sexta-feira, setembro 30, 2005

50 anos de solidão

Entre as frases pessoais, coladas ao mito de James Dean, encontra-se esta: "Sonha como se vivesses para sempre. Vive como se morresses hoje." Na sua vida breve, Dean acabou por ilustrar de forma paradoxalmente trágica a sua própria utopia. De facto, ele foi um dos que viveram depressa e morreram cedo: nasceu a 8 de Fevereiro de 1931, em Marion (Indiana); morreu na zona de Cholame (Califórnia), ao volante do seu Porsche Spyder, a 30 de Setembro de 1955 — faz hoje 50 anos.
Que resta, então, para além do estereótipo mais ou menos kitsch de "eterno rebelde"? Não apenas uma nostalgia avassaladora, mas a herança simbólica de um verdadeira revolução figurativa e psicológica: em tempos de grandes convulsões artísticas (a reconversão da narrativa clássica, o Actors Studio, Marlon Brando, etc.), Dean trouxe para o cinema americano um novo modelo de adolescente. Já não um apêndice discreto do espaço familiar, mas uma personagem viva capaz de reflectir e interrogar os impasses desse mesmo espaço num mundo cada vez mais convulsivo e mercantilizado. E, para que tal acontecesse, bastaram três filmes: A Leste do Paraíso, de Elia Kazan, Fúria de Viver, de Nicholas Ray, e O Gigante, de George Stevens (os dois últimos estreados já depois do seu falecimento).
Reencontramo-lo, assim, como personagem de uma solidão primordial: a que nasce da distância entre o seu lugar no colectivo social e o desejo de um outro modo de sentir e ser fiel à sua verdade mais recôndita. Daí a sua universalidade, daí a infinita comoção dos seus gestos.
* Wikipedia
*
Tributo e links
*
American legends
* MAIL

Para redescobrir os irmãos Grimm

Tão celebrada — e também tão vilipendiada — será que a noção de fantástico ainda é sustentável no cinema contemporâneo? Claro que sim, sobretudo se não esquecermos que a sua lógica transcende (em boa verdade, antecede) a mera questão técnica dos efeitos especiais. É isso mesmo que podemos confirmar através do novo filme do eterno "Monty Python" que é Terry Gilliam: Os Irmãos Grimm celebra as raízes do fantástico ou, mais concretamente, a energia criativa das fábulas europeias e, em particular, do imaginário de raiz germânica.
Desta vez, os Grimm, Jacob (Heath Ledger) e Wilhelm (Matt Damon), são confrontados com uma verdadeira prova de fogo: vivem uma aventura que, através do confronto com a "Princesa do Espelho" (Monica Bellucci) os integra no próprio mundo de fantasia dos seus contos. Nessa medida, o filme coloca a curiosa questão de saber se eles são capazes de viver aquilo que imaginaram. Além do mais, vale a pena sublinhar que estamos perante um filme, distribuído pelos americanos, é certo, mas de produção genuinamente europeia: rodado em Praga, coproduzido pela República Checa e pela Grã-Bretanha.
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"POST" DE ESCUTA: Animal Collective

Atenção, que está quase aí o novo e magnífico Feels, dos Animal Collective, um dos grandes álbuns desta rentrée. Uma certa alma pastoral (cada vez menos evidente) e uma carteira de amizades com colegas de estrada mais claramente filiados teima em colocá-los ainda na família dos folkies modernaços em actividade. Mas a cada disco os Animal Collective vão demarcando um espaço próprio de investigação da canção, com um sentido de loucura (que transcende as lógicas do psicadelismo, apesar de partilhar temperos comuns). São saudavelmente inclassificáveis e neles podemos ver um dos nomes que o futuro recordará como visionários no nosso presente. Feels é decididamente mais arrumado que o anterior Sung Tongs e é no mínimo viciante. Que o diga o espantoso Grass
Atenção aos concertos nos dias 18 (TAGV, Coimbra), 19 (Casa da Música, Porto) e 20 (a bordo de um cacilheiro, no Tejo). O álbum é editado por essa altura, pela Flur.

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A pré-história dos Soft Cell

Os Soft Cell fizeram uma viagem aos seus arquivos mais remotos e acabam de editar The Bedsit Tapes, um lote de16 gravações (leia-se maquetes) que correspondem às suas primeiras aventuras conjuntas em finais dos anos 70. As gravações, registadas entre 1978 e 80 em estúdios para estudantes nos dias em que Marc Almond e Dave Ball frequentavam o Leeds Polytechnic Art Department mostram como, antes de Non Stop Erotic Cabaret, os Soft Cell eram um ousado e interessante projecto electrónico decididamente underground, mais próximo de uns Cabaret Voltaire e outros pioneiros digitais que do som pop que depois tomaram nos dois primeiros álbuns. As gravações, que já circulavam em formato de bootlegs, foram remasterizadas e são apresentadas em disco com um texto de Dave Ball. Para descobrir, títulos como Tupperware Party, Pyrex My Cuisine, Excretory Eat Anorexia Nervosa ou Metro Mr X, temas depois preteridos na hora de gravar... a sério. A Some Bizarre, editora histórica dos Soft Cell, prepara para breve uma reedição de In Strict Tempo, o primeiro álbum a solo de Dave Ball e o EP Mutant Moments, disco de estreia de Almond e Ball.

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Arcade Fire com site renovado

Os Arcade Fire renovaram radicalmente o seu site oficial. O seu domínio divide-se agora em três microsites, um primeiro dedicado aos membros da banda e suas pequenas idiossincrasias, um segundo sobre o grupo e sua música, um terceiro ligado às editoras que os representam pelo mundo fora.
O microsite pessoal é tão pessoal que só serve mesmo quem não tiver onde gastar o seu tempo. O espaço é graficamente deslumbrante, tipicamente Arcade Fire, com animações que interagem com o rato, e pastas com fotografias, diários ou scrapbooks de cada um dos elementos do grupo.
O site “normal”, a que chamam Fan Site, tem os conteúdos habituais como uma zona de noticiário, biografia, galerias de imagens (onde encontrámos este poster), datas de concertos, discografia completa, zona de media (com vídeos de Rebellion, Wake Up e Neighborhood #3), recortes de imprensa, letras e links sugeridos.
Façam o favor de os visitar, em www.arcadefire.com

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DN:música, 30 Setembro

Hoje, no suplemento DN:música, do Diário de Notícias:

Franz Ferdinand. Entrevista e crítica a You Could Have It So Much Better. Os Franz Ferdinand e a nova geração de bandas de guitarras britânicas. M.L.
Loosers. Entrevista e crítica a For All The Road Sounds e ao Slugs EP. M.L.
Clã. Entrevista e crítica a Vivo. T.P.
Grime. O movimento, a propósito da edição local de Run The Road. I.S.
CocoRosie. Entrevista e crítica a Noah’s Ark. N.G.
Neil Tennant / Chris Lowe. Crítica a Battleship Potemkin. N.G.
Discos: Marbles (destaque), Maria Rita (destaque), Robocop Kraus, Wedding Present, Culture Club, Baxter Dury, Craig David, Katie Melua e Vários “The Sexual Life Of The savages”
DVD: Eagles, Usher, Earl Scruggs
Clássica: Bartoli, Fleming, Scholl B.M.
Sons: Vivid Audio: J.V.H.
Onde Andam?: Mamas And The Papas
Disco Histórico: Angelo Badalamenti, Twin Peaks N.C.

Na próxima semana há “Os Mais de Setembro”

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Franz Ferdinand na Fnac Chiado

O muito esperado segundo álbum dos Franz Ferdinand, You Could Have It So Much Better será editado na próxima segunda-feira. Na véspera, ou seja dia domingo, pelas 21.00, numa sessão conduzdida por Nuno Galopim e Mário Lopes, na Fnac Chiado, será escutado na íntegra todo o novo disco, cujo alinhamento inclui os temas The Fallen, Do You Want To (o já conhecido e bem viciante primeiro single), This Boy, Walk Away, Evil And A Heathen, You're The Reason I'm Leaving, Eleanor, Put Your Boots Back On, Well, That Was Easy, What You Meant, I'm Your Villain, You Could Have It So Much Better, Fade Together e Outsiders. Nesta sessão serão ainda apresentados alguns telediscos do grupo e imagens do documentário sobre o novo álbum. A sessão é uma acção conjunta Sound + Vision em parceria com a Edel (que entre nós representa o grupo) e a Fnac.

