenhamos, sem a mesma capacidade em transformar as mesmas sugestões em grandes canções), apesar de parecerem mais próximos de uns The Rakes. Uma estreia mediana, apenas com uma ou outra canção digna de registo, e nenhuma a superar o single Nobody Moves, Nobody Gets Hurt… Esperava-se muito melhor...

Eels “Eels With Strings”
Um dos mais interessantes autores da geração de 90, E assinalou os dez anos de vida dos Eeels com uma série de espectáculos, com uma banda que incluía a presença de um quarteto de cordas, durante o ano passado, um dos quais no mítico Town Hall. Esse mesmo concerto vê a luz do dia numa edição em CD e DVD que traduz a face mais delicada e introspectiva de uma escrita pessoal e sofrida, exorcista de episódios difíceis, catártica psicoterapia para música e letra de invulgar poder de sedução. O disco traduz um serão de melancolias e dores de alma na forma de magníficas canções onde a aparente carnalidade de uma voz magoada flutua sobre delicadas teias para cordas, teclas minuciosas e discretas texturas. Magnífico!

Também esta semana: Elvis Costello, Burt Bacharah, Chico Buarque (DVD), Kooks, 12”/80s Dance

6 Março: Sylvain Chauveau, Death From Above 1979, Scritti Politti, Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case, Jacinta, Van Morrisson, Teddy Thompson (reedição), Wire (reedições dos três primeiros álbuns), Pinkboy Presents TPC, A Naifa
13 Março: David Bowie (DVD), The Trip (compilação criada por Jarvis Cocker), Gary Numan, Donald Fagen, Graham Coxon, Fugees, She Wants Revenge, Moby (DVD)
20 Março: Morrissey, Placebo, Beach Boys (Pet Sounds, edição dos 40 anos), Quantic, João Afonso, X Wife

Março: Monsieur Gainsbourg (tributo), White Rose Movement, Protocol, Scritti Politti, Japan (best of + DVD), Spiritualized, Madonna (DVD), Clear Static, Massive Attack (compilação + DVD), Outkast, Graham Coxon, Park (lados B), The Organ (reedição), The Rakes, Tributo aos GNR, Gorillaz (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Madonna (DVD), Yeah Yeah Yeahs
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure, PJ Harvey


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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domingo, fevereiro 26, 2006

ESTREIA: 'O Céu Gira'

O cinema documental começa a ganhar merecido direito de presença na programação das nossas salas, e o filme O Céu Gira, da realizadora espanhola Mercedes Alvarez, é mais uma justificação para esta conquista de espaço. Antiga montadora de José Luis Guerin (o realizador de O Comboio de Sombras), Mercedes filmou, ao longo de um ano, a moribunda aldeia onde nasceu, antigo povoado fervilhante em vida e histórias, reduzido agora a 14 velhos que esperam a morte enquanto falam de memórias, de cemitérios, de ovelhas, do padeiro que ali passa duas ou três vezes por semana, assim como o vendedor de congelados. Perdida no planalto de Castela e Leão, Aldealseñor é hoje um espaço vazio de vida além dos trabalhos de pastoreio, de cultivo de hortaliças para subsistência pessoal, de conversa no largo da Igreja em tarde domingueira, de serões à lareira. O filme regista a sua resignação ao abandono, todavia vivendo as memórias com o prazer de quem as saboreou, não com a melancolia de quem as perdeu. Uma idosa mostra-nos as pegadas de dinossáurio que tem no quintal, sobre as quais brincou em criança. Dois amigos falam da morte e do que os espera. Outra duas visitam um velho palácio árabe antes do início de umas obras que o transformarão em luxuoso pólo de turismo rural. Outros mostram-nos um enorme castro celtibero. Tudo ali é antigo, lento e pacato. Tanto que parecem alienígenas as visitas de duas campanhas eleitorais, carros a vomitar música e palavras de campanha, cartazes colados na parede junto à Igreja, nem bom dia nem boa tarde a ninguém, e acelerador a fundo até à aldeia seguinte. Em paralelo à história da aldeia que morre a olhos vistos, acompanhamos a perda de visão de um pintor que, em Aldealseñor encontra as cores e formas para uma última tela.
Mas nem tudo é perda e morte esperada neste filme. No planalto cruzam-se dois marroquinos, um pastor, o outro um atleta a treinar para o campeonato que se segue. Ali perto uma equipa monta uma bateria de moinhos de vento para captação de energia eólica. E as obras no velho palácio prenunciam outros sinais de vida. Mas nada destas pistas lançadas no futuro parecem interferir com os 14 velhos que ali moram, num ocaso tão pardo e silencioso como o olhar longo e cinzento sobre a paisagem que o pintor capta a pastel.
Contemplativo e poético, O Céu Gira é um documento que regista uma história cuja página brevemente se virará. É um olhar sóbrio, mas nunca despido de emoção, sobre a memória das gentes e dos espaços onde viveram. Um depoimento de amor de uma aldeã (que ali apenas viveu os três primeiros anos) ao seu berço.
Quantas Aldealseñor tem Portugal à espera que nelas se busquem olhares semelhantes, antes que se percam, engolidos pelo tempo? Quantos documentários tem a memória deste país à espera de quem os transforme em filme?

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Patrick Wolf anuncia novo disco

O terceiro album de Patrick Wolf, The Magic Position, vai ser editado, ainda este ano, pela editora brirânica Loog, subsidiária da Polydor, gerida e propriedade do antigo jornalista do NME Andrew Oldham. O início das gravações teve recentemente lugar em Viena, sob a atenção técnica do austríaco Patrick Pulsinger. As sessões vão continuar, brevemente, em Nova Iorque, onde Patrick Wolf promete chamar a estúdio uma série de convidados. Entretanto, encerrando o capítulo Wind In The Wires, Patrick Wolf extraiu um terceiro single desse soberbo álbum do ano passado. Depois de The Libertine e do tema-título Wind In The Wires, o terceiro single do álbum é Tristan, editado num CD single com os temas extra The Hazlewood e Idumea e, também, numa tiragem limitada de 1000 exemplares em vinil, com Idumea no lado B.

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Discos Voadores, 25 de Fevereiro

Esta semana os Discos Voadores aproveitam a edição nacional do álbum Down To The Bone, de Sylvain Chauveau, no qual se apresentam leituras acústicas de canções dos Depeche Mode, para recordar algumas versões que têm sido gravadas em torno da escrita de Martin Gore.

Clap Your Hands Say Yeah “Details Of The War”
Faris Nourallah “Christian Flyer”
Kelley Polar “The Rooms In My House Have Many Parties”
Sylvain Chauveau “Home”
Cindy Kat “Glória”
Trademark “Sine Love”
Susumu Yokota “Symbol Of Life, Love & Aesthetics”
My Morning Jacket “Into The Woods”
Flaming Lips “The Wand”
Every Move A Picture “Signs Of Life”
The Rakes “Just A Man With A Job”
Wolfgang Press “Sucker”
The Weatherman “I You Only have One Wish”
Protocol “Where’s The Pleasure”

David Bowie “Space Oddity (Live 1983)”
Rufus Wainwright “The Maker Makes”
Mão Morta “Tu Disseste”
Sylvain Chauveau “Policy Of Truth”
Johnny Cash “Personal Jesus”
Smashing Pumpkins “Never Let Me Down Again”
S.P.O.C.K. “Ice Machine”
Depeche Mode “Route 66”
Daybehaviour “See You”
Sylvain Chauveau “Things You Said”
Balanescu Quartet “The Model”
Martin Gore “Tiny Girls”
Pop Dell’Arte “J’Ai Oublié (All My Life)”

Discos Voadores – Sábado 18.00-20.00 / Domingo 22.00-24.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm

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Césares distinguem filme de Jacques Audiard

Com um total de oito prémios, De Tanto Bater o Meu Coração Parou foi o grande ven-cedor da edição deste ano dos Césares do cinema francês. Eleito melhor do ano, o filme de Jacques Audiard foi ainda distinguido nas categorias de realização, actor secundário (Niels Arestrup), esperança fe-minina (Linh-Dan Pham), banda sonora (Alexandre Desplat), argumento a-daptado (Audiard e Tonino Benacquista), fotografia (Stéphane Fontaine) e montagem (Juliette Welfling). Apesar de todas estas vitórias, o protagonista do filme, Romain Duris, não obteve o prémio de actor principal, atribuído a Michel Bouquet, pela sua interpretação de François Mitterrand, em Um Passeio pela História, de Robert Guédiguian. O César da melhor actriz foi para Nathalie Baye, em Le Petit Lieutenant, de Xavier Beauvois. Million Dollar Baby, de Clint Eastwood, recebeu o César de melhor filme estrangeiro. A distinção de melhor primeiro filme coube ao documentário O Pesadelo de Darwin, de Hubert Sauper.

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sábado, fevereiro 25, 2006

Brokeback Mountain... em lego!

Saltando de blogue em blogue (um hábito matinal que não dispenso), deparei hoje com uma produção invulgar no Coisas Que Fascinam. Trata-se de uma série de quadros de Brokeback Mountain, de Ang Lee, em… lego! A boa ideia pode ser vista neste aperitivo que publicamos, mas merece visita aos demais quadros no site do seu autor.