Fnac Chiado, 2 de Outubro, domingo 21.00

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quinta-feira, setembro 29, 2005

Festival de Toronto: 5 filmes a descobrir

Cada vez mais importante no panorama internacional, Toronto 2005 revelou títulos que, seguramente, farão a actualidade dos próximos meses. Rui Pedro Tendinha esteve lá e oferece-nos algumas pistas:

>>>Num festival que cruza a rampa dos Oscars com o glamour casual do cinema do mundo, o Toronto International Film Festival 2005 permitiu uma série de descobertas e surpresas. Lanço um breve olhar pelos filmes que estrearam mundialmente entre 8 e 17 de Setembro numa mostra onde Bono, Larry David e Brian de Palma foram festivaleiros presentes em mais do que uma sessão.
* Walk The Line, de James Mangold — Recriação dos primeiros anos da carreira de Johnny Cash e do seu encontro musical e amoroso com June Carter. Mangold opta por não usar playback e ganha a controversa aposta com as vozes dos actores e a performance dos músicos verdadeiros que acompanhavam Cash. É tour de force de verdade e despojamento de manipulações sentimentais. E é a confirmação do fulgor íntimo de Joaquin Phoenix.
* Harsh Times, David Hayer — Por muito que possa parecer um exercício de vaidade para Christian Bale (também produtor), esta primeira obra do jovem David Ayer parte de uma premissa fortíssima: o trauma de um soldado do Golfo, regressado aos EUA, contagiado por uma espiral de violência. Bale está de facto muito perto do prodigioso e o filme tem uma unidade dramática invejável. Imaginem se Scorsese tivesse filmado hoje Taxi Driver...
* Breakfast on Pluto, de Neil Jordan — À partida, também um filme em função do show de um actor, Cillian Murphy, que aqui se transforma num travesti irlandês orfão que, nos anos 70, decide reinventar-se numa Londres em mudança. Talvez seja precipitado compará-lo a Almodóvar, sobretudo porque a marca Neil Jordan está lá bem explícita. Nesse sentido, é um filme que rima com The Butcher Boy.
* Shopgirl, de Anand Tucker — O cineasta de Hilary & Jackie adapta o romance homónimo de Steve Martin sobre um triângulo amoroso entre uma rapariguinha do shopping e dois homens separados pela idade e pelo estatuto. Uma comédia desencantanda que se transforma numa epopeia de descoberta pessoal. E Claire Danes tem aqui o papel da sua vida. Há permissão para podermos voltar a gostar muito dela.
* The World Fastest Indian, de Roger Donaldson — Da Nova Zelândia chegou este conto de afirmação pessoal baseado na verdadeira história de Burt Munro, um senhor de terceira idade que bateu o recorde de velocidade num objecto motorizado. Um feelgood movie para acreditarmos no Viagra e em coisas impossíveis. Poderia ser o filme oficial da campanha de Soares, mas é um grito bem forte de Hopkins para a Academia. Ele quer outro Oscar.
Rui Pedro Tendinha
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A classe média segundo Chabrol

Claude Chabrol está de volta com A Dama de Honor, um filme de requintada observação de medos e fantasmas da classe média francesa — é verdade que esta é a sua área mais frequente, mas também é verdade que, aos 75 anos, ele está longe de ser um cineasta instalado no seu próprio prestígio. Sobretudo, há muito que se libertou da preocupação "oficial" de repetir a imagem de marca de experimentador da Nova Vaga francesa (onde, para todos os efeitos, ocupa um lugar fundamental, a par de Godard, Truffaut, Rohmer ou Rivette).
A Dama de Honor baseia-se num romance de Ruth Rendell. Centrado numa relação bizarra, enraízada numa lógica quase demoníaca do amor, o filme organiza-se em torno de um par de magníficos actores: Benoît Magimel (Os Ladrões, A Pianista) e Laura Smet (espantosa actriz de 22 anos, filha de Nathalie Baye e Johnny Hallyday). Muito cuidado em todos os campos expressivos, A Dama de Honor tem uma magnífica direcção fotográfica do português Eduardo Serra — neste momento, aliás, Serra roda o seu quinto filme com Chabrol, La Comédie du Pouvoir, com estreia francesa prevista para o próximo mês de Dezembro.
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EM REPEAT: Ladytron

É irresistível o tema International Dateline, um dos muitos motivos que fazem do novo The Witching Hour, dos Ladytron, um dos títulos obrigatórios da temporada para gostos pop gourmet. Depois de dois álbuns de afirmação de uma linguagem electrónica digerida a partir de pistas colhidas em finais de 70 (Human League, Gary Numan), e de um quase desconhecido álbum de versões editado em 2003 (apenas nos EUA), os Ladytron encontram em The Witching Hour a ponte perfeita entre uma certa negritude digital (negritide de sombria, nada de soul e hip hop por aqui) e a pujança das guitarras, num híbrido que arrebata. Não se mudaram para terrenos roqueiros, mas piscam-lhes o olho como nunca. O álbum tem edição nacional a 10 de Outubro pela Universal. Quem não conseguir esperar pode ir escutando a Radar ou espreitar a zona de media do site dos Ladytron.

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O "Diário" de Mafalda Arnauth

Poucos meses depois de uma antologia que recuperava temas dos três álbuns que editou pela EMI, Mafalda Arnauth mostra que a sua vida se faz mais do presente e do futuro que da evocação do passado. Não perde tempo e lança, já a 31 de Outubro, o seu quarto álbum de originais, Diário, que assinala a sua estreia pelo catálogo da Universal. A fadista continua a apostar na sua escrita e autoria, chamando todavia ao seu espaço canções de Alberto Janes (Foi Deus), Vinicius de Moraes e Tom Jobim (O Que Tinha de Ser), Ramon Mascio (Milonga do Chiado) ou Chareles Aznavour (La Bohéme), entre outros. Já escutámos o disco e, uma vez mais, fica claro que a saudável ousadia, a luminosidade e a inspiração continuam a abençoar Mafalda Arnauth.
Para notícias frescas, nada como consultar o blogue de Mafalda Arnauth, o Fadiário, onde lhe "roubámos" esta nova fotografia.

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Imagens de Kirkland na SNBA

Entre as muitas imagens de Marilyn Monroe, as de 1961 que figuram no livro An Evening with Marilyn, de Douglas Kirkland, incluem-se entre as mais fascinantes: isto porque há nelas um sentimento tocante de intimidade que, de forma perturbante, se cruza com o facto de sabermos que a actriz viria a falecer cerca de um ano mais tarde (a 5 de Agosto de 1962, contava 36 anos). A obra de Kirkland, justamente, é objecto de uma retrospectiva patente, até 8 de Outubro, na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Além dos trabalhos com Marilyn e muitos outros ícones do mundo das artes e do espectáculo (Elizabeth Taylor, Andy Warhol, Jack Nicholson, Man Ray, Robert De Niro, etc.), Kirkland tem uma carreira de meio século que o fez passar pelo mais diversos géneros, do nu à moda, tendo estado ligado a revistas de referência como a Life e a Look. Falando sobre as exigências decorrentes das novas tecnologias, declarou: "Simplifica-se tanto que as pessoas subestimam o trabalho. Sim, o nível de exigência tem de ser maior, e implica ter olho 'educado', ter paixão e saber o que se quer. As câmaras digitais permitem logo ver se a imagem ficou bem, requerem menos inteligência. Eu tento sempre estabelecer contacto através do visor. Para mim, a fotografia tem muito a ver com a escultura: há que moldar o barro para que fique melhor" (entrevista a Paula Lobo, «Diário de Notícias», 28 Setembro).
* Palestra de Douglas Kirkland: FNAC- Colombo, quinta-feira, dia 29, às 18h30.
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Regressos e mais regressos

Primeiro era a surpresa, depois o hábito, agora a norma. Não há banda que se não junte, nem que para fazer uns trocos para juntar à soma dos royalties dos "best ófes" e das reedições que se vendem cada vez menos, de tão reeditadas e re-re-reeditadas que já foram... Faz-se um site, anunciam-se uns concertos, chamam-se os velhos fãs. E, com sorte, ainda se edita um DVD e um CD ao vivo e, no pacote, segue também um novo álbum de originais (quase sempre entre o "podiam ter evitado fazer isto" ou o "para esquecer", frequentemente na linha "as antigas é que eram boas").
Depois de, nos últimos meses os Dead Can Dance se terem juntado aos Bauhaus e Pixies no vagão dos "regressos que até valeram a pena, mas esperamos que a coisa fique pelas memórias e não gravem nada de novo, não se estrague a pintura" (o que os Pixies provavelmente farão brevemente), mais quatro nomes com berço em 80 entram em cena:
Visage. Foram referência neo-romântica em 1979-82 e agonia decadente de 1983 a 84... Fade To Grey ainda se dança em noites de perfil electro. E os Fischerspooner mostraram que o proejcto teve afinal herdeiros... Agora, todavia, Steve Strange juntou-se a músicos dos Seize (Sandrine Gouriou e Steve Young) e a Rose Harris e passou o Verão a apresentar, ao vivo, novas versões mais electro de temas antigos e alguns temas recentes. Visual bizarro, como se vê na imagem, com o vocalista com ares de Al Johnson da era digital. Álbum em gravação. E um siteonline.
Frankie Goes To Hollywood. Depois de Holly Johnson ter recusado a proposta do Bands Reunited do VH-1, os outros músicos (salvo Brian Nash) reactivaram a banda, para já apenas para actuações ao vivo que decorreram ao longo do Verão, e nas quais apresentaram o novo vocalista Ryan Malloy, recrutado nos palcos dos musicais do West End londrino... O grupo terminou agora esta digressão de reunião e está a trabalhar num álbum que pretende editar no Verão de 2006. Têm um site oficialonline, com microsites em separado sobre o passado e o presente da banda.
China Crisis. Deram um concerto one-off há duas semanas em Liverpool. Foi gravado para eventual edição em CD e DVD.
Heaven 17. Regreessaram à actividade em finais de 90, mas depois quase desapareceram novamente. Têm novo álbum, Before And After (que a Ananana está a tentar assegurar para edição portuguesa brevemente) e concerto marcado para Londres a 29 de Novembro. No site oficial do grupo já se podem escutar as canções do novo disco.

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Discos Voadores, 1 Outubro

Esta semana os Discos Voadores prometem viagem de turismo pop/rock a França para descobrir alguns dos discos, facção alternativa, que por lá se escutam neste momento. Entre outros, destaque para Une Saison Volée de Françoiz Breut, À Plus Tard Crocodile dos Louise Attaque, Adieu Tristesse de Arthur H, The Films dos The Films, Monsters In Love dos Dyonisios ou o disco de duetos que assinala os dez anos de actividade da sempre interessante editora Tôt ou Tard, álbum duplo que convoca, entre outras vozes, as de Lhasa e de Agnès Jaoui (sim, a realizadora de O Gosto dos Outros). Além do cardápio gaulês, o programa propõe ainda, entre outros, os novos discos dos Cloud Room, DK7, Ladytron, Franz Ferdinand, The Rakes, The Wedding Present, Mesa e Clã.
Discos Voadores. Radar 97.8 FM. Sábados 18.00-20.00 e Domingos 22.00-24.00

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quarta-feira, setembro 28, 2005

Podcast: a nova rádio

Em tempo de frequências surdas, quem tem podcast é rei… Esta livre adaptação de um ditado popular traduz apenas o impressionante crescimento do fenómeno podcast (por breves palavras, oferta de programas de rádio, geralmente em mp3, em certos sites, através dos quais os podemos escutar directamente online ou passar para leitores portáteis). Sob a ditadura global dos formatos, com playlists mais pensadas com objectivos de manutenção ou conquista de audiências que com a velha tradição que via a rádio como um veículo de divulgação de música, o podcast vem ocupar o lugar que as web radios independentes (ou seja, as que não correspondiam a emissões reais de rádio) deixaram vaga depois da mortandade digital que quase as apagou da rede nos últimos anos. O fenómeno cresce, inclusivamente pela aposta de antigos radialistas “convencionais” como Adam Curry, que tem em http://www.ipoder.com/ um site com um directório extenso de contactos. Mais prático e extenso é ainda o cabaz de propostas em http://www.podcast.net/, onde surgem já oito programas portugueses, uns mais amadores uns mais profissionais, uns experimentalistas, outros mais arrumados, um deles, o LadoB (da Rádio Ocidente), já com 54 emissões disponíveis para escuta (boa música, com Death Cab For Cutie, Lambchop, Interpol ou Broken Social Scene no cardápio). O iTunes tem também já disponível na sua loja uma zona seleccionada de podcasts e a própria Apple aposta no seu site neste novo formato. A oferta de podcasts é tão vasta quanto a imaginação, de programas sobre cinema a solilóquios sobre o que o autor resolver contar, de jardinagem a economia, das artes à informática.
Para os interessados em juntar as suas emissões à rede, aqui ficam os contactos de dois guias para iniciados, o My Pods e o Audiofeeds.

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MTV Awards sem surpresas

Foram já divulgados os nomeados para os MTV Europe Music Awards, cerimónia a decorrer em Lisboa, no pavilhão Atlântico, a 3 de Novembro… Mais do mesmo, em jovem, em inevitavelmente descartável, em “para o ano que venham outros que estes estão gastos e esquecidos”. Salvo uma ou outra excepção, o painel de nomes convocados para levar a estatueta para casa vinca o perfil musicalmente desinteressante e cada vez mais colado aos desígnios do mercado fácil e rápido, que o canal tem vindo a assumir, ensopado em hip hop de terceira e R&B ainda pior (qualquer dia até temos saudades do insuportável rock FM de 80), não esquecendo um roqueizito com ar de mau mas que não morde. Isto, claro, quando não transmite reality shows ainda piores que as novelas da TVI. A destacar-se entre uma multidão de nomes que a cruel, mas justa, selecção natural tratará de esquecer, lá se destacam as nomeações dos Gorillaz (merecidas, sim senhor), os Coldplay (há quem goste, o que não é o caso, mas não ofendem e até justificaram plenamente merecer estar aqui), U2 (em regime de manutenção, mas viva os veteranos… pela veterania) e Gwen Stefani (em busca de afirmação pop a solo, ainda sob benefício da dúvida).
O prémio português será escolhido entre os Da Weasel, Blasted Mechanism, Boss AC, Humanos e The Gift. Não parece mal. Parece até excelente, ao lado da concorrência internacional! E representativo da pop(ularidade) no ano em questão.
Agora, salvo na categoria de Melhor Vídeo, escolhida internamente, o voto a quem vê o canal
A cerimónia terá apresentação a cargo de Ali G e contará com actuações dos Outkast, Coldplay, Black Eyed Peas, Foo Figters, Green Day, The Rasmus, Backstreet Boys e Shakira. Nem vale a pena comentar, tão entusiasmantes quanto as nomeações. E nem um português em cima do palco!
Lista completa de nomeados no site oficial da cerimónia.

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Strokes: single oficialmente online

Depois de, há poucos dias, o single Juicebox ter surgido inesperadamente na Internet (os planos originais de edição apontavam para o lançamento do single apenas a 5 de Dexembro!), os Strokes aplicam a velha máxima “se não os vences junta-te a eles” e já o disponibilizaram para audição na zona de notícias do seu site oficial. A canção, que o Sound + Vision comentou logo no dia em que surgiu online (ver post publicado a 21 de Setembro) é a primeira amostra do álbum First Impressions On Earth, a editar a 9 de Janeiro de 2006. Hoje os Strokes dão a sua primeira entrevista depois do regresso aos discos ao semanário britânico NME. Nela, Julian Casablancas explica que Juicebox pode falar sobre uma relação de amor, uma relação de amizade ou o que o ouvinte bem quiser… Originalmente chamava-se Dracula’s Lunch, mas a opção Juicebox pareceu-lhe, depois, mais cool. O NME dá também a conhecer o alinhamento do álbum, que inclui os temas You Only Live Once, Juicebox, Heart In A Cage, Razor Blade, On The Other Side, Electricscape, Killing Lies, Fear Of Sleep, 15 Minutes, Vision Of Revision, Red Light, Evening Sun, In The Ize Of The World e Ask Me Anything.

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terça-feira, setembro 27, 2005

RETRO: Marlene / Dylan

O CD de Marlene Dietrich (1901-1992), incluído na série "Legends of the 20th Century" (EMI), não é, propriamente, um objecto que venha dos confins da memória, uma vez que foi editado no ano 2000 — mas é, sem margem para dúvidas, um genuíno objecto de memórias, já que as suas faixas foram gravadas entre 1930 (as canções do filme O Anjo Azul, de Josef Von Sternberg) e 1964 (uma sessão em Londres para registar In den Kasernen e Ich Werde Dich Lieben).
De Lili Marleen a Marie, Marie, nele se incluem os títulos essenciais que, para além do cinema (e, em particular, dos sete filmes sob a direcção de Sternberg) fizeram de Marlene um "bicho" sagrado do entertainment. Neste momento de reencontro com as canções e as memórias de Bob Dylan, importa destacar uma extraordinária gravação, justamente de um dos clássicos absolutos de Dylan: Blowin'in the Wind, registado em Londres, em Novembro de 1963, com orquestra dirigida por Burt Bacharach — Marlene canta Blowin'in the Wind como se, sob uma assumida ligeireza de music-hall, estivesse a escrever a história mitológica dos seus dias. Obviamente, tinha razão.
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A última missão de Maxwell Smart

Don Adams, um dos pequenos grandes génios da comédia televisiva, morreu a 25 de Setembro de 2005. Nascido a 13 de Abril de 1923, em Nova Iorque, Adams fica para a história como o intérprete de Maxwell Smart, o intrépido "Agente 86", personagem central de um dos clássicos absolutos das séries cómicas: Get Smart (1965-1970), entre nós conhecida como Olho Vivo.
Apesar de, tardiamente, ter dado origem a um filme (The Nude Bomb, 1980), a um telefilme (Get Smart, Again!, 1989) e a uma sequela ainda mais tardia (1995), é nos 138 episódios originais da série que se concentram as preciosidades de um modelo que integrava as componentes mais absurdas da grande tradição burlesca, combinadas com uma visão satírica da moda dos agentes secretos e filmes de espionagem (recorde-se que a série coincide com o período áureo de Sean Connery, como James Bond). Difundida pela NBC (1965-69) e pela CBS (1969-70), a série teve mais de duas dezenas de realizadores, incluindo o próprio Don Adams e alguns profissionais, como Paul Bogart ou Richard Donner, que depois trabalharam também em cinema.
* A série Olho Vivo está, actualmente, a ser exibida pela SIC Comédia.
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segunda-feira, setembro 26, 2005

"POST" DE ESCUTA: DK7

Nome histórico da música de dança na Suécia, Jasper Dahlbäck e o colaborador de outras ocasiões Mark O’Sullivan são os DK7. O duo apresenta no álbum Disarmed um inteligente espaço de reflexão sobre a canção, projectando olhares e pensamentos sobre o mundo em que vivemos. De arremessos para guitarras a pontuais afloramentos acid house, mas mais frequentemente sob tempero electro, uma fuga às lógicas mais tradicionais de construção de música para dançar, num álbum mais feito para... ouvir. Todavia, o excelente What’s The Fun é neste momento um dos singles dançáveis mais rodados em pistas por essa Europa fora. O álbum é editado no próximo dia 24 (entre nós pela Flur).