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Stephin Merritt edita disco a solo

Stephin Merritt, de quem poucas notícias nos chegaram em 2005 (além de ecos de alguns concertos, um dos quais com os Magnetic Fields no Carnegie Hall, em Nova Iorque), prepara-se para editar um novo disco. Trata-se de Showtunes, que a Nonesuch vai editar a 14 de Março nos Estados Unidos (data europeia ainda a confirmar). O disco é uma selecção de temas que Merritt fez e gravou para três produções de Chen Shi-Zheng: Orphan of Zhao (2003), Peach Blossom Fan (2004) e My Life As A Fairy Tale (2005). A versão completa da banda sonora de cada um dos três espectáculos estará disponível apenas no iTunes (resta saber se apenas nos EUA, ou se com acesso possível a outras bandas, leia-se, estes lados...).

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RETRO: Devine & Statton, 1990

O tempo nem sempre faz justiça a muita da boa música com alguns anos de vida. Por vezes apenas uma deficitária divulgação e a consequente dificuldade em levar o som mais além fazem com que discos notáveis acabem esquecidos. Era este o futuro que parecia destinado aos dois discos que Alison Statton e Ian Devine gravaram entre 1989 e 1990 para a editora Les Disques du Crepuscule, o segundo dos quais, o espantoso Cardiffians, agora reeditado (sem distribuição entre nós, é verdade, mas disponível em lojas na Internet). Alison Statton tinha já um notável passado vivido em grupos marcantes na definição de caminhos alternativos para a canção pop em inícios de 80, como os Young Marble Giants e Weekend. Ian Devine tinha passado pelos Ludus. Juntaram-se em finais de 80 e, durante um par de anos fizeram uma música quase despida de marcas temporais, na qual as genéticas do solo rural britânico afloram, sob intensa boa relação com estruturas pop.
Depois de uma estreia em The Prince Of Wales, de 1989 (disco no qual apresentavam uma espantosa versão acústica de Bizarre Love Triangule, dos New Order), o ano de 1990 viu o duo mergulhado numa espécie de homenagem feita de canções ao País de Gales, e sobretudo à cidade de Cardiff, onde Alison nascera. O álbum é um dos melhores discos pop de 90, cruzando as atmosferas delicadas e sugestões do espaço visitado sob diálogo com uma pop suave, adulta e discreta, essencialmente feita de inteligentes melodias para voz e guitarra, como acontecera no álbum de estreia do duo. Todavia, Cardiffians acrescenta ao som de Alison e Ian um corpo mais sólido e uma energia mais luminosa, sobretudo através de pontuais presenças mais óbvias de teclados, plácido suporte rítmico e, pontualmente, metais (como se escuta no single Hideaway, que evoca a pop solarenga dos Weekend). Notam-se as presenças de convidados como Marc Ribot (guitarra) ou Peter Hook (baixo). A voz de Alison continua a falar-nos como em sonhos, e a escrita de Ian Devine consegue registar marcas do real sem romper o ambiente que a voz e melodias sugerem. Tal como no primeiro disco, também aqui há uma versão, desta vez o mais remoto Don’t It Make My Brown Eyes Blue, de Crystal Gayle.
Passados 16 anos, canções como Crestfallen, Hideaway, Lovers Get In The Way ou o contagiante Enough Is Enough sabem ainda a qualquer coisa leve, sedutora, diferente em sem tempo. A redescobrir…
Devine & Staton “Cardiffians” (Les Disques du Crepuscule, 1990)

Se gostou, escute depois:
Weekend, “La Variteté” (1982)
Antena “Camino del Sol” (1982)
Devine And Staton “Prince Of Wales” (1989)


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sexta-feira, fevereiro 24, 2006

radarlisboa.fm: a Radar na Internet

Desde esta semana a emissão da Radar pode ser escutada em radarlisboa.fm, na Internet, notícia que reponde ao desejo expresso de muitos emails enviados, nos últimos meses, ao Sound + Vision. Assim sendo, aqui ficam algumas sugestões para este fim de semana:

Fala Com Ela: O poeta valter hugo mãe fala de si, da sua escrita e da editora que agora representa, a Objecto Cardíaco. E, como sempre, traz os seus discos…
Sábado 12.00 / Domingo 17.00

Discos Voadores: A propósito da edição de Down To The Bone, de Sylvain Chaveau, um olhar por algumas versões de clássicos dos Depeche Mode. E novos sons de Faris Nourallah, David Bowie ao vivo e dos The Rakes, a reinventar Serge Gainsbourg.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00

Desde esta semana há também uma nova rubrica no ar (ouve-se, de segunda a sexta, às 07.15, 10.15 e 18.15). Chama-se “Lado A”, e por vezes “Lado B”, e recorda alguns momentos da história da música pop que nasceram a 45 rotações… Ou seja, nada mais nada menos que uma versão rádio dos posts SINGLES, do Sound + Vision. Os primeiros Lados A desta semana foram Sound And Vision (David Bowie, 1977), She's a Rainbow (Rolling Stones, 1967), Christine (House Of Love, 1988) e Higher Than The Sun (Primal Scream, 1991). O Lado B da semana foi Route 66 (Depeche Mode, 1988). Para a semana há mais...

Aqui, um link para ouvir a emissão da Radar.

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Rufus canta Garland no Carnegie Hall

Um dos mais promissores concertos de 2006 tem já data marcada. Tem lugar no Carnegie Hall (Nova Iorque) a 14 de Junho, com Rufus Wainwright e uma orquestra, em palco, a tocar, na íntegra, o alinhamento do mítico concerto que Judy Garland ali deu a 23 de Abril de 1961 onde cantou temas como Zing Went The Strings Of My Heart, Stormy Weather, You Made Me Love You/For Me And My Gal/Trolley Song (um medley), Rock A Bye Your Baby With A Dixie Melody ou, inevitavelmente, o histórico Over The Rainbow. Este clássico, da banda sonora de O Feiticeiro de Oz, começou a ser cantado por Rufus Wainwright nos seus mais recentes espectáculos e, quem sabe, está aí a fonte do entusiasmo que agora se prepara para transformar neste concerto. Não há ainda informação nesse sentido, mas tudo aponta para que o concerto venha a ser gravado e posteriormente editado. Sem planos de edição internacional está ainda o EP ao vivo do ano passado, ainda um exclusivo iTunes para o Canadá, Estados Unidos e Alemanha.
No site oficial de Rufus Wainwright há link directo para a venda de bilhetes deste concerto.
PS. Imagem "pilhada" ao All Of Me...

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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

SINGLES: Japan, 1979

Depois de dois primeiros álbuns em 1978, nascidos de um confronto não completamente resolvido entre heranças glam rock e um tempo de manifestações pós-punk, os Japan eram ainda uma banda de rumo ainda indefinido, e com identidade mais falada pelos excessos da imagem que pela música. Algo tinha de mudar e o grupo, atento ao presente, procurou novo rumo numa aproximação às emergentes electrónicas, sem afastar naturalmente as heranças pop/rock que traziam da sua genética de referências. Foi, para muitos, uma surpresa a colaboração que então conseguiram desafiar e trazer a estúdio. Para uma banda de mais entusiasmos prometidos nas páginas da imprensa que concretizados em disco e em concerto, a presença de Giorgio Moroder (já afamado produtor de um disco de orientação electrónica) como co-autor e produtor do single Life In Toyo foi um trunfo saboreado, sobretudo pela editora Hansa enquanto se preparava a edição que, se esperava, pudesse transformar a banda num fenómeno do seu tempo. Contudo, o single foi um redondo fracasso nas vendas e até mesmo na rádio, e a ideia de avançar para um álbum inteiro sob a orientação de Giorgio Moroder caiu por terra. David Sylvian agradeceu, certamente, o afastamento de uma força criativa alheia aos Japan. Mas a verdade é que a importação de novas sonoridades electrónicas através desta colaboração com Moroder abriu novos desafios e acabou por gerar descendência na própria obra do grupo, visível logo no álbum de 1980 Quiet Life, o primeiro de três álbuns fundamentais na escrita pop de 80 que editaram em apenas dois anos. Life In Tokyo foi reeditado várias vezes, em várias misturas, mas nunca gerou o sucesso que em tempos dele foi esperado. Fim injusto para uma das mais entusiasmantes canções pop da obra dos Japan.

Japan “Life In Tokyo” (Hansa, 1979)
Lado A: Life In Tokyo (Sylvian / Moroder)
Lado B: Life In Tokyo (pt 2) (Sylvian / Moroder)
Produção: Giorgio Moroder
Nunca figurou na tabela de singles britânica


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terça-feira, fevereiro 21, 2006

Bowie edita novo EP para 'download'

Foi editado, ontem, e apenas por via digital através do iTunes, um EP de temas gravados ao vivo nos dias da Serious Moonlight Tour, a digressão de enorme sucesso global que se seguiu à edição do álbum Let’s Dance, em 1983. O EP apresenta os temas Space Oddity, China Girl, Breaking Glass e Young Americans, naturalmente sob o clima sonoro característico dessa fase na carreira de David Bowie. Estava, entretanto, prevista a edição, também para download em exclusivo, de um EP vídeo com o tema Space Oddity, mas que acabou, por enquanto, adiada por alguns dias. Tanto o EP áudio (de que escutaremos alguns momentos, brevemente, nos Discos Voadores na Radar), como o EP vídeo fazem parte da campanha de lançamento do DVD Serious Moonlight, que Bowie edita dia 13 de Março. Trata-se de um filme, de David Mallett, rodado durante a já referida digressão de 1983, editado em vídeo (VHS e Beta) na altura, e até aqui sem lançamento na era digital.
O Serious Moonlight EP é o segundo disco editado em exclusivo para download por David Bowie, e surege na sequência do bem sucedido EP conjunto com os Arcade Fire lançado há alguns meses.