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Little Britain: ano 2 em DVD

A 10 de Outubro é editada em DVD (no Reino Unido) a segunda época da muito premiada Little Britain, a mais cáustica e hilariante série de humor que a BBC produziu desde os dias históricos de Fawlty Towers (sim, é mesmo assim tão genial!). Oportunidade para reencontrar Lou na sua cadeira de rodas, Majorie Dawes e o seu grupo de terapia colectiva anti-banhas, a rebelde Vicky Pollard ou o travesti pouco convincente Emily Howard, figuras todas elas criadas pela fabulosa dupla de comediantes Matt Lucas e David Williams. Entre os extras desta edição contam-se o especial que gravaram para a Comic Relief (no qual participaram Elton John, Robbie Williams e George Michael), entrevistas, cenas extra não incluídas nos episódios e comentários.
Entretanto, foi já editado em DVD o conjunto de sketches Rock Profile, que Matt Lucas e David Williams criaram antes de Little Britain. Olhares cortantes sobre estrelas rock, reduzindo ao mais triste ridículo figuras como os Beatles (com George Harrisson a falar com sotaque indiano), Michael Jackson, Abba, Duran Duran, U2 ou Wham!...
Nenhum dos DVDs tem edição prevista para Portugal (que continua ainda à espera do volume 1 de Little Britain, editado em Inglaterra no ano passado).
Para ir saciando a curiosidade, o site de David Williams tem sinopses e fotos de todos os episódios.

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Lennon 25 anos depois

A primeira edição destinada a assinalar os 25 anos da morte de John Lennon (assassinado à porta da sua casa, em Nova Iorque, a 8 de Dezembro de 1980) é um CD duplo, Working Class Hero, uma antologia. O disco, a editar pela EMI no dia 3 de Outubro, inclui, no primeiro CD, Just Like Starting Over, Imagine, Watching The Wheels, Jealous Guy, Instant Karma (We All Shine On), Stand By Me, Working Class Hero, Power To The People, Oh My Love, Oh Yoko!, Nobody Loves You (When You’re Down And Out), Nobody Told Me, Bless You, Come Together (ao vivo), New York City, I’m Stepping Out, You Are Here, Borrowed Time, Happy Xmas (War Is Over). No segundo disco encontramos Woman, Mind Games, Out Of The Blue, Wahtever Gets Thru The Night, Love, Mother, Beautiful Boy (Darling Boy), Woman Is The Nigger Of The World), God, Scared, #9 Dream, I’m Loosing You, Isolation, Cold Turkey, Intuition, Gimmie Some Action, Give Peace A Chance, Real Love e Grow Old With Me.
Ao mesmo tempo os escaparates dos livros acolhem o muito esperado John, memórias assinadas pela sua primeira mulher, Cynthia Lennon (em Dezembro sera editada uma outra memória de uma outra esposa: Memories Of John Lennon, de Yoko Ono). Nas livrarias estará também brevemente John Lennon: Listen To This Book de John Blancey, John Lennon: The New York Years, de Bob Gruen e a colecção de imagens Remembering John Lennon 25 Years Later (da Time Life).
Outubro assinala assim o início das evocações oficiais dos 25 anos de morte de Lennon. No Budokan, em Tóquio, onde em tempos os Beatles actuaram, terá lugar o concerto de tributo Dream Power. Na Cité de La Musique, em Paris será inaugurada a exposição John Lennon: Unfinished Music, que inclui recortes e colagens nunca vistas na Europa e elementos sobre a história de Lennon.

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Franz Ferdinand em DVD

Duas semanas depois de editado o novo álbum You Could Have It So Much Better (sai já na próxima segunda-feira, dia 3 de Outubro), os Franz Ferdinand editam um DVD duplo que documenta o ano intenso de palcos que viveram em 2004. O primeiro dos dois DVDs inclui excertos de actuações em festivais (não há Sudoeste por ali...), assim como vídeos karaoke para Matinee e Take Me Out e o documentário behind the scenes inteligentemente intitulado Tour de Franz. O segundo disco documenta na íntegra dois concertos do grupo (um na Brixton Academy, em Londres, outro em San Francisco), entrevistas com os músicos e imagens de uma actuação na Austrália.

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Tele-regiões

No dia 26 de Setembro, do ano da graça de 2005, os canais generalistas da televisão portuguesa abriram os telejornais das 20h00 privilegiando dois temas: uma escaramuça nos corredores de uma câmara municipal por causa da reabertura de uma escola e uma explosão numa fábrica de pólvora. Ninguém irá menosprezar, nem a importância das condições práticas do ensino, nem os danos humanos e materiais provocados por um acidente brutal. Em todo o caso, importa perguntar: será que estar atento à diversidade e complexidade do mundo contemporâneo é escolher este tipo de hierarquia noticiosa? Mesmo sem discutir o tom dominante de muitas notícias (populistas, especulativas ou mesmo anedóticas), será que a actualidade do nosso planeta se confunde com este regionalismo serôdio, incapaz de ter uma atitude aberta e criativa à dinâmica social, política e cultural do dia a dia? Até porque, importa voltar a repeti-lo, para sectores quantitativamente muito significativos da população, a televisão é o único factor de informação. Mais ainda: o único elemento de formação.
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A estação Dylan

Em 1965, no Newport Folk Festival, Bob Dylan fez-se acompanhar pela Paul Butterfield Blues Band e o escândalo não podia ter sido maior: o cantor folk, visto (e ouvido) como pilar de uma tradição "inalterável" surgiu com guitarras eléctricas! Porquê? "Achei que seria mais intenso com um pequeno grupo a acompanhar-me. Era eléctrico, mas isso não quer dizer que fosse necessariamente modernizado. A country também era eléctrica." O escândalo repetiu-se, em 1966, na tournée inglesa de Dylan — e, é caso para dizer, o resto... ficou para a história.
Estas e (muitas) mais palavras de Dylan estão em No Direction Home, o documentário de Martin Scorsese sobre os anos "dylanescos" de 1961-66. Estreou-se na PBS americana e na BBC e vai chegar ao mercado português, em formato DVD, a 16 de Novembro, numa edição da Paramount/Lusomundo.
Vai ser, aliás, um Outono (e, por certo, muitas mais estações...) sob o signo de Bob Dylan. Nas lojas já está No Direction Home: The Soundtrack (Columbia/Sony BMG), CD duplo de inéditos que constitui a banda sonora oficial do filme de Scorsese. Entretanto, em Outubro, com a chancela da Ulisseia, sairá a tradução portuguesa do primeiro volume do autobiográfico Chronicles.
Atenção a quem estiver em Londres (ou lá possa ir nos tempos mais próximos): na Proud Camden Gallery, até 15 de Outubro, poderão ver uma exposição de uma centena de fotografias da carreira de Dylan, algumas nunca publicadas.
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Banda Sonora (26 a 30 Setembro)

BANDA SONORA*
Antena 1, cerca das 22h50
(Lisboa: 95.7; Porto: 96.7; Coimbra: 94.9)

Dia 26: GREASE (1979), de Randall Kleiser
— Summer Nights
John Travolta / Olivia Newton-John

DIA 27: DE TANTO BATER O MEU CORAÇÃO PAROU (2005), de Jacques Audiard
— Monkey 23
The Kills

Dia 28: ESCAPE LIVRE (1964), de Jean Becker
— Échappement Libre
Martial Solal

Dia 29: (especial futebol)

Dia 30: UMA BOA COMPANHIA (2004), de Paul Weitz
— Ten Years Ahead
The Soundtrack of Our Lives

* programa sujeito a alterações.
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Discos da semana: 26 Setembro

Tennant/Lowe “Battleship Potemkin”
J.L.: Vivemos num mundo de permanentes actualizações da memória, que é como quem diz, de continuada reescrita da história. Tennant/Lowe não recearam enfrentar um objecto cuja identidade parece ter cristalizado no tempo — a obra-prima do cinema soviético O Couraçado Potemkin, realizada por Eisenstein em 1925 —, justamente para mostrar que a música (em boa verdade, qualquer forma artística de expressão) não precisa de viver da mera "confirmação" do que foi adquirido. Daí que esta nova banda sonora possa ser vista como um exercício de reconfiguração crítica do trabalho de Eisenstein e, ao mesmo tempo, uma exaltação feliz do mais puro "sinfonismo electrónico" (se não existia, passa a existir...). Uma gravação histórica que, obviamente, deve ser evitada pelos "puristas" de todas as ideologias.
N.G.: Nova banda sonora para um filme com 80 anos, junta o universo pop electrónico dos Pet Shop Boys ao sinfonismo dos arranjos de Torsten Rasch, servindo as imagens de Eisenstein com uma grandiosidade épica que reconhecemos no filme, recorrendo ainda as estruturas rítmicas a uma cadência que serve o ritmo de montagem. Três canções e diversos cenários numa das melhores bandas sonoras do ano. O disco é uma peça de requinte e respeito pelo cinema, tem vida própriam pela música, mas convenhamos que um DVD com a dupla “sound” e “vision” é que vinha mesmo a calhar!”

Stars “Set Yourself On Fire”
J.L. Onde termina a pop e começa a electrónica? Quando acabam as guitarras e entra a orquestra? Como termina a ligeireza da canção e nasce o apetite sinfónico? Eis três perguntas que marcam alguma das mais interessantes músicas dos nossos dias. Os Stars têm respostas próprias, oferecendo-nos um magnífico disco híbrido: uma colecção de canções que "escondem" a poesia de uma envolvente música de câmara. Transparente e íntimo, eis a sedutora contradição.
N.G.: Mais uma banda canadiana a entrar em cena, todavia com vida que soma já dois álbuns antes deste. Depois de uma primeira etapa que deles fazia herdeiros de gostos versáteis, dos Smiths aos Pet Shop Boys, abrem o gosto à curiosidade da exploração das guitarras sem contudo perder um evidente apelo pop. Canções sobre o lado errado da vida, que, mesmo sob efusivo melodismo pop, acabam sempre por deixar um travo amargo nas… orelhas”

Philip Glass “Glass Cuts”
N.G.: Na linha do que foi feito sobre peças de Steve Reich em Reich Remixed, um conjunto de novos músicos ligados às electrónicas (nenhum deles particularmente conhecido) transformam obras e excertos de obras de Philip Glass. As reinvenções são ousadas, mas em nada traem o espírito do compositor homenageado, de resto instigador de muitas destas estratégias formais. Manipulações inteligentes, bem conduzidas, encontram padrões e elementos que recontextualizam, numa lógica em tudo herdeira dos princípios do minimalismo.

Steve Reich “You Are (Variations)”
N.G.: Uma obra de manutenção, continuando a explorar as idiossincrasias formais características na filosofia da música de Steve Reich. O disco apresenta como protagonista You Are (Variations), peça herdeira directa de uma linha de composição para ensemble e vozes que teve recente manifestação no superior Three Tales (exibido no CCB e editado em disco em 2003). Como extra inclui mais uma obra da série “counterpoint”, o Cello Counterpoint, igualmente interessante, mas tal como You Are, apenas uma manifestação de continuidade.

Durutti Column “Amigos Em Portugal”
N.G. Não só documenta uma das mais estimulantes fases da carreira dos Durutti Column (foi gravado em 1983), como representa uma das mais célebres edições do catálogo da histórica Fundação Atlântica. Sem procurar traduzir na música quaisquer retratos de portugalidade, eis um apurado depoimento de um compositor de rara sensibilidade, aqui numa etapa em que concedeu protagonismo ao seu primeiro instrumento: o piano.

John Cale “Black Acetate”
N.G. Dois anos depois do magnífico Hobo Sapiens, um segundo episódio da mesma ideia, todavia com novos colaboradores. Entre a vontade em respeitar a canção e um velho apelo experimentalista, entre ferramentas clássicas e novas possibilidades técnicas, surgem muitas ideias, mas não entusiasmam… Cansam, mesmo. Acreditamos que seja um dalqueles momentos em que estamos a pensar numa nova ideia, e a formulamos em voz alta, acabando os outros a escutá-la sem querer… Acreditamos que depois deste ensaio meio falhado, a ideia completa acabará por surgir.

Hard Fi “Stars Of CCTV”
N.G. Entre a multidão de novas bandas que surgem de solo inglês, os Hard Fi destacam-se das demais por procurar outras raízes, mesmo que colhidas na oferta de finais de 70. Em vez dos XTC ou Gang Of Four, escutaram com mais entusiasmo os Clash e Specials, e oferecem-nos uma magnífica estreia cheia de fortíssimas canções. Guitarras que sabem dançar e electrónicas bem usadas, numa das estreias do ano.

Culture Club “Singles and Remixes”
N.G. Os singles de sempre, documento de uma história pop que em inícios de 80 cruzou interesses com a soul, o funk, o reggae… E uma mão cheia de novas remisturas, quase todas elas inconsequentes e dispensáveis.

Também esta semana: Experpts From The Diary Of , dos Grandaddy ; No Direction Home: The Soundtrack, de Bob Dylan; In The Reins dos Iron And Wine com os Calexico; Alice In Ultraland dos Amorphous Androgynous; Da Pacem Domine de Arvo Part; Day Is Gone do Brad Mehldau Trio; In Space dos Big Star; Rantology dos Ministry; And The Glass Haunted Kites dos Mew, Spirituals do projecto Flanger.

Brevemente:
3 Outubro: Franz Ferdinand, Punk: Attitude (DVD), John Lydon (best of), Andy Bell, New Order (DVD), Pixies (DVD), The Fall, Leftfield, Beta Band (best of), John Lennon (antologia), Tributo a Tim + Jeff Buckley, Anja Garbarek, Dandy Warhols, Nine Horses (David Sylvian + Steve Jansen + Burnt Friedman), Clã (ao vivo), Leftfield, Go! Team, Steve Harley + Cockney Rebel, Siouxsie & The Bansheed (reedição), Murcof, Mark Eitzel, Talking Heads (caixa com todos os albums), Bow Wow Wow (best of), Eurythmics (best of), Cream (DVD), Jesus Jones (DVD ao vivo), Pink Floyd (DVD documentário), Loosers, Vicious 5
10 Outubro: Ladytron, Bruce Springsteen (DVD no VH1), Police (DVD ao vivo), DK7, John Lennon (duas reedições), Gang Of Four (regravações), Fiona Apple, Paul Weller, Killing Joke, Outkast, Yello (duas reedições), Prodigy (best of), El Presidente

Outubro: Duran Duran (DVD + CD ao vivo), Depeche Mode, Camané (DVD), David Fonseca, Marisa Monte, Clã (DVD), Animal Collective, Blondie (best of), Madredeus (DVD), Louis XIV, We Are Scientists, Tributo aos 40 anos de Rubber Soul, T-Rex (caixa), Cardigans, Kraftwerk (DVD)
Novembro: Da Weasel (ao vivo), GNR (CD + DVD), Moby (DVD), Live 8 (DVD), Kate Bush, Human League (remisturas originais), David Bowie (3CD), Kasabian (DVD), Madonna, Abba (integral em caixa), A-ha, Muse, Patti Smith (Horses em versão com extras), U2 (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa)
Dezembro: Teresa Salgueiro

Para 2006: X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes


As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.

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Discos Voadores, 25 Setembro

Esta semana nos Discos Voadores houve “encontro imediato de terceiro grau” com Luís Costa, label manager de alguns catálogos na Sony BMG, que retratou o actual panorama editorial, a vida numa indústria em crise e como são encaradas as músicas alternativas no quadro de editoras multinacionais. Como sempre acontece, trouxe ainda discos novos, dois estrangeiros (Micah P Hinson e The Dears) e um português (Blasted Mechanism); duas memórias (Peter Murphy e Joy Division) e o inevitável “fiozinho” de azeite (Kylie Minogue)

The Cloud Room “Hey Now Now”
Franz Ferdinand “Do You Wanna”
Gang Of Four “Damaged Gods”
The Rakes “Open Book”
Editors “Blood”
The Robocop Kraus “You Don’t Need A Doctor”
Micah P. Hinson “Close Your Eyes”
Blasted Mechanism “Sun Goes Down”
Nine Horses “Darkest Birds”
Old Jersualem “180 Days”
Brian Eno “How Many Worlds”

DK7 “Where’s The Fun”
White Rose Movement “Love Is A Number”
U-Clic “Unfashionautic Superstars”
Peter Murphy “A Strange Kind Of Love”
Joy Division “Atmosphere”
Depeche Mode “Precious”
Kylie Minogue vs New Order “Can’t Get You Out Of My Head”
Ladytron “Destroy Everything You Touch”
Mesa “Vitamina”
Goldfrapp “Koko”


Discos Voadores. Radar 97.8 FM (sábados 18.00-20.00 e domingos 22.00-24.00)

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domingo, setembro 25, 2005

"Corpse Bride": 4 canções na Net

Aqui no SOUND+VISION, é uma das mais aguardadas estreias de fim de ano (22 Dez.): A Noiva Cadáver, ou seja, no original, Tim Burton's Corpse Bride. Trata-se de uma nova incursão de Tim Burton nos domínios da animação "stop-motion", isto é, com figurinhas manipuladas (e filmadas imagem a imagem) para criar a ilusão de movimento. Burton já o fizera em O Estranho Mundo de Jack (1993), nessa altura com a colaboração de Henry Selick, que co-assinava a realização. Um dos assistentes desse filme, Mike Johnson, é agora o co-realizador. Entre as vozes das personagens, surgem algumas surpresas e vários habitués de Burton, incluindo Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Emily Watson, Tracey Ullman, Joanna Lumley, Albert Finney, Richard E. Grant e Christopher Lee.
Quem regressa também é o fiel Danny Elfman. Ainda recentemente, noutro filme de Burton — Charlie e a Fábrica de Chocolate —, redescobrimos as suas extradordinárias capacidades de compositor (e cantor). Pois bem, também desta vez a banda sonora volta a ser da sua responsabilidade e podemos, desde já, ouvir quatro das respectivas canções no site de Corps Bride. São elas: According to Plan (cantada por Albert Finney, Joanna Lumley, Tracey Ullman e Paul Whitehouse), Remains of the Day (Danny Elfman, Jane Horrocks, Paul Baker, Alison Jiear e Gary Martin), Tears to Shed (Helena Bonham Carter, Jane Horrocks e Enn Reitel) e The Wedding Song (Danny Elfman, Jane Horrocks, Paul Baker, Alison Jiear e Gary Martin) — são peças de desconcertante delírio gótico, por vezes de deliciosa frivolidade "vaudeville", sempre com um toque genuinamente pop.
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Miyazaki estreia a 13 de Outubro

O mais recente filme do mestre japonês da animação, Hayao Miyazaki — O Castelo Andante (título inglês: Howl's Moving Castle) — já tem o trailer português disponível na Internet. Entretanto, a respectiva distribuidora, New Age, confirmou a data de estreia para 13 de Outubro. Será o terceiro título de Miyazaki a ter lançamento entre nós, depois de A Princesa Mononoke (1997) e A Viagem de Chihiro (2001).