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Ex-Orbital faz música com Irvine Welsh

O ex-Orbital Phil Hartnoll juntou-se a Nick Smith e aos autores de culto Chuck Palahnuik e Irvine Welsh para criar um projecto que actuará por uma noite só no âmbito do Brighton Festival, que este ano celebra 40 anos. O grupo, que responderá como Longrange, terá Phil e Nick ao comando da música, em jeito de jams improvisadas, junto das quais estarão VJs convidados e os escritores a criar o que chamam Stories For Motion. Esta colaboração única terá lugar a 7 de Maio. Na programação do festival surgem outros momentos de excepção. Um deles, com título Warp Moves, juntará no mesmo palco elementos da companhia Random Dance, músicos do catálogo da Warp Records e dois nomes de vulto da cena alt country: os Handsome Family e Howe Gelb.

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segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Discos da semana, 20 de Fevereiro

Bell Orchestre “Recording a Tape The Colour Of The Light”
Depois de, há alguns meses, termos descoberto, no magnífico Has A Good Home, a voz e música de Owen Pallett, um dos violinistas dos Arcade Fire, através dos Final Fantasy, agora cabe a vez a uma aventura paralela de Richard Parry e Sarah Neufeld, também dos Arcade Fire, numa banda onde juntam a colaboração de mais três músicos. Juntos respondem como Bell Orchestre e o seu álbum é um interessantíssimo mergulho por espaços de liberdade formal adiante das fronteiras da canção e das heranças pop/rock que dominam a música dos Arcade Fire. O disco tem alguns meses de vida e só agora chega a estes lados. Mas é ocasião para dizer que mais vale tarde que nunca. Há por aqui sinais de identidade e referencias a outras esferas artísticas que transcendem o espaço onde habitualmente escutamos a ideia pós-rock, que alguma escrita aplicou sumariamente ao grupo. Apesar de algumas afinidades texturais com os GY!BE em alguns momentos, a Bell Orchestra está mais próxima de ecos de vivência melodista pastoral e de estímulos captados em espaços das músicas menos… “pop(ulares)”. Da depuração de traços comuns ao minimalismo de um Philip Glass ao discreto piscar de olho a um certo lirismo sedutor de um Debussy, sobre os quais se definem sonhos e texturas com o auxílio de filigranas electrónicas e um sentido de espaço que evoca alguns discos de Jon Hassell, Recording A Tape The Color Of Light é um apetitoso desafio aos sentidos, solicitando atenção e tranquila entrega. Um dos trunfos maiores da música da Bell Orchestre é o seu invulgar poder de síntese, contrariando a tendência para criar longas tapeçarias texturais habituais em muitos outros discos instrumentais.

My Morning Jacket "Z"
Chega tardia a estas bandas de um dos mais elogiados álbuns da fornada pop/rock alternativa de 2005. O disco, já o quarto de uma banda que ameaçava desnorte e desalento (e, felizmente, aqui encontrou estimulante novo rumo), apresenta inúmeras familiaridades com os universos de saboroso e libertador onirismo pop que escutámos em recentes álbuns dos Flaming Lips e, sobretudo, Mercury Rev (Into The Woods é pura levitação em formato de canção). Mas não deixa de mostrar sinais de uma genética clássica em heranças do solo remexido pelas mãos de um Neil Young ou, pontualmente, espreitadelas a legados rock de finais de 60 e inícios de 70 (dos Who aos Lynyrd Skynyrd). E, sobretudo, ostenta em parte das canções o apelo enebriador e caleidoscópico da melhor colheita dos Pink Floyd (fase Syd Barrett, pois está claro). Este é um disco que consegue traduzir um encontro bem assimilado de memórias vividas em mais de 30 anos de cultura rock’n’roll transatlântica, saboreando-as numa América que, ao mesmo tempo, redescobre as marcas da sua música de ascendência rural. E molda depois estes encontros sob uma evidente intenção plástica em jeito de arte final que não descuida moldura nem textura, mesmo sob tamanha pilha de experiências convocadas. Nasce aqui um nome que, parece, vai ser obrigatório acompanhar nos próximos tempos.

Celebration “Celebration”
Com origens em Baltimore (EUA), e uma história que passa já por duas bandas anteriores, os Celebration são uma das actuais novas apostas de uma 4AD claramente em busca de reencontro com uma identidade e um som que se dissiparam na última década. O seu álbum de estreia, produzido por David Sitek (dos TV On The Radio), que também participa em alguns temas, congrega heranças de uns Birthday Party, Pere Ubu, entre outras escolas indie de 80, e afirma personalidade através das muito teatrais e versáteis teclas analógicas de Sean Antanaitis e da voz andrógina e atraente de Katrina Ford (sua mulher). Canções sombrias, mas nunca claustrofóbicas, numa estreia que promete futuro a seguir com atenção

Também esta semana: Eels (ao vivo + DVD), My Architects, Wonderstuff, Anouk, Liars, David Bowie (live EP), Beth Orton

27 Fevereiro: Cindy Kat, X-Wife, 4Ahero, We Are Scientists, Elvis Costello, Burt Bacharah, Chico Buarque (DVD), Kooks, 12”/80s Dance
6 Março: Death From Above 1979, Scritti Politti, Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case, Jacinta

Março: White Rose Movement, Protocol, Japan (best of + DVD), Spiritualized, Mogwai, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Clear Static, Placebo, Massive Attack (compilação + DVD), Outkast, Graham Coxon, She Wants Revenge, Maximo Park (lados B), The Organ (reedição), The Rakes, Scissor Sisters (data a confirmar), Tributo aos GNR, Gorillaz (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Madonna (DVD)
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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domingo, fevereiro 19, 2006

Discos Voadores, 18 de Fevereiro

Esta semana um novo formato em estreia nos Discos Voadores para repetir, pelo menos uma vez por mês. Chama-se Relatório Minoritário e convoca a estúdio um ou dois profissionais do meio jornalístico e musical para conversar à volta de um assunto. Desta feita esteve na berlinda a estreia de Walk The Line e, claro, a vida e obra de Johnny Cash. Em estúdio estiveram os jornalistas João Lopes e João Miguel Tavares.

Faris Nourallah “A famous Life”
The Weatherman “If You Only Have One Wish”
Neutral Milk Hotel “The King Of Carrots Flower”
Clap Your Hands Say Yeah “The Skin Of My Yellow Country Teeth”
U2 + Johnny Cash “The Wanderer”
Johnny Cash “Walk The Line”
Johnny Cash “Folson Prison Blues”
Capitão Fantasma “Ring Of Fire”
Johnny Cash “Delia’s Gone”
Rufus Wainwright “Chelsea Hotel”
Grandaddy “At My Post”

Cindy Kat “Gloria”
Kelley Polar “The Rooms In My House Have Many Parties”
Depeche Mode “Suffer Well”
Johnny Cash “Personal Jesus”
Joaquin Phoenix + Reese Witherspoon “It Ain’t Me Babe”
Johnny Cash “The Mersey Seat”
Johnny Cash “A Boy Named Sue”
Johnny Cash “Hurt”
Ryan Adams “Fireckraker”
Old Jerusalem “180 Days”
Beck “Heaven Hammer”

Discos Voadores. Sábado 18.00-20.00 / Domingo 22.00-24.00
Radar 97.8 FM

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sábado, fevereiro 18, 2006

Rhodes e Taylor criam antologia 'late 70's'

Nick Rhodes e John Taylor prepararam uma compilação, a editar a 1 de Maio, que tenta recordar o espírito pioneiro original de finais de 70 e inícios de 80, quando os Duran Duran surgiram e ambos, para ganhar alguns trocos, trabalhavam como DJ no Rum Runner, em Birmingham. Segundo Nick Rhodes, a compilação vai apresentar canções de artistas que o influenciaram, sobretudo, como músico. O disco chamar-se-á Only After Dark (título de um tema de Mick Ronson, de que os Human League gravaram uma versão em Travelogue) e será editado em conjunto com uma segunda edição do livro de fotografias de Paul Edmond, Duran Duran Unseen – 1978-1982, que recorda o grupo nesses primeiros dias, assim como o ambiente das noites por onde aflorava o movimento neo-romântico.