* Howl's Moving Castle: site americano.

* Algumas outras estreias anunciadas até ao final de 2005:
— 29 de Setembro:
* A Dama de Honor, de Claude Chabrol (Atalanta)
* Os Irmãos Grimm, de Terry Gilliam (Castello Lopes)
— 6 de Outubro:
* Alice, de Marco Martins (Atalanta Filmes)
— 13 de Outubro:
* Last Days, de Gus Van Sant (Atalanta)
— 20 de Outubro:
* Proof, de John Madden (Castello Lopes)
— 27 de outubro:
* Wallace & Gromit: A Maldição do Coelhomem, de Steve Box e Nick Park (Lusomundo)
— 3 de Novembro
* O Fiel Jardineiro, de Fernando Meirelles (LNK)
* La Marche de l'Empereur, de Luc Jacquet (Ecofilmes/Vitória Filme)
— 10 de Novembro:
* Elizabethtown, de Cameron Crowe (Lusomundo)
— 17 de Novembro:
* Uma História de Violência, de David Cronenberg (LNK)
* Broken Flowers, de Jim Jarmusch (Ecofilmes/Vitória Filme)
— 24 de Novembro:
* Harry Potter e o Cálice de Fogo, de Mike Newell (Warner)
— 1 de Dezembro:
* Oliver Twist, de Roman Polanski (Lusomundo)
— 8 de Dezembro:
* As Crónicas de Narnia, de Andrew Adamson (Lusomundo)
— 15 de Dezembro:
* King Kong, de Peter Jackson (Lusomundo)
— 22 de Dezembro:
* A Noiva Cadáver, de Tim Burton e Mike Johnson (Warner)
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sábado, setembro 24, 2005

Bowie: novos livros

Nas últimas semanas três novos livros sobre David Bowie foram editados, nenhum deles com projecto de tradução para português. O primeiro, integrado na série 33 1/3 da editora Continuum (que já dedicou títulos a álbuns históricos dos Love, Radiohead, Joy Division, Velvet Undergound, Rolling Stones ou Prince) é um ensaio de 126 páginas de Hugo Wilcken sobre o álbum apontado como a obra prima superior de Bowie: Low, de 1977 (bom, obras-primas, obras-primas são também Hunky Dory, Ziggy Stardust, Heroes, Scarry Monsters ou Outside, mas enfim, era preciso escolher um...). Nascido depois de uma etapa de neurose e loucura ensopada em consumo de drogas, o disco assinalou o reencontro de Bowie com a sanidade mental, a primeira de uma série de colaborações com Brian Eno e um espaço de diálogo entre a canção e a ideia de cenografia textural e ambiental. As canções que povoaram o lado A foram mote para muita da música pop que se fez entre finais de 70 e inícios de 80.
O segundo livro, Moonage Daydream, é uma selecção, em 320 páginas, de fotografias de Mick Rock tiradas durante a fase Ziggy Stardust, isto é, entre finais de 1971 e 1973. O ícone planetário, a face mutante, o esteta do glam, em olhar por quem mais perto de si teve direito a usar uma câmara fotográfica nesses dias. O livro teve uma primeira edição limita (assinada por Bowie e Rock) há dois anos. Esta é mais baratinha...
O terceiro livro sobre Bowie retrata sobretudo os bastidores de um feito tecnológico que o usou como protagonista. Homem ligado ao cinema (às salas, projecções, tecnologias), Marc John relata em Beaming David Bowie a aventura que, a 8 de Setembro de 2003, levou em directo a salas de cinema de todo o mundo um concerto de apresentação das canções de Reality a partir dos Riverside Studios em Londres (é feio fazer inveja, mas não resisto a dizer que estive lá e que foi um concerto fenomenal, mesmo sendo Reality um dos seus piores discos).

Low, Hugo Wilcken: 136 páginas, edição Continuum Books
Moonage Daydream: The Life And Times Of Ziggy Stardust, Mick Rock: 320 páginas, edição Universe
Beaming David Bowie
, Marc John: 249 páginas, edição de autor

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"A Queda" em DVD

Está já editado em DVD um dos filmes mais espantosos que vimos nos ecrãs este ano. A Queda (no original Der Untergang), de Oliver Hirschbiegel, é um arrebatador retrato de um fim. Um trajecto claustrofóbico que, numa mão cheia de dias nos revela a agonia terminal do Terceiro Reich, vivida junto da elite que com Hitler, no seu bunker, sonhou com episódios finais de resistência numa Berlim à beira do colapso sob o avanço russo, mas que acabou por, pouco a pouco, sentir que a morte era a única saída possível face ao terror de eventual captura. A genial interpretação de Bruno Ganz e o cortante sentido realista da realização fazem deste filme um dos mais interessantes de um filão com história no cinema que remonta aos dias da própria segunda guerra mundial. A edição em DVD junta ao filme um conjunto de extras que são verdadeiro valor acrescentado: um documentário sobre a produção, um extenso making of (de 56 minutos), entrevistas (Bruno Ganz e Melissa Müller, a autora de Até à Última Hora) e a espantosa entrevista com Traudl Junge, primeira pessoa neste relato, realizada em paralelo ao filme. Mais informações sobre o filme no site oficial do filme.

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RETRO: XTC, 1979

A recente vaga pop feita de euforia melodista para guitarras que nos tem chegado de terras britânicas nos dois últimos anos e ainda dá sinais de querer continuar a marcar a agenda por mais algum tempo, deve muita da sua identidade a uma redescoberta dos apetitosos baús da memória do pós punk britânico, e muito particularmente a uma banda e um álbum que parecem tomados como cartilha de referência: os XTC e o histórico Drums And Wires, de 1979.
O grupo que ao longo da sua extensa vida deu valentes dores de cabeça aos taxionomistas desejosos de os caracterizar numa caixa genérica, reconhecendo todavia todos eles uma admiração superior pelo talento criativo do seu vocalista, Andy Partridge, viveu os primeiros anos de vida entre as fileiras da frente de um movimento que captou o sentido de urgência e a carga libertária do punk, projectando estas novas lições num espaço menos agreste e claramente pop. Depois de dois interessantes álbuns de afirmação – White Music (1977) e Go2 (1978) – atingiram a solidez da sua linguagem em Drums And Wires, disco ainda hoje tido como um dos pilares de sustentação de toda a new wave. Entre o segundo e o terceiro álbuns, os XTC perderam um teclista, optando por substituí-lo por… um segundo guitarrista (que também dava com o dedo nas teclas quando era preciso). O álbum que então gravaram, revelou uma escrita mais apurada e sólida, energias mais focadas, uma secção rítmica irresistível (e consciente da sua importância estrutural na canção), uma coesão mais evidente, alma claramente britânica (vejam-se as marcas de humor), arranjos minimais e um melodismo pop protagonista (aqui aproveitando em pleno os jogos entre as duas guitarras). Na época, o álbum mostrou como uma ideia nova podia assimilar os princípios estruturais da canção clássica e do melodismo pop, tornando-se acepipe acessível e apetecível. Os ouvidos responderam afirmativamente, e do culto a banda saltou para o patamar superior. Aqui, a força irresistível do genial Making Plans For Nigel, editado como single, foi argumento irrecusável.
26 anos depois, o som do álbum está espantosamente actual e pertinente. As suas formas e canções são pão para a boca de novas bandas que nascem como cogumelos pop pela Inglaterra dos nossos dias.
XTC “Drums And Wires” (Virgin, 1979)

Se gostou, escute depois:
Undertones “Hypnotized” (1980)
Split Enz “True Colors (1980)

Franz Ferdinand "Franz Ferdinand" (2004)

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Cunningham "Days"

O escritor norte-americano Michael Cunningham tem mantido uma relação peculiar com o cinema. Isto porque dois dos seus romances deram origem a filmes marcados por um romanesco reminiscente do melhor classicismo de Hollywood: As Horas (Stephen Daldry, 2002, argumento de David Hare) e Uma Casa no Fim do Mundo (Michael Mayer, 2004, argumento do próprio Cunningham) — ambos os livros (e ainda Sangue do Meu Sangue) estão traduzidos em português, com a chancela da Gradiva.
Entretanto, não será de admirar que, um dia destes, o novo romance de Cunningham — Specimen Days, editado pela Farrar, Straus and Giroux — venha a ser transformado em filme. Quer isso aconteça, quer não, o certo é que estamos perante um prodigioso acontecimento literário, um desses livros que nos devolve ao mais radical pulsar da vida e nos faz querer responder à questão de como continuar a viver.
Tal como em As Horas, são três histórias que ecoam entre si, embora desta vez de modo autónomo e sucessivo: a primeira, situada há cerca de um século, em plena Revolução Industrial, reflecte o início das relações modernas homem/máquina; a segunda, na nossa actualidade, tem um espírito de thriller sobre um estranho bando terrorista; a terceira acontece, algures, no século XXII, e fala-nos de um futuro habitado por corpos fabricados e extraterrestres integrados — intitulam-se, respectivamente, In the Machine, The Children's Crusade e Like Beauty.
Cunningham escreve como se estivesse a refazer a vocação épica dos EUA, contemplando-a, agora, nas margens das suas crenças e ilusões, aí onde o concreto e o abstracto coexistem de modo inesperado e vertiginoso. Uma obra-prima, para ler com paciência, a uma velocidade que contrarie a lógica temporal do nosso dia a dia.
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Zemeckis, 1980