O alinhamento completo de Only After Dark inclui:
The Human League “Being Boiled”
Yellow Magic Orchestra “Computer Game”
David Bowie “Always Crashing In The Same Car”
Psychedelic Furs “Sister Europe”
Simple Minds “Changeling”
Mick Ronson “Only After Dark”
John Foxx “Underpass”
The Normal “Warm Leatherette”
Bryan Ferry “In Crowd”
Brian Eno “The Tree Wheel”
Tubeway Army “Are Friends Electric?”
Kraftwerk “The Robots”
Donna Summer “I Feel Love”
Wire “I Am The Fly”
Magazine “Shot By Both Sides”
Grace Jones “Private Life”
Iggy Pop “The Passenger”
Ultravox “Slow Motion”


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DJs 'contra' músicos no 'Village Voice'

O Village Voice volta a apresentar, esta semana, um interessante dossier musical. O dossier lança um debate interessante sobre as diferenças de estauto (e fama) entre DJs e músicos pop. Nos anos 90, explica o texto, DJs como Paul Oakenfold, Pete Tong ou Sasha, cobravam honorários principescos por horas nos pratos (dos discos, entenda-se). Mas o clima mudou. E hoje vemos multidões de estrelas pop/rock a encabeçar flyers de discotecas e bares. Jarvis Cocker, Martin Gore, Peter Hook, Andy Bell ou Davd J, são presenças habituais em clubes de Nova Iorque. E, como eles, cruzam discos, músicos de bandas como os Franz Ferdinand, TV On The Radio, The Killers, Interpol ou Rapture. Os promotores de noites dançantes perceberam, por alturas do surto electroclash, que as multidões não queriam mais doses intermináveis de batida instrumental, mas antes canções. E, logo depois, que em muitos lugares não se queria exactamente electroclash, mas antes as verdadeiras memórias de 80, cruzadas com as novas bandas que nelas procuram referências. Perante o cenário, a velha guarda DJ responde, apontando sobretudo as deficiências técnicas dos músicos/DJs que “não sabem acertar batidas”… Mas, perdoem-me os senhores DJs (sobretudo os ultra-especializados em áreas limitadas da dance music), eles, salvo algumas excepções, sabem escolher canções que dá muito mais gozo dançar! E têm, por vezes, colecções mais versáteis e estimulantes de discos em casa...
Esta resposta dos músicos a uma geração de DJs de house ou techno musicalmente analfabetos (salvo no microcosmos em que são especialistas) não deixa de merecer, por vezes, crítica quando o músico dá apenas o nome ao flyer, e surge na cabine de DJ mais como episódio de um plano de promoção que como autor de um set de DJing. Como sucedeu, recentemente, com Madonna no Luke And Leroy, numa noite em que quem trabalhou foi Stuart Price, ficando a cantora entregue a uns headphones para posar para os fotógrafos… Sem tocar alguma vez nos discos. Sorry…
Aqui, o belíssimo dossier do Village Voice.

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Tom Waits liceal... no eBay

Vende-se, de facto, tudo no e-Bay. Uma das mais recentes peças à venda foi, nada mais nada menos, que o livro anual do liceu onde Tom Waits estudou, em 1966, a Hilltop High School, em Chula Vista, um subúrbio de San Diego, na Califórnia. Estava no seu segundo ano, cabelos penteados, gravata aprumada e certamente… voz mais fininha… A fotografia mostra-o (o primeiro da esquerda, em baixo), sorridente, mal imaginando ainda o curso que a sua vida tomaria. O livrinho rendeu 288 dólares ao vendedor. O mesmo que, neste momento, tem à venda, por 500 dólares, o volume do ano seguinte, ou seja, de 1967, com Tom Waits ainda bem compostinho…
Uma história descoberta via Quase Famosos.

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SINGLES: Lou Reed, 1973

Confesso admirador dos Velvet Underground, David Bowie ofereceu-se para, com a ajuda do seu guitarrista de então, Mick Ronson, produzir e assinar arranjos para Lou Reed, cuja estreia a solo, em 1970, se saldara num discreto e decepcionante primeiro álbum. Em 1972 criaram, juntos, Transformer, um registo onde as ambiguidades já reconhecidas na escrita de Lou Reed conheciam a mais perfeita projecção numa nova forma de abordar a canção, daí resultando não só um dos mais marcantes registos do seu tempo, um sucesso de vendas para o músico, mas também ainda aquele que foi o único single de sucesso global na carreira de Lou Reed: Walk On The Wild Side. Transformer, contudo, tinha mais momentos de excepção além deste tema que o mundo escutou, e dois deles acabaram juntos num single editado já em 1973, quando Lou Reed preparava a edição de um sucessor desse álbum que lhe havia dado novo alento e renovada fama (o disco chamar-se-ia Berlin e é, ainda hoje, o melhor da obra de Lou Reed). As duas canções de Transformer reunidas num mesmo single em 1973 foram Vicious (uma evidente herderia do discurso marginal dos Velvet Underground, na qual a guitarra de Ronson faz a diferença) e o hoje clássico Satellite Of Love, uma das mais notáveis baladas da obra de Lou Reed. Apesar deste concentrado de pérolas, o single não repetiu o sucesso de Walk On The Wild Side. E nem mesmo Perferct Day (também de Transformer) conheceu estatuto de canção incontornável senão quase 25 anos depois, sob versões dos Duran Duran e de um colectivo de artistas em mais um single de beneficência.

Lou Reed “Vicious”/”Sattelite Of Love” (RCA; 1973)
Lado A: Vicious (Reed)
Lado B: Satellite Of Love (Reed)
Produção: David Bowie e Mick Ronson

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sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Eva Green é a nova Bond Girl

Está já escolhida a nova Bond Girl. Chama-se Eva Green, é francesa, tem 25 anos, e já a vimos no pavoroso O Reino dos Céus, de Ridley Scott e, há algum tempo mais, no bem interessante Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci (onde, de resto, assinalou a sua estreia no cinema). A actriz vai interpretar em Casino Royal o papel de uma mulher fatal, de nome Vesper Lynd, contracenando com o novo Bond, Daniel Craig. O vilão será o maléfico Le Chiffre, na pele do actor dinamarquês Mads Mikkelsen. O filme está já em produção em Praga, com o realizador Martin Campbell ao leme das atenções. Casino Royal é o 21º filme da série James Bond, e será baseado no livro homónimo de Ian Fleming, originalmente publicado em 1953.

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'POST' DE ESCUTA: The Whip

Mais um nome para ter em conta na lista dos recém-chegados, para gostos pós-punk. Chamam-se The Whip, são uma dupla de Manchester e acabam de editar o seu single de estreia (exclusivamente em vinil), Frustration, onde não escondem uma claríssima admiração pelo som dos New Order em meados 80. Electrónicas em alta, sombrias quanto baste mas dançáveis até mais não, numa canção que abre apetite a mais uma nova carreira para começar a acompanhar com atenção, e que já motivou o interesse do radialista Steve Lamaq, que escolheu recentemente este 45 rotações como o seu single da semana. Eles chamam-se Bruce Carter e Danny Saville e no seu espaço no My Space (onde podem ouvir o single e outras canções), confessam ter entre as influências nomes como Talking Heads, Kraftwerk, Tiga, Felix Da Housecat, Interpol, ESG, LCD Soundsystem, Vitalic, Fischerspooner, Arcade Fire, 2 many DJs, New Order, Joy Division, Tiefschwarz, Beach Boys, Television, David Bowie, Depeche Mode…
Uma descoberta via Recpop (nada como citar as fontes).

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quinta-feira, fevereiro 16, 2006

ESTREIA: 'Walk The Line'

Chega hoje às salas portuguesas, Walk The Line, biopic que recorda um período de cerca de 30 anos na vida de Johnny Cash, uma das mais importantes figuras da história da música popular norte-americana. Mais na linha retratista íntima e realista do recomendável, mas pouco visto, filme de Kevin Spacey sobre Bobby Darin que na dimensão de construção mítica do herói traumatizado que vence as adversidades e conquista o impossível do fácil e forçado Ray de Taylor Hackford, Walk The Line evoca instantes na infância do músico (particularmente a morte trágica do irmão), os primeiros tempos na carreira em meados de 50 (primeiro em regime de descoberta de uma personalidade própria, depois nas mãos de Sam Philips e, mais tarde, em digressões partilhadas com Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Roy Orbison), o seu calvário de ressaca a uma primeira etapa teen star e a dramas pessoais, ensopado em drogas, e a sua reinvenção numa série de dois concertos gravados em prisões em finais de 60. Mas é, sobretudo, um filme sobre a difícil e longa história do romance com June Carter, segundo casamento de Cash e sua parceira musical de toda uma vida. A música escuta-se, recordando as canções no seu contexto, sempre como consequência vivencial, não apenas enquanto ganchos de atenção para garantir memórias automáticas no espectador (como já se ouviu em outros biopics musicais).
Joaquin Phoenix é um convincente Johnny Cash, bebendo-lhe gestos, olhares, pose em palco e mesmo ataque vocal ao microfone (a banda sonora é, em grande parte constituída por clássicos de Cash na voz de Phoenix). A seu lado Reese Witherspoon é uma igualmente segura June Carter, uma estrela popular americana do seu tempo (a actriz dá também, segura, a sua voz às canções que canta no filme). Do elenco destaque ainda para um pedagógico e visionário Sam Philips (o editor que descobriu, ou foi descoberto, por Cash, Elvis e tantos outros talentos da Memphis de 50) por Dallas Roberts. E um pai Cash, duro, marcado pela existência rural tão monótna como os seus campos de algodão, interpretado por Robert Patrick.
O filme é assinado (realização e argumento, baseado na autobiografia de Johhny Cash) por James Mangold, que teve já interessante relação com as músicas de 60 na construção sonora de Girl Interrupted, de 1999.