Antes do impacto de Regresso ao Futuro (1985) e do sucesso global de Quem Tramou Roger Rabbit (1988), Robert Zemeckis foi um cineasta de fascinantes paradoxos: por um lado, arriscando em formas claramente experimentais; por outro lado, convocando muitas referências da mais tradicional cultura popular americana. Daí a (boa) oportunidade para reencontrar — dia 26, no canal Hollywood — um dos primeiros títulos da sua filmografia, já com a chancela do seu amigo Steven Spielberg, na qualidade de produtor executivo: chama-se Used Cars (1980) e recebeu o "histórico" título português de Travões Avariados, Carros Estampados.
Centrado no turbulento dia a dia de um típico stand americano à beira da estrada para venda de carros em segunda mão, esta é uma comédia que remete, antes do mais, para a mais nobre tradição burlesca de Hollywood: a acção, fisicamente exuberante, funciona também como delicada desmontagem dos valores de uma sociedade toda ela marcada pela mira (ou miragem) do lucro e pelo gosto do espectáculo. Zemeckis demonstrava já como a sua formação (visual e narrativa) se enraíza numa idade dos desenhos animados em que o corpo é tratado como uma singular fonte de energia. Além do mais, aqui se cruzam várias gerações de actores de Hollywood, exemplarmente simbolizadas pelos dois protagonistas: Kurt Russell, então uma jovem promessa em ascenção (protagonizara, um ano antes, o telefilme Elvis, sobre Elvis Presley, sob a direcção de John Carpenter), e o veterano Jack Warden.
* Canal Hollywood: segunda-feira, 26, 21h00.
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"POST" DE ESCUTA: Sadie jazz

Nome de referência do jazz da Bélgica, Marc Moulin reeditou este ano, o seu primeiro trabalho, Sam' Suffy, cuja edição original completou 30 anos. Daí que valha a pena recordar o seu mais recente álbum de originais: o bem chamado Entertainment (EMI/Blue Note, tal como o primeiro), uma bela colecção de dez faixas de elaborada ligeireza, em que a pulsão jazzística se combina, sem complexos, com uma atmosfera dançada e dançável — o tema de abertura chama-se, aliás, Silver (Who Stole the Groove?).
O disco nasce de três contribuições fundamentais: Moulin (teclas e arranjos), Bert Joris (trompete) e Peter Schneider (percussão), com a colaboração da voz de Christa Jérôme. Além do mais, trata-se de um objecto que se distingue por um elegante grafismo, sustentado pelas magníficas fotografias de Danny Willems. O cãozinho da capa é uma senhora, de seu nome Sadie.
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"The Hollywood Reporter": 75 anos

O lendário THR, ou seja, o jornal The Hollywood Reporter, uma das mais prestigiadas publicações da comunidade cinematográfica dos EUA, está a comemorar 75 anos de existência. Fundado por William (Billy) R. Wilkerson (aqui recordado numa caricatura assinada pelo grande Ed Wexler), THR teve o primeiro número publicado a de Setembro de 1930. Para assinalar a data, os seus redactores produziram dois fantásticos dossiers, disponíveis online:
* O 75º Aniversário — Uma memória de alguns momentos marcantes da evolução da indústria, incluindo o envolvimento de Hollywood na propaganda anti-nazi, durante a Segunda Guerra Mundial, e as transformações da produção e do mercado desencadeadas pela "idade dos blockbusters", inaugurada em 1975 com Tubarão, de Steven Spielberg. O dossier inclui ainda trabalhos sobre alguns produtores marcantes na evolução do cinema americano, entre os quais Louis B. Mayer, Walt Disney e Darryl Zanuck.
* O Futuro do entertainment — Uma impressionante colecção de artigos sobre os vectores fundamentais da evolução, a curto e médio prazo, do mundo das imagens e dos sons: a consolidação do digital, a importância crescente dos downloads (músicas + filmes) e o ensino das artes audiovisuais são alguns dos temas em destaque. O dossier é completado por depoimentos de personalidades marcantes do entertainment, incluindo James Cameron, George Lucas e Chris Albrecht (presidente da cadeia televisiva HBO).
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Comédia & drama segundo Spike Lee

Em tempos de tantos divertimentos medíocres (que confundem a diversão com a desvalorização de todas as formas de inteligência), descobrir um filme como She Hate Me / Ela Odeia-me é um acontecimento feliz. Que é como quem diz: uma comédia pura e dura, sem medo de experimentar os limites do absurdo — esta é a história de um homem (Anthony Mackie) que se transforma em dador "oficial" de esperma para 18 lésbicas candidatas à maternidade... —, comédia em que o humor funciona como delicado bisturi para a desmontagem das relações sociais e afectivas numa América com a sua mitologia nacional em crise e, por isso mesmo, carente de valores seguros. Nesta perspectiva, e para além das muitas diferenças temáticas e narrativas, este é um filme completamente cúmplice do admirável A Última Hora (2002), um dos primeiros títulos a reflectir sobre a América pós-11 de Setembro e também um dos momentos mais altos da filmografia de Spike Lee.

Spike Lee é um verdadeiro cineasta do desejo, ou melhor, da diferença nunca estabilizada entre aquilo que cada personagem vê noutra e o que a segunda espera da primeira. Claro que, desde títulos como She’s Gotta Have It (1986) ou Do the Right Thing (1989), a sua visão está indissociavelmente ligada às tensões entre negros e brancos na sociedade americana. Mas seria redutor considerá-lo um cronista de temáticas "raciais". O que ele filma é sempre, em última instância, a imensa pluralidade do factor humano e todos os "excessos" que o fazem sair das normas politicamente (ou racialmente) correctas. Daí também que Spike Lee seja um dos mais ousados experimentadores do actual cinema americano. Nesse aspecto, Ela Odeia-me é um fulgurante exercício formal: começa como drama social, transfigura-se em comédia de costumes e desemboca na imponência de uma parábola sobre o presente crítico da própria nação americana. (Este parágrafo faz parte de um texto publicado no 'Diário de Notícias', de 22 de Setembro)

Notícia menos interessante: a admirável banda sonora de She Hate Me, da autoria de Terence Blanchard, não tem lançamento português previsto.
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sexta-feira, setembro 23, 2005

A descobrir: Laura Veirs

Revelou-se em 1999, com um álbum homónimo, em edição de autor: Laura Viers é uma singer-sonwriter, natural de Seattle, que combina a herança folk com as deambulações de uma pop "alternativa" que se quer, de uma só vez, transparente e introspectiva. Tudo isso já lhe valeu a fama de uma "nova" Suzanne Vega, o que não lhe fica mal, mesmo se é verdade que há nela uma energia que dispensa qualquer caução.
Agora, Veirs aparece com Years of Meteors, segunda gravação com a chancela da Nonesuch em que a crescente sofisticação das texturas melódicas não contraria a mesma austera claridade. O teledisco do tema Galaxies é uma pequena maravilha poética — pode ser visto no site da editora e também no do respectivo realizador, Terri Timely.
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Glass: as horas e os instantes

Do filme As Horas (2002), de Stephen Daldry, baseado no romance homónimo de Michael Cunningham, temos a memória envolvente de um tempo múltiplo, quase táctil, ligando as palavras, aventuras e desventuras de Virginia Woolf aos nossos dias. Revemos as imagens sublimes de um trio em estado de graça — Nicole Kidman / Julianne Moore / Meryl Streep — e sentimo-las tocadas pela música genial de Philip Glass: uma vaga de pressentimentos e melodias que ecoam entre si, num jogo potencialmente infinito com o silêncio da dor e as imagens frágeis da alegria.
A banda sonora de As Horas já existia na edição oficial referente ao filme (Nonesuch). Chegou agora ao mercado português a versão, em solo de piano, de Michael Riesman (Orange Mountain Music), velho aliado de Glass. É um disco sublime: voltamos a contemplar as paisagens íntimas do filme, redescobrindo a intensidade indizível de cada instante. Ao mesmo tempo, assistimos à serena reinvenção dos mistérios de uma música tocada pelo desejo de utopia. Para ver e rever, aliás, ouvir e voltar a ouvir.
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"POST" DE ESCUTA: U-Clic

Num ano de valente dieta nacional, eis um nome para satisfazer a valer todos os glutões pop ávidos de novos sabores: U-Clic. Vêm de Tomar e estão a completar neste momento a gravação do seu álbum de estreia, Console Pupils, com edição ainda possível este ano, haja editora que a assegure. E dado o panorama discográfico que temos encontrado desde Janeiro, podemos ter aqui um dos álbuns para marcar 2005... Atitude punk e ferramentas electrónicas ao serviço de belas canções simplemente pop, num mundo de referências que vão dos Sonic Youth aos Kraftwerk, como os próprios cantam em Unfashionautic Superstars, tema que vai rodando pelos Discos Voadores, na Radar. No seu site oficial podem descobrir o percurso da banda e fazer download gratuito dos três temas editados no já esgotado EP de estreia: Robot'N'Roll, Ici In Disneyland e Euro 2.0.0.4. Garante-se prazer pop viciante.