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Colaboração de Byrne e Eno reeditada

Um dos mais importantes discos de inícios de 80, verdadeiro balão de ensaio de estratégias de construção musical que ganhou descendências várias pouco tempo depois, o clássico My Life In The Bush Of Ghosts, colaboração de Brian Eno com David Byrne vai ser reeditado. O disco representou, muito antes do advento dos samplers, um espantoso conjunto de exercícios de colagem, juntando por lógicas de manipulação ainda desconhecidas nos espaços da música pop, pedaços de culturas e ideias várias numa matriz comum coerente, esta definida pelo gosto e intenções de dois músicos que, à data, contavam já com alguns momentos históricos de trabalho conjunto em três álbuns dos Talking Heads.
A reedição deste álbum fundamental de 1981 será assegurada pela Nonesuch Records, com data prevista para 28 de Março. A reedição apresenta o disco remisturado e remasterizado, e inclui sete temas de bónus e novo design gráfico. Dentro de poucos dias será criado um site - www.bush-of-ghosts.com - no qual quem quiser poderá fazer o download do registo multipistas das faixas do álbum, sob desafio de criar novas remisturas e mesmo telediscos para os temas. Essas remisturas podem ser depois enviadas para o site, para todos as podermos ouvir e nelas votar (algum futuro disco de remisturas em vista?). Neste site haverá ainda material fotográfico da época e um teledisco para Mea Culpa, realizado por Bruce Conner.

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Kaiser Chiefs vencem Brits Awards

Os Kaiser Chiefs foram os grandes vencedores dos Brits deste ano. Sem surpresa (dadas as características de uma atribuição de prémios onde um a identidade “bife” domina as regras), o grupo somou vitórias nas categorias de Melhor Grupo Rock Inglês, Melhor Grupo Inglês e Melhor Grupo ao Vivo. Condplay (Melhor Single e Melhor Álbum), James Blunt e Green Day somaram, cada qual, dois prémios. Madonna foi eleita a melhor Artista Feminina Internacional e Kanye West o Melhor Artista Masculino Internacional. Paul Weller recebeu o Prémio Carreira. Na cerimónia, um dos momentos mais significativos teve lugar quando Prince subliu ao palco para tocar, ao vivo, os clássicos Purple Rain e Let’s Go Crazy.

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Este fim-de-semana na Radar

Fala com Ela. Pedro Oliveira (a voz da Sétima Legião) fala sobre o seu novo projecto Cindy Kat, em vésperas de edição do álbum de estreia do projecto. E traz alguns dos seus discos de sempre.
Sábado 12.00 / Domingo 17.00

Álbum de Família. O histórico Horses (1975) de Patti Smith foi o primeiro álbum a surgir da intensa agitação que Nova Iorque viveu em meados de 70 e, de certa maneira, o primeiro álbum da geração punk...
Domingo 12.00

Discos Voadores. A propósito da estreia do filme Walk The Line, de James Mangold, um mergulho pelas canções e histórias de Johnny Cash. Trata-se de um primeiro “relatório minoritário” nos Discos Voadores, contando em estúdio com as presenças dos jornalistas João Lopes e João Miguel Tavares.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00

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terça-feira, fevereiro 14, 2006

Nova antologia dos Japan em CD e DVD

Pela primeira vez vai ser editada uma antologia dos Japan reunindo canções das duas etapas da vida editorial da banda, a que os ligou, em dias de menor sucesso, à Hansa Records (1978-80) e depois, já sob as atenções do mundo, a que os levou à Virgin Records (1980-83). The Very Best Of Japan sai a 27 de Março em CD e, na mesma data, será editado um DVD com os telediscos do grupo e a gravação do concerto do qual nasceu o álbum ao vivo Oil On Canvas, de 1983. O alinhamento do álbum inclui Ghosts (a abrir e a fechar o disco respectivamente com a versão do single e a do álbum), I Second That Emotion, Quiet Life, Gentlemen Take Polaroids, The Art Of Parties, Visions Of China, Taking Islands In Africa, European Son, Cantonese Boy, Life In Tokyo, Nightporter, Methods Of Dance, All Tomorrow’s Parties e Canton (Live).

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Novas lojas digitais a caminho

Vêm aí mais duas lojas de música digital, uma delas já confirmada, a outra por enquanto a circular como forte rumor nos bastidores. Confirmada, a loja online da Amazon deverá começar a vender canções na Primavera deste ano. Por seu lado, o Google diz oficialmente que não entrará no negócio, apesar de haver já executivos da indústria discográfica a dizer o contrátrio ao Finantial Times… Esta será forte concorrência ao iTunes, que neste momento detém 70 a 80 por cento do mercado musical digital.

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SINGLES: Julian Cope, 1987

Antigo elemento dos Crucial Three, juntamente com Ian McCulloch e Pete Wylie (a tríade estrutural do pós-punk de Liverpool), Julian Cope abandonou o projecto em finais de 70 para formar os Teardrop Explodes, onde encontrou um primeiro laboratório capaz de estabelecer pontes entre a cultura alternativa e a canção pop. Depois do desmembramento do projecto, Cope lançou-se numa carreira a solo encetada por dois álbuns de mergulho em fantasmas e obsessões que o afastaram da linha mais solarenga que começara a explorar no derradeiro disco dos Teardrop Explodes. Em 1986 assinou novo acordo com uma multinacional e, durante alguns anos, aceitou jogar o jogo. E não o fez nada mal, com uma série de álbuns nos quais firmou personalidade, criou grandes canções e viu um estatuto originalmente indie transformado, brevemente, no de “discreta” estrela pop, com passagens por talk shows televisivos e programas afins… O álbum de estreia para a Island, Saint Julian, incluiu o single de maior sucesso da carreira de Cope: World Shout Your Mouth. Mas a pérola gourmet do álbum, em formato de single, é Eve’s Volvcano, numa linha próxima, pop grandiosa com refrão viciante, atitude positiva e letra provocadora, nada canónica, sobre desejo e pecado. O som é luminoso e pensado para o palco, quase como que a retomar directamente as preocupações dos Teardrop Explodes no segundo álbum dos Teardrop Explodes. Mas a luz pop foi Sol de pouca dura. My Nation Underground, o álbum seguinte, ainda mantinha viva esta filosofia. Mas Peggy Suicide, quatro anos depois, já desviava atenções para outras experiências. E Jehovahkill, em 1992, assinalava a despedida das multinacionais com um mergulho por rumos mais marginais, dos quais nunca mais saiu.

Julian Cope “Eve’s Volcano” (Island, 1987)
Lado A: Eve’s Volcano (Covered In Sin) (Cope)
Lado B: Almost Beautiful Child (I & II) (Cope / De Harrisson)
Produtor: Wayne Livsey / De Harrisson
Posição mais alta no Reino Unido: 30


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segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Discos da semana, 13 de Fevereiro

Susumu Yokota “Symbol”
Há quem lhe chame o Walter Carlos da geração do cut and paste. Sem tomar a definição à letra, podemos partir dessa ideia para, no músico japonês, encontrar um dos mais estimulantes criadores de pontes entre a memória e a um presente que olha em frente. Depois de uma primeira etapa electrónica mais canónica, a sua obra recente revela a descoberta e assimilação de uma lógica minimalista (escolas Glass, Reich e Riley) e um plácido entendimento com os ensinamentos de Brian Eno. Symbol, o seu magistral novo álbum, é um pequeno jardim japonês onde Yokota organiza pequenos pedaços tirados de peças de Cage, Bizet, Mahler, Tchaikovsky, Saint Saëns, Debussy, Meredith Monk, Schumann, Beethoven, entre tantos mais, integradas numa matriz electrónica discreta mas estruturalmente determinante. Os sabores melódicos são procurados na história da música, cabendo ao músico a arte de os escolher, samplar, sequenciar e transformar em depoimento pessoal. Symbol é um espantoso momento de corte e colagem de peças de vários tempos e autores, integradas num contexto de electrónica micrométrica e ambiental, sob a batuta de um japonês maestro de… computadores. Desde o romance entre os Art of Noise e Debussy (em 1999) não se assistia a tão fluente diálogo entre os mundos da clássica e da pop. Mundos não estanques, é certo, mas tão frequentemente afastados entre si por tola vontade própria, ou apenas desconhecimento um do outro. Os puristas vão ficar horrorizados.

Faris Nourallah “Near The Sun”
Natural do Michigan, Faris Nourallah (hoje a caminho dos 40 anos) é ainda uma pérola a descobrir no vasto – e, convenhamos, ainda pouco conhecido – espaço da nova canção contemporânea americana. Na adolescência passou pelos incontornáveis da sua geração (Clash, Costello), mas a evolução do gosto pop levou-o no sentido de uns Beatles e, mais ainda, Ray Davies. A sua discreta discografia conta, até agora, com um álbum editado como Nourallah Brothers e três outros gravados a solo, todos eles através da pequena independente Western Vinyl. Agora, a poucos meses da edição de um quarto álbum de originais em nome próprio, esta compilação serve de convidativo cartão de visita a uma obra que vale a pena conhecer. Faris não só herdou traços da escrita pop de Davies e Lennon, como a elas junta uma alma sensível capaz de traduzir as idiossincrasias do seu espaço cultural (quase na linha de um Sufjan Stevens) e, aqui e ali, um desejo malandro em encenar com grandiosidade e eloquência algumas das canções. Depois de Richard Swift, mais um cantautor a acrescentar à lista das grandes descobertas do ano.

The Weatherman “Crusin’ Alaska”
Apesar da quase discreta entrada em cena (um pouco de luzes bem acesas e palavras bem lançadas não fazem mal a ninguém), eis que se aplaude o primeiro bom disco pop português em largos meses. Este é o projecto individual de Alexandre Monteiro, um espírito claramente influenciado pelas boas memórias de uns Beatles, uns Beach Boys (bem evidentes), uns Kinks, que neste seu álbum promove encontros bem emoldurados entre essa clássica pop de finais de 60, travos folk e traços de contemporaneidade que se pincelam nas artes finais, via discretas electrónicas (por vezes em sintonia com híbridos pop e dança de inícios de 90) ou através do modo como concilia os jogos de formas que convoca. É um álbum que nasceu solitário, num quarto, mas que não esconde um desejo em comunicar. Melancólico na matriz, mas luminoso no final. Pode não esmagar pela novidade. Pode lembrar mil e uma coisas que já escutámos. Mas não deixa de ser um conjunto de belas canções pop. E, para já, não se lhe pede mais…

Talking Heads “Talking Heads: 77”, “More Songs About Buildings And Food”, “Fear Of Music”, “Remain In Light” e “Speaking In Tongues”
Estes são os primeiros cinco volumes de uma nova campanha de reedições da integral dos Talking Heads. Os discos surgem em formato duplo, o primeiro dos quais apresentando o álbum original, som remasterizado, e com extras (sobretudo gravações ao vivo ainda inéditas, raridades e lados B), o segundo sendo um DVD com o disco em áudio 5.1 e pequenas faixas vídeo (maioritariamente momentos de concertos). O conjunto permite-nos não só reconhecer que, apesar da génese no palco mais iluminado do punk nova-iorquino, o grupo cedo tomou um rumo pessoal e distinto, assim como acompanhar a etapa determinante que viveram sob o auxílio de Brian Eno, que lhes deu vitaminas na concepção rítmica e na forma de explorar o som.

Também esta semana: Larry Levan, Los Lobos, Paul Weller (best of), Tears For Fears (reedição), The Tommy Boy Story (compilação), Erasure, Faris Nourallah, The Television Personalities, Celebration

20 Fevereiro: Eels (ao vivo + DVD), The Architects, Wonderstuff, Anouk, 12”/80s Dance, Jacinta, Liars, David Bowie (live EP), Beth Orton, Bell Orchestre
27 Fevereiro: Cindy Kat, X-Wife, 4Ahero, We Are Scientists, Elvis Costello, Burt Bacharah, Chico Buarque (DVD), Kooks
6 Março: White Rose Movement, Death From Above 1979, Scritti Politti, Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case

Março: White Rose Movement, Protocol, Spiritualized, Mogwai, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Clear Static, Placebo, Massive Attack (compilação + DVD), Outkast, Graham Coxon, She Wants Revenge, Maximo Park (lados B), The Organ (reedição), The Rakes, Scissor Sisters (data a confirmar), Tributo aos GNR, Gorillaz (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Madonna (DVD)
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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domingo, fevereiro 12, 2006

Discos Voadores, 11 de Fevereiro

Esta semana, a assinalar a edição de um DVD (Made In Sheffield, de Eve Wood) e um livro (Beats Working For A Living, de Marin Lilleker), os Discos Voadores recuam a finais de 70 para ouvir como, em Sheffield, a rebeldia projectada pelo punk acabou transformada em pop electrónica. Algumas bandas esquecidas do pós-punk da cidade, como os Artery ou I’m So Hollow, à escuta entre nomes que fizeram história mais visível.

Massive Attack “Live With Me”
Trademark “Sine Love”
Depeche Mode “Suffer Well”
Pop Dell’Arte “J’ai Oubliè (All My Life)”
Kelley Polar “The Rooms In My House Have Many Parties”
Dig Vs Drill “Fix The Kitchen”
The Weatherman “If You Only Have One Wish”
She Wants Revenge “These Things”
Strokes “Killing Lies”
The Upper Room “Combination”
Kashmir + David Bowie “The Cynic”
The Cloud Room “Hey Now Now”
XTC “Sgt Rock Is Going To Help Me”
Franz Ferdinand “The Fallen”
Protocol “Where’s The Pleasure”

Faris Nourallah “A Famous Life”
Rufus Wainwright “The Maker Makes”
Bernardo Sassetti “Alice”
Clap Your Hands Say Yeah “Let The Cool Godess Rust Away”
Arctic Monkeys “Mardy Bum”
I’m So Hollow “The Triangular Hour”
Comsat Angels “Eye Of The Lens”
Artery “Afterwords”
The Human League “Being Boiled”
Ladytron “Open Your Heart”
The Human League “Sound Of The Crowd”
Heaven 17 “Geisha Boys And Temple Girls”
BEF + Paul Jones “There’s A Ghost In My House”
Pulp “Death Comes To Town”
Cindy Kat “Polaroide”

Discos Voadores. Sábado 18.00-20.00 / Domingo 22.00-24.00
Radar 97.8 FM

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sábado, fevereiro 11, 2006

Madonna confirma digressão este ano

Madonna acabou com os rumores e confirmou que, ainda este ano, regressará à estrada para concertos centrados no seu mais recente álbum Confessions On A Dance Floor. A confissão aconteceu a meio de uma entrevista no programa de Ellen DeGeneres, com Madonna a dizer que não conseguia guardar mais segredo e que assim ia ser… Resta agora aguardar pelas datas e ver se, desta feita, voltamos a contar com a sua presença entre nós.
Entretanto, pelas televisões começa a rodar o novo teledisco de Sorry. A imagem deste post é, precisamente, um still deste novo teledisco.

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Sam Riley vai ser Ian Curtis no cinema

Segundo o site worldinmotion.net, está escolhido o elenco do filme Control, que o fotógrafo Anton Corbijn vai rodar com base no livro de memórias da viúva de Ian Curtis. O novato Sam Riley será o mítico vocalista da Joy Divsion e a actriz alemã Alexandra Maria Lara interpretará a sua amante Annik Honoré. Deborah Curtis, a viúva de Curtis, terá em Samantha Morton a sua nova pele. O filme vai contar ainda com banda sonora gravada pelos New Order, que já revelaram que gravarão, para o filme, inéditos assim como novas versões de temas da Joy Division. Anton Corbijn rodou um teledisco póstumo para Atmosphere da Joy Division, usado em 1988 para promoção à antologia Substance. Um excerto desse teledisco foi, por sua vez, usado por Michael Winterbottom numa sequência de 24 Hour Party People.

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RETRO: Frank Sinatra, 1965

Em 1965 Frank Sinatra contava 50 anos de vida e uma obra já invejável, percorrendo várias rotas da história recente da canção popular e de algumas periferias do jazz. Dividido entre o cinema e a música, a sua obra discográfica somava êxitos, mas desde finais de 50 não produzia um álbum ao nível das pérolas que registara nessa década de grandes feitos em disco. Como que a mostrar que ainda era “a voz”, concebeu, sob a direcção de orquestra de Gordon Jenkins, um dos mais notáveis álbuns orquestrais de toda a sua carreira, comparável apenas ao igualmente sublime In The Wee Small Hours, editado dez anos antes. O disco, que ostentava um título no qual Sinatra assumia o inevitável correr do tempo – September Of My Years – sublinhou a existência de um novo registo vocal mais grave e, talvez, sombrio, que os discos swingantes não denunciavam. A voz, assim como o tom dos arranjos de Jenkins encenam pequenos olhares sobre o envelhecimento, a reflexão, e mesmo o arrependimento. As canções mostram raízes na mais clássica noção de pop, mas espreitam pontualmente heranças folk e alguns temperos mais “contemporâneos”. Este é um dos mais notáveis monumentos sinfonistas da obra de Frank Sinatra e uma das suas mais melancólicas colecções de grandes canções. September Of My Years, o tema título do álbum, revela uma densidade quase mahleriana. How Old Am I? segue mais de perto o registo da balada para orquestra que se escutava em muitos filmes da época. E It Was A Very Good Year, olhar de um homem vivido sobre o tempo vivido e a força da memória, é, simplesmente, uma das mais espantosas canções de sempre, aqui em soberba interpretação. A fechar o alinhamento, uma espantosa versão de September Song, de Kurt Weill.
No texto que se lia na contracapa do álbum, Stan Cornyn, que acompanhou as gravações, deixava claro que “hoje não se swinga. Hoje é a sério. Lá dentro, os músicos, comandados pelo informal Gordon Jenkins, ensaiam os arranjos ainda sem a voz. À espera que ele chegue”. Mais à frente, registos já na fita, o mesmo texto sublinha em Sinatra o arquétipo do homem que já viveu bem, a estrela que se idolatra. O homem que para, agora, para olhar para trás e que usa enfim a memória com a visão de um poeta: “Ele viveu já por duas vidas, e pode agora cantar sobre Setembro (…) Setembro pode ser uma atitude ou uma idade, ou apenas uma realidade em sonhos. Para este homem é um tempo de amor. Um tempo para cantar”… E, como nunca, Sinatra cantou.
Frank Sinatra, “September Of My Years” (Capitol, 1965)

Se gostou, escute depois:
Frank Sinatra, “In The Wee Small Hours” (1955)
Elvis Costello + Burt Bacharah “Painted From Memory” (1998)
Divine Comedy “A Short Album About Love” (1997)

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sexta-feira, fevereiro 10, 2006

The Killers viram-se para a América

Brandon Flowers, vocalista dos The Killers, respondeu finalmente aos muitos que criticavam o facto do seu álbum de estreia, Hot Fuss, ter sido o disco mais inglês da sair da América nos últimos tempos… Em entrevista à Rolling Stone, afirmou que o novo disco, cujas gravações vão começar para a semana que vem, mostrará algumas influências americanas mais evidentes, uma vez que tem estado a ouvir Thunder Road de Bruce Springsteen e discos de Tom Petty… Em estúdio, os The Killers vão ter a companhia de Flood e Alan Moulder.