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Madonna: o alinhamento

Aqui está o alinhamento de Confessions On A Dance Floor, a editar a 14 de Novembro:

1. Hung Up
2. Get Together
3. Sorry
4. Future Lovers
5. I Love New York
6. Let It Will Be
7. Forbidden Love
8. Jump
9. How High
10. Isaac
11. Push
12. Like It Or Not

O álbum será precedido pelo single Hung Up, com estreia assegurada em ringtones e só depois, a 17 de Outubro, em CD single.

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Live 8 em DVD

Apesar de muitos dos desígnios sociais e políticos do Live 8 terem ficado mais pelo plano das intenções que na agenda das concretizações, a jornada musical é digna de registo. Um DVD (quádruplo) assegurará essa memória a partir de dia 7 de Novembro (edição nacional EMI). No alinhament0 encontram-se, entre outros, registos dos U2 com Paul McCartney, U2 sem Paul McCartney, Coldplay com Richard Ashcroft, Elton John com Pete Doherty, R.E.M., Duran Duran, Muse, Kaiser Chiefs, Annie Lennox, Madonna, Brian Wilson, The Killers, Scissor Sisters, Roxy Music, Placebo, The Who, Paul McCartney sem U2, Björk e os reunidos Pink Floyd. Alinhamento completo no site criado para a promoção do DVD do Live 8

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DN:música, 23 Setembro

Hoje, no suplemento DN:música do Diário de Notícias:

Nine Horses. Entrevista com David Sylvian sobre o novo grupo que formou com Burnt Friedman e Steve Jansen e crítica a Snow Borne Sorrow. N.G.
Melo D. Entrevista e crítica a Chega de Saudade. M.L.
Durutti Column. A história de Amigos em Portugal, agora reeditado. E crítica ao disco. N.G.
Kayne West. Crítica a Late Registration. D.P.
Bob Dylan. Crítica ao Bootleg Series: Vol7, com sub-título No Directions Home (banda sonora do documentário de Martin Scorsese). M.L.
Flanger. Entrevista e crítica a Spirituals. I.S.
Philip Glass. Apresentação da sua editora, a Orange Mountain Music, com uma série de novas edições. Crítica a Orion e Glass Cuts. N.G.
Discos: Stars (destaque), John Cale (destaque), August Born, The Moaners, Levy, Broken Spindles, Simple Minds, Hard Fi, Medications
DVD: Deep Purple, Snow Patrol, Violent Femmes
Disco histórico: Television, Marquee Moon (1977). M.L.
Sons. J.V.H.
Onde Andam?: Visage

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quinta-feira, setembro 22, 2005

A nova banda de David Sylvian

O projecto Nine Horses, que reune David Sylvian, Burnt Friedman e Steve Jansen, edita na próxima semana o seu álbum de estreia Snow Borne Sorrow. É um disco de regresso de David Sylvian à canção "clássica", numa síntese de pistas colhidas entre os álbuns Brilliant Trees (1984), Secrets Of The Beehive (1987) e Dead Bees On A Cake (1998), juntando-lhe o requinte cenográfico de Friedman, pontual travo jazzy, electrónicas a dada altura e alguma intensidade rítmica em uma ou outra faixa. Nas palavras, uma cortante visão crítica da América do pós-11 de Setembro. Um dos mais belos discos do ano! David Sylvian apresenta o projecto e o disco em entrevista ao suplemento DN:música (Diário de Notícias), a publicar amanhã. O disco é lançado pela editora de Sylvian, a Samadhi Sounds, e tem edição portuguesa garantida pela Última.

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RETRO: Brando 'opus 1'

É verdade que Marlon Brando (1924-2004) "nasceu" para o cinema em 1951, através de Um Eléctrico Chamado Desejo, sob a direcção de Elia Kazan — era a passagem, do teatro para o cinema, de um novo e revolucionário modelo de representação, enraizado na prática do Actors Studio. De qualquer modo, Brando estreara-se frente às câmaras um ano antes, em The Men/O Desesperado, sob a direcção de Fred Zinnemann — é precisamente esse filme que passa este fim de semana na Cinemateca.
Estamos perante um invulgar drama de guerra, centrado na história de um ex-soldado (Brando), paraplégico, que tenta a sua reintegração social com a ajuda da noiva (a discretamente luminosa Teresa Wright). Filmado num tom ambíguo, que sugere alguns efeitos "documentais", The Men é uma preciosidade esquecida, com música de Dimitri Tiomkin e fotografia (preto e branco) de Robert De Grasse.
* Cinemateca: sábado, 24 Setembro, 21h30
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Agenda de concertos

Um guia de sugestões Sound + Vision para os próximos tempos em palcos portugueses. Em diversos comprimentos de onda, muitos motivos para não ficar em casa:

SETEMBRO
Smog.
Dia 26, Clube Lua (Lisboa)
Ana da Silva. Dia 29 de Setembro, ZDB (Lisboa)
Flanger. Dia 29, Lux (Lisboa) e dia 30, Casa da Música (Porto)
Festival Para Gente Sentada. Dia 30, Cine Teatro António Lamoso (Santa Maria da Feira). Concertos de Woven Hand, Damien Jurado e Old Jerusalem

OUTUBRO
Festival Para Gente Sentada. Dia 1, Cine Teatro António Lamoso (Santa Maria da Feira). Concertos de Patrick Wolf, Sondre Lerche e Josephine Foster.
Imago Film Fest. Dias 1 a 8 no Fundão. Destaque para os concertos de Erlend Oye (DJ set, dia 1), Old Jerusalem (dia 1), Kubik (dia 1), Norton (dia 4), Kid Koala (dia 8).
Festival Cosmopolis. Dias 1 a 8 em Lisboa. Destaques para os concertos de Bumcello (dia 1, Fórum Lisboa), Icarus e We Shall Say Only The Leaves (dia 4, ZDB), The Gift, Télepopmuzik e Plaza (dia 8 no Instituto Superior de Agronomia)
John Cale. Dia 5, CCB (Lisboa)
Françoiz Breut. Dia 13, Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra). Bastien Lallement na primeira parte.
Animal Collective. Dias 18 (TAGV, Coimbra), 19 (Casa da Música, Porto) e 20 (a bordo de um cacilheiro, no Tejo).
Mark Eitzel. Dia 19, em local a anunciar
Uri Caine. Dia 28, Culturgest (Lisboa), 29 Cine Teatro Aveirense (Aveiro), 30 Casa das Artes (Famalicão)
John Zorn. Dia 30, Casa da Música (Porto)
Antony And The Johnsons. Dia 31, Coliseu dos Recreios (Lisboa)

NOVEMBRO
Final Fantasy. Dia 3, ZDB (Lisboa)
Seu Jorge. Dia 3, Aula Magna (Lisboa)
Young Gods. Dias 4, Hard Club (VN Gaia) e 6, Aula Magna (Lisboa)
Devendra Banhart. Dia 12, Aula Magna (Lisboa)
Sigur Rós. Dia 20, Coliseu dos Recreios (Lisboa)
Mercury Rev. Dia 22, CCB (Lisboa)
Coldplay. Dia 23, Pavilhão Atlântico (Liaboa). Goldfrapp na primeira parte.

DEZEMBRO
dEUS. Dias 4 e 5, Aula Magna (Lisboa) e dia 6 na Casa da Música (Porto)
Yann Tiersen. Dia 20, CCB (Lisboa) e 21 na Casa das Artes (Famalicão)

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John Peel homenageado em CD

No próximo dia 17 é editado um CD de homenagem ao radialista John Peel, o António Sérgio dos ingleses... O disco recupera alguns dos nomes com quem Peel trabalhou, entre os quais os T-Rex, Pink Floyd, Doors, Jimi Hendrix, David Bowie, Blur, Ramones, Clash, Joy Division, New Order, Pulp, PJ Harvey, Belle & Sebastian ou Orbital. O disco será lançado pela Warner (edição nacional ainda não prevista). A 13 de Outubro a BBC celebra também a memória do seu mais célebre DJ, através de uma série de programas e concertos (estes em número de 300, por todo o mundo fora).
John Peel teve um programa em Portugal, durante o primeiro ano de vida da XFM. Uma hora semanal, gravada expressamente no seu estúdio caseiro, para a rádio para uma imensa minoria, que nos abriu apetites para novas músicas boas histórias. Conheci-o precisamente quando, em conjunto com o António Sérgio, fui a Manchester em 1993 para estabelecer contactos para a XFM. Peel aceitou o desafio da pequena nova rádio portuguesa e deu-nos uma entrevista, então publicada no Blitz e mais tarde emitida na X. Conversador, afável, sempre com uma história de um disco atrás de outra, foi bom parceiro para uma tarde de conversa. Foi também único, ver o momento em que se encontraram e conheceram, Peel e o Sérgio! Dois mestres numa mesma sala de hotel. Com o aprendiz, ali ao lado, a ver...

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