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Duran Duran.... também no My Space

O My Space está a atingir proporções tais, que até os grandes e veteranos por lá querem estar. Esta semana os Duran Duran abriram um espaço oficial no My Space no qual vão assegurar a divulgação de temas e de informações (a biografia oficial mais recente e fotos de estúdio lá estão). Mas mais interessante que a página de entrada, são os “amigos” que podemos visitar, alguns deles com raridades para escuta em streaming. Há links directos para uma página de Lados B e raridades (entre as quais uma demo do inédito TV Vs Radio, das sessões de Astronaut), para uma dos The Devils (projecto de Nick Rhodes e Stephen Duffy que registou as canções originais dos Duran Duran, compostas em 1978) ou ainda uma página expressamente dedicada ao injustamente esquecido Medazzaland, o álbum de 1997 que representou o melhor momento discográfico dos Duran Duran desde os míticos álbuns Duran Duran (1981) e Rio (1982).
Visite aqui, aqui o My Space durânico.

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Um tributo à música de Eliott Smith

A vaga dos tributos abraçou, desta vez, a música de Eliott Smith. O álbum tem por título To: Eliott / From: Portland, e acaba de ser editado pela pequena independente Expunged. O disco reúne uma série de bandas de Portland e arredores, em volta de canções de Eliott Smith. O nome mais destacado entre o alinhamento é o dos Decembrists, que gravaram uma versão de Clementine. O tributo inclui, entre outras, leituras de Satellite pelos The Helio Sequence, de I Don’t Undrstand pelos Swords, de Biggest Lie pelos Dolorean ou Division Day pelos We Are Telephone. Ninguém assegurou, por enquanto, distribuição local a este disco.

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quinta-feira, fevereiro 09, 2006

U2 dominam Grammys

Os U2 dominaram a atribuição dos Grammys deste ano com um total de cinco prémios conquistados, precisamente todos quantos aqueles para os quais tinham nomeações, batendo assim Mariah Carey e John Legend, que surgiram matematicamente como favoritos dado o seu maior volume de indigitações. Os U2 venceram as categorias de Álbum Rock, Canção Rock (com City Of Blinding Lights), Performance Rock por Duo Ou Grupo, Canção do Ano (ambas com Sometimes You Can’t Make It On Your Own) e Álbum do Ano, naturalmente com How To Dismantle An Atomic Bomb. Este, o prémio mais desejado dos mais de cem da noite, já tinha ido parar às mãos dos U2 em 1987 com The Joshua Tree. Os U2 somaram ainda a estes cinco Grammys um prémio adicional atribuído na categoria de produção, a Steve Lillywhite.
Além dos U2, os outros nomes em evidência na noite foram os Chemical Brothers (que venceram as categrias de Gravação e Álbum de Música de Dança ou Electrónica com, respectivamente, Galvanize e Push The Button), os White Stripes (Álbum Alternativo), Gorillaz (Colaboração Pop, com Feel Good Inc) e Kanye West (que dominou o campo do hip hop e somou três Grammys, à conta de The Late Registration). O Grammy da World Music contemporânea voltou a falar português, mas via Brasil, atribuído a Electracústico, de Gilberto Gil. Spamelot, o musical da Broadway baseado em canções dos Monty Python, venceu a categoria... musicais. E o resto é a desgraça do costume.
U2? Ainda vá que não vá. O disco é mediano, mas o estatuto justifica, em terreno mainstream, estes triunfos. Mas num ano em que a música se fez ao som da DFA Records, dos Arcade Fire, de Sufjan Stevens, de Antony And The Johnsons, dos Franz Ferdinand, onde está a capacidade em traduzir, por grafonolas douradas, estas verdades? Decididamente, os Grammys têm cera nos ouvidos e não justificam que se perca tempo com eles…
Aqui, a lista completa dos vencedores.

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Pink Floyd não se reunem mais

David Guilmour acabou com as dúvidas e rumores levantados depois da actuação dos Pink Floyd (versão pós-Syd, claro) no Live 8 no ano passado. Em entrevista a um jornal italiano, deixou claro que os Pink Floyd não se reunirão mais, e que os seus objectivos pessoais estão apontados à edição próxima de um novo disco em nome próprio. Dos Pink Floyd podemos, apenas, esperar a edição em DVD de Pulse (novamente adiada e neste momento sem data agendada). A estes lados chegará, brevemente, um outro DVD com um documentário sobre Syd Barrett e os Pink Floyd, em versão longa (com a controversa cena da acid trip do primeiro vocalista da banda, em 1965).

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SINGLES: Depeche Mode, 1983

Depois do concerto em Lisboa, uma memória estrutural na obra dos Depeche Mode. Corria o ano de 1983 e a confiança na escrita começava a abraçar o jovem Martin Gore. Em finais de 1981, depois da saída de Vince Clarke, a condução dos destinos da composição do grupo foi entregue a Martin Gore, que ensaiou primeiras soluções no álbum de 1982 A Broken Frame, ora num registo de tentativa de continuidade (em canções como The Meaning Of Love) ora em busca de uma ruptura que visava a descoberta da sua própria personalidade (como se denunciava em Leave In Scilence). Em 1983, com a entrada de Alan Wilder, o grupo volta a ser um quarteto e o trabalho na composição e definição do som progride espantosamente. Martin Gore começa a descobrir uma voz criativa e a deixar aflorar as suas obsessões, temáticas e desejos. Ainda com cautela, prepara Construction Time Again, um álbum de evidente libertação da memória da etapa mais ligeira conduzida por Vince Clarke (que então somava sucessos nos Yazoo e se preparava para inventar os Erasure). Entre as canções do álbum, uma acabaria transformada num clássico. Uma transformação não imediata, uma vez que a elevação da canção ao panteão das inevitáveis na obra do grupo aconteceu apenas cinco anos mais tarde quando, ao fechar os alinhamentos dos concertos da Concert For The Masses Tour, começou a projectar nas plateias um ritual de canto em uníssono, longo, sentido, mesmo depois da música ter deixado de sair do palco. Este momento, registado no álbum 101 (e no single Everything Counts, então reeditado em gravação ao vivo) é um dos mais arrepiantes episódios da história de palco dos Depeche Mode. A canção é uma das poucas em que as vozes de Dave Gahan e Martin Gore partilham protagonismos, num diálogo espantoso e deslumbrante. A composição é também partilhada, entre Gore e Alan Wilder.

DEPECHE MODE “Everything Counts” (Mute, 1983)
Lado A: Everything Counts (Gore/Wilder)
Lado B: Work Hard (Gore)
Produção: Daniel Miller
Posição mais alta no Reino Unido: 6


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quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Depeche Mode hoje à noite em Lisboa

É hoje! Os Depeche Mode regressam, 13 anos depois, a um palco português, em concerto há muito esgotado no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Banda em palco pelas 21.30 para um best of de grandes canções, entremeado com alguns momentos do recente Playing the Angel. Na primeira parte, pelas 20.30, os The Bravery. Uma carreira de mais de 25 anos de sólida, constante e coerente orientação, uma discografia soberba e um acervo de grandes canções justificam o estatuto hoje global de uma banda que surgiu em inícios de 80 entre a primeira geração britânica de inventores de uma ideia pop sobre ferramentas electrónicas. Este regresso dos Depeche Mode a Portugal faz-se com o seu melhor álbum em mais de dez anos, Playing The Angel, um reencontro com uma música electrónica mais contida nas suas premissas fundamentais e, novamente, espaço de exposição das obsessões temáticas de Martin Gore e, pela primeira vez em discos do grupo, da escrita inesperadamente coerente de Dave Gahan.

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Morrissey gravou tema dos New York Dolls

Morrissey, é sabido, prepara-se para editar um novo álbum brevemente. Tem por título Ringleader Of The Tormentors, e já me mostrámos a capa, aqui, há poucos dias. A notícia fala, agora, do single que lhe serve de antecipação, e especialmente do seu lado B. A faixa escolhida para o lado A é You Have Killed Me, mas a surpresa, do outro lado, chama-se Human Being, e é uma versão de um original dos New York Dolls (incluída em Too Much, Too Soon, de 1974). Esta é a primeira canção do grupo que Morrissey idolatra desde a adolescência de que grava uma versão. Até aqui só interpretou temas dos New York Dolls ao vivo, tendo incluído, uma vez, um excerto de Subway Train num medley com o seu Everyday Is Like Sunday. O single é editado a 27 de Março e, como o álbum, tem produção de Tony Visconti.

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O regresso de mais três veteranos

Três veteranos preparam-se para regressar aos discos. Dois deles senhores de notável discografia, o terceiro sendo autor de uma das obras mais regadas em azeite da história (em alguns casos tendo usado mais óleo que azeite, mas enfim…).
Comecemos por Ronnie Spector (na foto), figura de proa das Ronettes, que se prepara para editar, a 6 de Abril, o delicioso Last Of The Rock Stars, um álbum que junta o presente às heranças naturais do seu passado, sem esconder o inevitável envelhecimento de uma voz agora com travo vintage. O disco que Nancy Sintara editou há dois anos pode aqui servir de modelo de comparação, apesar das diferenças na forma e resultados finais (mais detalhes brevemente).
Mais próxima está a edição, este mês, de Other People’s Lives, disco a solo do mítico Ray Davies (o histórico líder dos Kinks). O disco recolhe canções escritas ao longo dos últimos anos em New Orleans, para onde se mudou (e foi há algum tempo alvo de assalto e tiroteio). E estabelece pontes entre a América e Inglaterra, com naturais presenças das suas linguagens musicais e com letras que traduzem um olhar sempre irónico sobre a realidade.
O terceiro dos veteranos que regressa é, também este mês,… pois… Neil Diamond! Se a notícia acabasse assim, remeteríamos a novidade no mesmo baú que um eventual novo disco de Demis Roussos… Mas acontece que o disco teve como produtor Rick Rubin, o mesmo que devolveu Johnny Cash à sua melhor forma em meados de 90. 12 Songs é, diz-se, um álbum melancólico, feito de canções da autoria de Diamond, que Rubin despiu à essência num jogo de voz, guitarra acústica e discreto acompanhamento por uma banda. A crítica americana fala deste como o melhor álbum da carreira de Neil Diamond… Será este o seu Songs From The Weast Coast (o melhor e mais esquecido álbum de Elton John desde inícios de 70)? Escutemos, antes de largar mais entusiasmo ou de torcer o nariz…

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Novo livro sobre capas de máxi-singles

Para amantes da música e de design gráfico, mais um livro de capas de discos chegou aos nossos escaparates (via importação directa). Tem o formato quadrado, dimensão reduzida, mas fala de máxi-singles… Tem 340 páginas e, com edição de Tom Rubio, permite-nos um olhar transversal por máxis (e também CD singles) editados entre 1980 e 2000, percorrendo várias áreas, da pop à dance music (esta em maior evidência, uma vez que foi o doze polegadas o seu principal veículo de exposição neste período). Deee-Lite, New Order, Soul II Soul, Moby, Pet Shop Boys, Jamiroquai, U2, Oasis, Cassius, Tone Loc, Westbam, Depeche Mode, Freakpower, Shamen, Jam & Spoon, entre muitos. A sequenciação das capas é, à imagem de outros livros do género, feita por afinidades gráficas e não ditada por critérios de tempo e género. Nota particular para o domínio de uma linguagem visual garrida festiva, com projecção directa no design de flyers e outras formads de divulgação de espaços ligados à club culture (afinal, estes discos são a sua matéria-prima!).

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segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Discos da semana, 6 de Fevereiro

Tiga “Sexor”
Durante anos trabalhou como DJ, cruzando sobretudo espaços house e techno em solo canadiano, mais tarde experimentando outras paragens. O canadiano ganhou todavia visibilidade global quando juntou aos discos dos outros a sua própria música, com primeiros sinais de personalidade escondidos por detrás de uma versão electro(clash) de Sunglasses At Night. Sem pressa, começou a aprofundar o trabalho como compositor e intérprete, num processo que nos obrigou a esperar quase cinco anos por um álbum de estreia. Ei-lo. Chama-se Sexor é é um dos mais entusiasmantes discos de música assumidamente pop feita para dançar que ouvimos nos últimos tempos. Tiga sobreviveu incólume ao electroclash (o que o não impediu de trazer alguns temperos electro para o álbum) e mostra aqui uma inesperada capacidade em pensar um álbum como mais que uma compilação de máxi-singles para rodar em pistas de dança. Sexor tem alma, tem coerência, tem rumo e desejos definidos. É vivo, actual e entusiasmante. É pop, garrido, positivo. É dançável, mas quando nos preparamos para o floor filler que se pensa que vem a seguir, Tiga dá-nos as voltas e lembra-nos que estamos, afinal, em casa a ouvir música. Há muito que a música de dança e a pop electrónica não se entendiam tão bem…

Sparks “Hello Young Lovers”
Apesar de todo o respeito com o qual a banda dos manos Mael deve ser reverenciada (mais de 30 anos de uma obra com episódios notáveis assim o justifica), não podemos deixar de ver este novo disco como um discreto baralha-e-volta-a-dar face ao que nos mostraram, há quatro anos, no sublime Lil’ Beethoven, onde desmontavam estruturas pop sob a intervenção de arquitecturas de construção minimalista à la Philip Glass. Lil’ Beethoven é daqueles discos insuperáveis, e o seu peso sob a carreira dos veteranos Sparks foi tal que, ao fazer o disco seguinte, continuam vergados sobre a sua presença. Este é um disco que, mais que de continuidade, é de absoluta repetição de modelos trazendo de novo, apenas, algum travo rock operático que evoca os dias que o duo viveu entre 1974 e 76 (quem falar em comparações com os Queen, faça o favor de verificar que Kimono In My House, dos Sparks, antecedeu A Night At The Opera). Hello Young Lovers parece mais um conjunto de boas sobras de Lil’ Beethoven que um álbum de inéditos acabados de sair do laboratório. Não é um disco medíocre, já que inclui algumas peças notáveis como Waterproof, Metaphor ou o fabuloso There’s No Such Thing As Aliens. Mas depois de tamanha obra-prima, as expectativas fizeram-nos aguardar por mais… Nada de grave numa obra que já viveu entre o melhor e o (bem) pior.

Belle & Sebastian “The Life Pursuit”
Desde a edição do seu primeiro álbum, os Belle & Sebastian ganharam merecida admiração junto de um público melómano que se deliciou com as capacidades invulgares de um colectivo capaz de juntar na sua música toda uma multidão de heranças clássicas, criando em diversos álbuns (e sobretudo em muitos EPs) algumas das melhores canções que os últimos anos nos deram. The Life Pursuit segue-se a um álbum de aprimoramento formal do som (e consequente abertura a novos e mais vastos públicos). Continua a caminhar nesse sentido, abrindo sobretudo espaço a uma pop melodista e imediata, capaz de disputar um lugar em qualquer FM, mas onde o sentido de desafio de outros dias parece ter trocado de lugar com um desejo em fazer carreira mais… visível. Nada de errado nisso e, ao contrário do que já escutámos noutras opções neste mesmo sentido por outras bandas, este nem é um mau disco. Mas depois de uma série de edições acima da fasquia do muito bom, The Life Pursuit acaba por ser o menos suculento que nos apresentaram até hoje. Umas boas canções, sim, mas sem a mesma capacidade em arrebatar…

Ride “Nowhere”, “Carnival Of Light”, “OX4”, “Waves”
Acorde a Warner portuguesa a horas de assegurar entre nós a reedição de uma das mais injustamente esquecidas bandas indie rock britânicas de finais de 80 e inícios de 80, não alinhada nem na corrente shoegazer (apesar de pontuais afinidades nos primeiros tempos) nem na euforia dançável que gerou o Madchester e afins. Os Ride foram uma das muitas bandas (juntamente com os House Of Love, My Bloody Valentine ou Birdland) a ganhar a admiração dos melómanos e divulgadores ingleses depois do fim dos Smiths. A sua música cedo mostrou que havia neles uma consciência histórica que ultrapassava a mera apropriação de lógicas de electricidade distorcida em voga na segunda metade de 80, começando a abrir espaço de comunicação com o legado estimulante do psicadelismo, aí encontrando a sua verdadeira vocação. Esta reedição devolve-nos dois álbuns de originais – Nowhere (1990) e Carnival Of Light (1994) -, a antologia OX4 e Waves, uma colecção de sessões gravadas na BBC. Faltam, para completar o retrato, o fundamental Going Blank Again (1992) e os menos cativantes Live Light (1995) e Tarantula (1996).

Também esta semana: Calla, William Orbit, The Czars, Film School

13 Fevereiro: Beth Orton, Talking Heads (reedições), Larry Levan, Los Lobos, David Bowie (live EP), Paul Weller (best of), Tears For Fears (reedição), The Tommy Boy Story (compilação), Erasure, Bell Orchestre, Faris Nourallah, The Television Personalities
20 Fevereiro: Eels (ao vivo + DVD), The Architects, Wonderstuff, Anouk, 12”/80s Dance, Jacinta, Liars
27 Fevereiro: Cindy Kat, X-Wife, 4Ahero, We Are Scientists, Elvis Costello, Burt Bacharah, Chico Buarque (DVD)

Março: White Rose Movement, Protocol, Death From Above 1979, Spiritualized, Mogwai, Scritti Politti, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case, Clear Static, Placebo, Massive Attack (compilação + DVD), Outkast, Graham Coxon, She Wants Revenge, Maximo Park (lados B), The Organ (reedição), The Rakes, Scissor Sisters (data a confirmar), Tributo aos GNR, Gorillaz (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Madonna (DVD)
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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